Chase Elm era professora de biocronologia e era uma das melhores especialistas no estado sobre datação de fósseis e sobre o processo de fossilização em si. Ela entendia bem, como o corpo, unido com o solo, poderia se transformar naquilo que as pessoas admiravam nos museus. Ela começou ali também, na terra, se sujando, mas, aos 29 anos conseguiu uma vaga com professora e nunca mais voltou atrás. Agora, com seus 40 e poucos, sua vida na poeira tinha sido trocada por jantares educacionais e horas de aula em salões lotados.O laboratório era um hobby, um que ela praticava quando tinha que ensinar aos alunos ou datar alguma coisa tão frágil que ninguém confiaria em outra pessoa se não ela. Ela via um pouco de si no histório de August - Chase era do Alabama, nasceu em uma cidade de cultivo de amendoim e não era exatamente refinada. Aquela aparência era uma camada que escondia uma menina que tinha crescido caminhando no meio dos campos de plantio e na terra com outros quatro irmãos e pais que mal sabiam ler.
Ela bateu na porta do trailer e esperou uma resposta.
- Tru, eu juro por Deus! - Uma voz gritou de dentro do trailer, bem feminina e irritada, o que fez Chase sorrir. - Se você bateu na porra da minha porta para falar de gente engomadinha e....
E então, a porta abriu. A mulher, por sinal, linda, ficou vermelha como um pimentão. Obviamente, pensou Chase, ela foi pega de surpresa. August, pensou ela, estava coberta de poeira e tinha os cabelos sujos e loiros caindo pelos ombros por cima de um rosto angelical e redondo.
- Gente engomadinha. - Chase repetiu, sorrindo enquanto a menina corava cada vez mais. - Alguém que eu conheço?
Merda, pensou August. Ela tinha começado com o pé esquerdo.
- Desculpe. - Ela falou depressa. - Eu não estava esperando...
- Professora Chase Elm. - A mulher esticou a mão.
Nervosa, August deu-lhe a mão, e sentiu a mão limpa demais de Chase na sua, apertando com firmeza.
- Eu estou toda suja, me desculpe.
- Não tem problema, você está em um sítio de escavação, se estivesse limpa eu estaria preocupada com o dinheiro do departamento. Posso entrar?
- Cl...cla...claro... - August abriu mais a porta do trailer, dando espaço para a mulher entrar ali.
O trailer era pequeno, pensou Chase. Uma mini cozinha, com uma banco na frente e uma mesinha com um computador ligado. Um quarto nos fundos, que tinha só uma casa de casal, alguns armários aéreos e uma portinha, que ela sabia, devia ter um chuveiro, um vaso e uma mini-pia - e aquela era vida dos escavadores, pela maior parte do ano. O lugar não estava limpo, pensou Chase, tinha alguns latas de cerveja sob a bancada, livros e papéis com anotações, e era claro, August se deu conta da bagunça.
- Então... senhorita Harris.
- August. - Ela interrompeu, vendo Chase cruzar os braços no peito. - Gus.
- August... - Ela repetiu, tentando ser formal ainda, e seus olhos corriam pelo trailer de maneira involuntária. - Vamos dividir um sítio por alguns meses...
- É o que parece. - A menina franziu a testa, vendo que mulher avaliava sua casa sob rodas. - Você não é a mulher que data os fósseis e tals que saiu naquele livrinho do....
- Sim, sou eu. - Chase olhou para August nos olhos e ainda podia ver constrangimento.
- Você é boa no que faz, ouvi dizer. - Elogiou.
- Eu ouvi dizer que você é mais do que boa no que faz. - Chase devolveu o elogio. - Eu sei como se sente...
- Sabe? - Sentiu-se ofendida.
