Angélica havia se trancado em seu quarto. Em seus lábios ainda podia sentir o leve roçar dos lábios daquela garota e toda a sensação boa que sentiu com aquele contato, com aquele momento.
Ela queria poder dizer algo, mas não conseguia nem esboçar um leve sussurro. Estava assustada, confusa... nunca se atraíra por mulheres antes. Não tinha preconceitos, ao contrário, sempre teve muito respeito e mente aberta para lidar com as diferenças, mas, aquilo era demais.
Clara era uma adolescente de 17 anos, filha da sua melhor amiga, aquela que esteve com ela quando mais precisava, que sempre lhe apoiou e que deixou sua filha ali suplicando para ela a ajudar... Ela era responsável por cuidar da garota, tinha quase 40 anos, uma mácula enorme de seu passado... não! Aquilo não estava certo, mesmo que ela tentasse olhar de vários ângulos.
Ela estava mergulhando naquela sensação boa à beira do riacho, mas, quando se deu conta da merda que estava fazendo, afastou-se apressadamente e se levantou, saindo correndo para dentro de casa e seu quarto. Nem mesmo a voz de Clara a chamando a fez retroceder. Ela precisava fugir daquilo, daquela loucura.
Ouviu passos do lado de fora, vindo em direção a porta de seu quarto, o que a fez olhá-la espantada. Logo viu a maçaneta mexer e a voz de Clara ecoar do lado de fora.
– Angel?! – Chamou-a pelo seu apelido fazendo com que seu coração ficasse acelerado. – Por favor... abre a porta, vamos conversar! – A menina voltou a falar, pedir.
– Por favor, Clara... me deixa sozinha. – Angélica, reunindo coragem, implorou.
– Não, Angélica... a gente precisa conversar e você sabe disso. – Clara retrucou, fazendo a mulher se levantar, suspirar pesadamente e passar as mãos pelos cabelos.
– Ana Clara... as coisas não são tão simples assim... por favor, me deixa aqui sozinha um pouco e vamos esquecer isso... – Tentou falar, mas foi logo cortada.
– NÃO! – A garota gritou. – Eu não vou sair daqui antes da gente conversar... e você pode dizer o que for, sabe que não vai poder me ignorar por tanto tempo. – Retrucou.
Clara estava do lado de fora, segurando a maçaneta e com o rosto colado na madeira fria. Seu coração estava batendo com força e suas pernas estavam bambas. Ela nunca sentiu aquilo antes, era uma euforia, uma dolorosa sensação de felicidade que crescia dentro dela. Ela estava determinada, Angel poderia dizer o que quer que fosse, mas ela não arredaria o pé daquele lugar enquanto elas duas não se falassem. Ambas mereciam isso.
– Por favor, Angel... – Sussurrou tocando a porta com sua outra mão. – Não foge agora... vamos conversar! – Pediu.
Após dizer isso, um silêncio envolveu as duas. Suas dúvidas, seus medos estavam latentes... era como se, de alguma forma, elas tivessem se encontrado e, ao mesmo tempo, se perdido.
Clara ficou em silêncio, cerrando os olhos, triste por se imaginar rejeitada, mas, logo ouviu passos se aproximando da porta.
– Isso tá errado, Clara... – Angélica falou em um sussurro. Dessa vez ela estava encostada na madeira também, a única coisa que separava as duas.
– Quem pode dizer o que está certo ou não, Angel? – A garota retrucou, com a voz embargada. – Só a gente pode dizer isso... só a gente.
– Eu tenho quase 40 anos, Clara... sua mãe confiou você a mim, para que eu cuidasse de você e não... – Engoliu em seco. – Não que eu e você... – Calou-se, hesitante.
– Que a gente ficasse junto?! – Clara falou cerrando os punhos com força, os pressionando contra a porta. – Você sabe que não é simples assim, Angel... a gente não pode fugir do que a gente sente... a gente não pode fingir que isso não está acontecendo. – Argumentou.
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O Sol Sempre Brilha (Romance Lésbico)
RomanceEm um pequeno povoado no interior de Minas Gerais vive Angélica... uma mulher assombrada por uma tragédia no seu passado e que se afundou na vida reclusa para expurgar seu sentimento de culpa. Vivendo calmamente, como uma pequena produtora, solícit...