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August parecia confusa, pensou Chase penteando os cabelos dela, sentada na cama, atrás da menina que estava só de toalha enrolada no corpo.

- Não precisa ficar envergonhada. - Chase falou com suavidade.

- Ninguém nunca tinha me tocado assim. - Confessou a menina. - Eu me senti... eu não sei, vulnerável.

- Está tudo bem. Agora já passou. - Prometeu, continuando a escovar os cabelos dela. - Eu preciso tocar e ver... mas não precisa ficar assim...

- Vai ver? - August olhou para trás, com o rosto marcado ainda do choro de antes.

- Vou. - Chase falou, parando de escovar a menina e olhando-a no rosto. - É uma das minhas obrigações. Ver se está bem. Não precisa se preocupar com isso, como você disse, fazendo sexo, é lógico que eu vou ver tudo.

- É diferente. Isso foi diferente. - Decidiu. - Eu me senti uma garotinha.

A mulher sorriu. Amplamente. Ela amava ver os resultados psicológicos.

- Porque agora você é. Minha garotinha. - Brincou ela. - Vou te dar uma camisola.

August queria protestar. Queria falar algo mas não conseguiu. Sem saber porque, ela começou a chorar de novo. Ela se sentia tão idiota por estar chorando.

A mulher mais velha ficou sinceramente surpresa. August parecia estar precisando tanto daquilo que seu controle emocional estava indo pro saco com o menor esforço. Chase estava segura, sabia que podia amparar a queda dela, mas também sabia que a queda trazia insegurança, medos e novidades. Se entregar, realmente se entregar, era algo puro e vivo e cheio de sentimentos, e as vezes, esses sentimentos doíam.

Caminhou de volta pra cama e sentou-se em silêncio e puxou August pelo braço, inclinando-a para si, pois a queria no peito. Queria amparar o choro. August tentou se desvencilhar mas Chase foi firme.

- Não seja cabeça dura. Vem.

August não parecia o tipo acostumada com carinho. Caiu dura no peito de Chase e seus braços não enrolaram a nova pessoa ali.

- Eu vou ficar bem. Não preciso de colo. - August afirmou tentando limpar o rosto.

- Eu digo que precisa.

- Eu sou problema. - Comentou com a voz pesada. - Você não precisa disso.

- Por quê diz isso? Você não é problema, Gus. Seu gênio pode ser um tanto forte mas...

- Não. Eu realmente sou problema. - August se afastou do peito de Chase, olhando-a nos olhos.

- Ok. Quer me contar? - Ficou interessada.

- Deus, não. - August riu nervosa. - Não.

- Se comentou é porque é algo que eu deva saber. - Chase falou com a voz suave. - O que é?

- Parece pior agora que você manda em mim, teoricamente. - A menina passou a mão nos cabelos. - Parece bem pior. É comigo. É pessoal. Não é nada que vai influenciar você ou....

- Bom, eu decido isso. - Sorriu de leve. - Você não se corta. Eu a vi nua e não tem uma cicatriz visível. Não acho que seja bebida, pois você ficou com a cabeça leve com duas cervejas. - Considerou.

- Não. Olha, eu tenho ajuda. Não é como se eu ignorasse o problema.

- Ajuda pra quê? August, se vamos fazer isso temos que ser sinceras uma com a outra. Quer ouvir um podre? Eu tomei remédios pra depressão quando terminei meu casamento. Ainda me sinto péssima muitas vezes. Preciso de ajuda muitas vezes e ok. Eu sou humana.

- Eu estou me tratando. Pra uma bulimia. - Confessou com a voz baixa. - Eu nem sei como desenvolvi isso... quando eu notei já...

- Entendi. - Chase começou a acompanhar. - E o que vem com as crises? Laxantes ou...

- Não. Deus, não. Eu odeio vomitar também. Tenho períodos que não consigo comer nada, por dias, e depois como um mundo até passar mal. Fisicamente e mentalmente.

- E tem uma psicóloga. E um médico com você. - Assuniu.

- Tenho. - Confessou. - Regularmente.

- Você comeu hoje? - Chase quis saber.

- Chase...

- Eu vou esquentar um leite pra nós em breve. - Interrompeu. - Eu odeio fazer isso... - E ela se inclinou para frente e colocou uma mão de leve no queixo de August. - Abra e coloque a língua pra fora.

August ficou vermelha.

- Eu não mentiria.

- Eu imagino que não mas também prefiro ter certeza.

- Chase...

- Vamos nos poupar de um escândalo e de mais constrangimento.

August suspirou, mas abriu a boca e deixou a mulher olhar ali dentro. Quando recebeu o aval de veracidade, ela foi recuando, e conseguiu espaço.

- Obrigada por me contar.

- É. - August deu de ombros. - Um pijama ia ser  bom.

Chase sorriu e levantou de novo, indo até o pequeno armario e jogando um blusão longo para August. Viu que ela rapidamente tirou a toalha do corpo e começou a calcular se ia se vestir. Ela era uma visão e tanto nua.

- Quer seu leite com chocolate?

- Sim. - August concordou. - Chase?

- Sim.

- Vamos dormir juntas? Hoje?

- Bom, você tomou um belo banho de chuva. E eu quero ficar de olho em você. Posso dormir no sofá se...

- Não. Quero que durma comigo.

- Claro. Vou esquentar aquele leite agora.

Chase esquentou o leite. E observou atentamente quando August o tomou, ficando com o rosto corado pelo calor produzido pelas calorias e o morno da bebida. Depois, ela dormiu. Nua.

E meu Deus, ela era uma visão. Assim, dormindo, com as defesas completamente arriadas, ela era diferente do que Chase tinha visto antes. Parecia frágil, calma e gentil - Tudo que ela não era quando estava acordada. E Chase tomou um belo tempo para avaliar isso.

August era sua, mas havia muito mais ali do que a simples posse - August precisava de moldes, de segurança, de carinho. Chase conhecia todo o processo, mas sempre era difícil. Ela imaginou mil coisas: tinha que examinar a menina, começar a disciplinar seus temperamentos agressivos, fazer ela obedecer... mas, vendo ela assim - indefesa - ela sentia só vontade de encher ela de beijos.

E Chase riu de si mesma.

- Quem vai dominar quem, hein? - Perguntou para si mesma, rindo para o corpo adormecido de August.

Era hora de se trocar também e descobrir como seu corpo caberia ao lado de August.

A guardiã dos ossosOnde histórias criam vida. Descubra agora