Capítulo 5 - Taradices

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George acordou com a cabeça e o corpo pesados, reação típica de uma ressaca. A princípio, sua visão estava um pouco embaçada, mas aos poucos ela foi normalizando, assim como os seus sentidos foram vindo à tona novamente...

A luz forte da manhã invadia o quarto pela janelinha logo acima de George.

"Ai, mas que dor de cabeça...", pensou ele, levando a mão ao crânio. "O que será que aconteceu ontem à noite?", tentava ele se lembrar, como todos os bêbados tentam, sem sucesso. "Onde estou?", ele olhou para frente, para a parede à sua esquerda, pois estava deitado de bruços com a cabeça virada para o mesmo lado. Não reconheceu o local. "E... Que travesseiro esquisito é esse?...".

George levantou um pouco o pescoço e olhou para baixo, para o seu travesseiro, enquanto fungava. Quando, porém, seu olhos focalizaram, a centímetros dele, aqueles...

...

Kile sentiu alguma coisa em cima de si se mexer um pouco. Primeiramente, pensou ser um sonho. Depois, porém, incomodado à medida que ia dando conta de um peso sobre seu corpo, virou a cabeça e abriu os olhos, quase morrendo de susto quando...

– AHHHHH!!! – George e Kile gritaram espantados, pulando os dois automaticamente para fora da cama.

Sim, George estava deitado em cima de Kile. Como? Bem, eles jamais descobrirão ao certo, mas eu já adianto que George é sonâmbulo, e Kile estava tão cansado que o chão poderia não ter suprido as expectativas de seu corpo para um bom descanso. Então, sendo assim...

– MAS QUE PERVERSÃO É ESSA?! – A voz de George saiu esganiçada e apavorada.

– Quê?! Eu é que pergunto! – Exclamou Kile, os mesmos olhos arregalados que George.

George olhou para baixo e percebeu pela primeira vez que estava sem camisa. Os olhos se arregalaram ainda mais quando percebeu que Kile também dormia sem ela, enrolado da cintura para baixo em um lençol.

– QUEM É VOCÊ?! O que aconteceu ontem à noite, exatamente?! Trate de me explicar! – George estava com muito, muito medo da resposta.

– Meu nome é Kile Lovewood, e sou cavaleiro do rei. Você estava bêbado ontem à noite e eu te encontrei por um fio... Aí trouxe você pra cá e...

– AAHHH! SEU TARADO! SAI DE MIM! – Gritou George.

– O quê?!

– "O quê" digo eu! O que você fez comigo noite passada seu pedófilo?!

– Hã?!

– Diz logo, você me trouxe pra cá, e o quê?! Você se aproveitou da minha embriaguez, seu CRETINO!

– Não, mas...

– Mas o quê?! Passou pela sua cabeça que eu poderia não corresponder às suas preferências, cara?! Você, você...! SEU TARADO! VOCÊ VAI SE ARREPENDER! – George pulou em cima de Kile, segurando seu pescoço com as mãos.

Kile, sufocando, conseguiu tirar forças para dar um soco no rosto de George, que se afastou, segurando o nariz.

– Ai!

– EI, SERÁ QUE DÁ PRA ME OUVIR AGORA?! EU NÃO FIZ NADA! NEM VOCÊ FEZ!

– Como assim?!

– Ontem à noite você ia ser morto por um taverneiro, porque você, o verdadeiro senhor tarado, dormiu com a esposa dele, aparentemente. Eu salvei sua vida, impedindo que ele te matasse. Daí fiquei com dó e te trouxe pra cá! E, como não havia dois quartos de solteiro separados, aluguei um por uma noite. Deixei você na cama, e dormi no chão... Como fui parar na cama... Isso eu não sei, mas eu garanto que não aconteceu nadinha!

George virou de costas lentamente, o olhar como o de uma criança amuada. Depois, ainda segurando o nariz, falou:

– Mas isso não explica o fato de eu ter acordado em cima de você!

Você acorda em cima de mim, e eu é que sou tarado?!

– Tá... MAS NADA EXPLICA O FATO DE EU ESTAR SEM CAMISA E VOCÊ ESTAR PELADO! – Voltou a berrar George.

– Seu ignorante! Estar pelado é estar sem pelo algum! Você quer dizer que estou nu! – Kile ensinou, impaciente, a diferença.

– AH!!! TANTO FAZ!!! E o que isso tem a ver com...? AH, NÃO ME AMOLA, NÃO MUDA DE ASSUNTO?! – George tinha o olhar tão esbugalhado que seus olhos pareciam querer saltar das órbitas.

– Mas eu não estou pelado! – Replicou Kile.

– É NU!!! – Gritou George nervoso.

– NOSSA, VOCÊ PRECISA DE UM TRATAMENTO! Eu não estou nu!

– Ah, não, né, e eu sou uma mulherzinha!

– Tá parecendo! E ainda por cima é preconceituoso.

– CALADO! Não sou preconceituoso, só estou assustado! Agora me diga por que, se você não está nu, este lençol está envolvendo seus... hã... seu...

Kile, que já estava de pé, começou a desenrolar o lençol de seu corpo.

– NÃO, CARA! EU NÃO QUERO VER E... – George virou o rosto.

– Olha logo!

– SEU TARADO PERVERTIDO!

– OLHA LOGO!

A voz de Kile saiu tão autoritária, que George virou o rosto, revelando olhos fechados que a contragosto foram se abrindo, esperando encontrar...

Mas o que encontrou foram apenas calças.

– Ah... – George coçou a cabeça e começou a roer as unhas, envergonhado. – Foi mal, cara e...

– Dá pra parar de me chamar de cara? Meu nome é Kile.

– Tá, er... Desculpa, Kile, eu...

– Acho que é um grandessíssimo mal agradecido! – retrucou, irritado, Kile. – Eu te salvei, e você tenta me matar logo pela manhã... Não se preocupe... – disse Kile, vestindo sua camisa da farda, George percebendo o estandarte do reino bordado na mesma. – Já deixei sua refeição paga. A hora em que quiser comer faça-o, mas depois tem de ir embora. Só paguei a hospedagem por uma noite.

– Então você é mesmo cavaleiro do rei...

– Não, eu sou uma fada! Eu encanto os homens indefesos...

– Tá, já pedi desculpas!

– Desculpas aceitas, agora, adeus. – E, dizendo isso, Kile deixou, já vestido, o aposento.

George ainda ficou um bom tempo olhando para a porta, embasbacado com a situação. 

O Cavaleiro e a PrincesaWhere stories live. Discover now