Capítulo 2

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Sara

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Sara

⸺ Troco cem euros por cinquenta reais, pegar ou largar. ⸺ Diz Júnior, filho do dono do mercado onde eu trabalhava.

⸺ Junior, um euro é quase cinco reais. ⸺ Balança os ombros demonstrando que não tá nem aí.

Maldito infeliz!

⸺ Você que sabe. Essa é a minha oferta. ⸺ Fuzilo ele com meu olhar, não temos tempo, estamos sem comida e precisamos ir embora hoje.

⸺ Tudo bem, mas vou levar algumas coisas do mercado. ⸺ Ele puxa as notas de reais do bolso.

⸺ Só tenho quinhentos reais agora. ⸺ Puxo do meu bolso dinheiro amassadas e entrego a ele. ⸺ Quando tiver mais pode trazer que troco pra você. ⸺ Pego os quinhentos reais com raiva das mãos dele.

Maldito aproveitador.

⸺ Me consiga dez mil, para próxima semana, eu venho buscar. ⸺ Ele sorri todo contente. Passo por ele empurrando seu ombro.

⸺ Estarei te esperando, gatinha. ⸺ Diz com malícia.

Entro no mercado, pego uma cestinha e vou passando pelos corredores, pegando algumas frutas, pacotes de bolacha, água mineral, fraldas e apanho uma garrafa pequena de vodka. Olho para ela por alguns segundos, aperto-a em minha mão, fecho meus olhos, por fim coloco dentro da cestinha junto com tudo.

Vou até o caixa pego uma sacola de plástico, coloco tudo dentro e sigo para casa.

⸺ Só consegui quinhentos reais, o miserável me roubou. ⸺ Conto a Vivi assim que entro em casa. Está tudo limpo e organizado.

⸺ Tudo bem, dá pra gente chegar na casa de Luciana. ⸺ Estendo o pacote de fralda, ela tira as roupas surradas que consegui comprar pra Lorenzo e troca. ⸺ Precisamos ir agora.

⸺ Então vamos. ⸺ Pego uma mochila de costas e jogo tudo dentro, ambas só estamos levando uma muda de roupas, a maior parte é de Lorenzo.

⸺ O que é isso na bolsa? ⸺ Aponta a garrafa de vodka. ⸺ Sarinha...

⸺ Preciso disso Vivi. ⸺ Coloco dentro da bolsa.

⸺ Não precisa. ⸺ Ignoro, coloco a bolsa nas costas e apanho a mala com os euros.

⸺ Vamos. ⸺ Encaro o chão, ela estala a língua a boca e pega Lorenzo. Sai na frente.

Fico parada no meio da sala ao menos um instante, não consigo olhar ao redor, tudo aqui era dos meus avós, tudo me lembra eles, cada cantinho me traz lembranças maravilhosas.

Pego a chave sobre a mesa da cozinha e fecho a porta, não consigo mais chorar, tudo está negro dentro de mim agora. Coloco a chave no bolso e caminho com Vivi, o sol está fraco, ainda é cedo. Pegaremos um ônibus para capital e da rodoviária um outro ônibus para casa de Luciana.

Vivi está vestindo um jeans preto surrado e um casaco com capuz, óculos de sol grande, para esconder seu rosto. Eu não precisei esconder meu rosto. Ela tem medo de ser reconhecida, mesmo tendo algum tempo após todo ocorrido.

Dentro do ônibus ela amamenta Lorenzo e ele logo dorme, precisamos reversar durante a viagem de cinco horas, ele é grande e muito pesado, mesmo agora com seis meses e com os dentes já nascendo ele mama muito e come de tudo, Vivi está com o corpo bem definido e a pele bonita.

⸺ Quando vai me contar o que aconteceu? ⸺ Pergunto após algumas horas de viagem em total silêncio.

⸺ Não quero falar sobre isso agora. ⸺ Está bastante chateada, mal tem dormido desde que chegou, acho que ela está chegando ao ponto da tristeza ou saudades do marido.

⸺ Ele não vai parar.

⸺ Sei disso. ⸺ Pega uma garrafa de água e bebe alguns goles. ⸺ Não se preocupe, até ele me encontrar, se encontrar, a raiva já vai ter passado. ⸺ Encara os anéis no anelar. ⸺ Não vou permitir que você continue se machucando Sarinha. ⸺ Olha para meu braço um pouco descoberto, puxo rápido a manga do casaco.

⸺ Você não entende...

⸺ Entendo perfeitamente, vamos procurar ajuda. Beber até cair, fazer isso... ⸺ Aponta meu braço agora coberto. ⸺ não vai adiantar, são só meios para o mesmo fim, não quero que você continue destruindo sua vida.

⸺ Vivi... ⸺ Desvio meus olhos dos dela, totalmente desconfortável com o rumo da conversa.

⸺ Eu preciso de você Sarinha, preciso que fique bem. ⸺ Segura a minha mão, sinto as lágrimas escapando dos meus olhos. ⸺ Eu também não tinha ninguém e você cuidou de mim.

⸺ Faria tudo de novo.

⸺ Sei que faria, então me deixe cuidar de você agora. ⸺ Me puxa para um braço. ⸺ Não tenho nem como imaginar a dor que você sente aí dentro, mas vamos conseguir, você tem a mim, pra sempre.

Tento conter meu soluço alto, mesmo tendo a mesma idade, ela é tão centrada e confiante. Beija meus cabelos e desliza a mão pelo meu braço.

⸺ Obrigada Vivi, eu vou tentar, juro. ⸺ Prometo, mesmo sabendo o quanto é difícil.

⸺ Agora pare de chorar, sua vez de segurar esse bolo de carne. ⸺ Sorrimos, pego Lorenzo com jeito para que não acorde.

Ao chegar na capital nós já estávamos tão cansadas que queríamos ficar sentadas mais um pouco, mas seguimos até o terminal de ônibus urbano. Lorenzo é pesado demais, não sei como Vivi aguenta, já estou sem fôlego. Subimos no ônibus e ela fica atenta a todos a sua volta.

A pistola está escondida dentro da sua calça, na parte da frente, não acho que alguém possa reconhecê-la facilmente, faz tanto tempo, mas ela é bem cuidadosa.

Descemos no ponto de ônibus e seguimos a pé, ela olha tudo na rua, baixa a cabeça sempre que alguém cruza nosso caminho. Ainda tem a chave do apartamento, abre a grade e subimos os três lances de escada.

⸺ A puta deve estar dormindo a essa hora. ⸺ Diz em frente à porta do apartamento. ⸺ Você acredita que o apartamento está no nome do meu pai? Ela mentiu quando disse que era dela. ⸺ Abre a porta e entramos.

Se lá em casa tava uma bagunça, aqui é uma definição de lixão. Está muito sujo e fede. Puxa a pistola da calça.

⸺ O que vai fazer?

⸺ Fique aqui com o Lorenzo, fecha a porta. ⸺ Obedeço, ela segue até os quartos, afasto alguns pacotes do chão. Lorenzo já está acordado e observa tudo.

⸺ Não dá pra colocar você no chão aqui, tá pior que a minha casa. ⸺ Ele ri, tem dois dentinhos embaixo.

⸺ Me solta! ⸺ Vivi sai do quarto empurrando Luciana.

⸺ Cale a boca. ⸺ Aponta a arma para cabeça da outra. ⸺ Que merda você faz, que não arruma esse lixo que você chama de casa? ⸺ Empurra Luciana, ela cai no chão sujo. Levanta o rosto e me vê.

⸺ Você realmente teve um caso com o bandido, e ainda por cima teve um bastardo com ele. ⸺ Fico em choque quando Vivi atira na outra, que cai dura no chão. O barulho da arma não parece assustar Lorenzo, ele continua fazendo barulhos com a boca, enquanto eu estou tremendo sem parar.

⸺ Que delícia, não imaginava que seria tão bom. ⸺ Empurra o corpo com o pé e verifica o pulso, claro que ela tá morta, o tiro foi na maldita cabeça. ⸺ Droga! Eu devia ter me contido, ela merecia um pouco de sofrimento.

⸺ Meu Deus... Vivi...

⸺ E agora Sarinha? Como faremos para sumir com o corpo? ⸺ Engulo em seco, ela passa por cima do corpo e pega Lorenzo. ⸺ Será que desmembrar ajuda no transporte? Sim, acho que vai ser melhor. ⸺ Está falando consigo mesma. ⸺ Acho que não podemos mais ficar aqui. ⸺ Olha pra mim e sorri.

Definitivamente uma psicopata.

[DEGUSTAÇÃO] Um Italiano Pra Chamar de Meu (Spin-off Perigo)Onde histórias criam vida. Descubra agora