CAPÍTULO 15-CARMEM E BRUNO SE CONHECEM

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Doador e receptora não conseguiram dormir na véspera do encontro.

Bruno remexeu-se na cama nas longas horas insones. A imagem de Elisson não saía da sua cabeça e ele não sabia o que aquilo significava. Chegou a cochilar e a sonhar com ele sem aquele bigode horrível...com roupas caras...mais jovem...os dois conversando e rindo como se fossem velhos amigos...

O lavador de pratos tinha a impressão de que o que Elisson queria lhe contar era algo que talvez mudasse completamente a imagem que Bruno tinha em relação a ele. Já sabia que provavelmente há muito pouco tempo aquele homem havia se tornado um morador de rua, porque havia algo diferente em relação a ele e aos outros moradores de rua que Bruno conhecia.

Bruno reconheceu que aos poucos ia perdendo o medo que sentia dele e que no episódio nos fundos do bar, quando foram buscar o botijão de gás, ele estava mais apreensivo em termos do outro lhe abordar sexualmente do que do outro vir a agredi-lo fisicamente.

Elisson lhe passara uma segurança de irmão mais velho, quando Bruno conseguiu, pela primeira vez na vida, admitir que se sentia culpado por saber que a mãe abandonara a casa por causa dele...por causa da sexualidade dele...por ele ser um homossexual. Nunca contara aquilo pra ninguém...talvez falara algo pra irmã Carolina, mas com ela  era quase uma confissão pra um padre, afinal. 

Bruno chegou a sentir um desejo insano daquele homem levar adiante aquela mão que lhe tocara o rosto, no quartinho nos fundos do bar, e estranhou como é que um morador de rua estava com um perfume tão bom de sabonete caro e banho recém-tomado.

O lavador de pratos só foi dormir poucas horas antes do dia clarear e ainda assim teve um sonho onde ele e Elisson brincavam, os dois bem jovens, quase crianças, jogando travesseiros um no outro. O sentimento que os invadia naquele momento não trazia nenhum cunho sexual, mas sim uma relação gostosa de parceria e cumplicidade. Ao final do sonho, infelizmente, Elisson virava-se pra ele com uma vela acesa bem pequena, mas que ao longo do tempo ia aumentando até se tornar uma tocha enorme que tinha a sua chama impulsionada por um vento inesperado que a jogava em direção a Bruno!

O rapaz acordou assustado e ofegante! Não conseguiu mais dormir, pois tinha pavor de fogo!

Como ainda faltava mais de uma hora para ir trabalhar, decidiu passar roupas a fim de adiantar o serviço para aquele dia. Felizmente, o senhor Washington o liberaria depois do almoço para que ele fosse em casa buscar Aline para fazer o seu primeiro ultra-som. 

Carmem também não conseguiu conciliar o sono naquela noite.

A mãe de Elisson remexeu-se na cama e teve medo de  acordar a filha que dormia ao seu lado, protetora como sempre.

Carmem levantou-se sem fazer barulho e saiu sem acender a luz. Não queria acordar Vera que devia estar cansada, afinal cuidava da mãe o dia todo sem descanso.

A filha de Carmem admitia que podia ter uma noção de como se pareceria  quando chegasse à idade da mãe. As duas eram parecidíssimas e mesmo sendo atingida por aquele estado de saúde tão sofrido e  delicado, Carmem ainda era uma mulher muito bonita aos  70 anos.

Fora ideia dos filhos que ela fizesse uma operação plástica para minimizar os efeitos que o fogo tivera em sua pele quando sofrera aquele acidente terrível que lhe roubara o filho Túlio tão jovem. Mas Carmem se recusou. Disse que o menor problema de sua vida seria a sua aparência, pois não adiantava enfeitar por fora o que por dentro estava destruído. Por isso, as cicatrizes nas costas que lhe haviam danificado os rins ainda eram bem visíveis!

Os meses de depressão só foram interrompidos por Carmem porque ela  percebeu que o filho mais velho a acompanharia, caso ela viesse a desistir da vida. Ela percebeu que seria morrer e arrastar Elisson com ela, deixando Vera completamente sozinha!

COINCIDÊNCIAS NÃO EXISTEM!-Armando Scoth Lee-romance espírita gayOnde histórias criam vida. Descubra agora