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August olhava a televisão gritando uma propaganda, ainda enrolada em um lençol enquanto olhava para Chase organizando uma mochila. Ela tinha citado algo sobre aquilo, mas August se sentiu deprimida ao notar que talvez fosse mesmo o dia em que Chase teria que resolver coisas na cidade. 

- Você vai ficar quanto tempo? - Quis saber August olhando por cima do lençol a mulher vestida com um pijama folgado demais. 

- Hum... pretendo ficar só um dia. Preciso organizar algumas coisas apenas, e avisar ao departamento que uma tal escavadora não quer trabalhar em prédios de mármore. - Sorriu para August toda bagunçada na cama, e Deus, era tentador. - O que foi?

- Nada... - Comentou mordendo os lábios. - Me dei conta de que isso é você... quer dizer, sua vida é na Universidade.

Chase notou a preocupação. Ora, ela mesma tinha pensado naquilo. Haveria o dia em que Chase voltaria para as salas de aula. 

- Tacoma não é exatamente o fim do mundo, Gus. 

- Eu nem sempre estou em Tacoma. - Suspirou August. 

Haveria um momento para aquela conversa, decidiu Chase, mas ele não era agora - e nem ela queria que fosse, não quando elas tinham tão pouco ainda na mesa. Naquele ponto... parecia fácil para August sair andando pela porta da frente, e não era o que Chase queria. 

- Você está em Tacoma agora. E é isso que importa.

Chase caminhou até a cama, e sentou-se nela. Passou a mão de leve pelo cobertor e sorriu para August. Sim, ela via muito ali... a confusão de tudo que estava acontecendo e o medo de ser deixada quando o momento chegasse. Aquele medo, aquela mistura de confusão... tudo aquilo parecia estar agitando demais o ambiente.

- Quer que eu fique? Posso não ir até a Universidade... atrasar alguns dias e...

- Atrasar uns dias não fará que você não precise ir... e eu sou bem grandinha, Chase. - Respondeu fria, se encostando de novo na cama. - Posso ficar bem sozinha, como sempre fiquei.

Seria aquilo... mágoa? Ou... birra? Aquele tom... aqueles olhos longe, fixados na televisão...

- Mas você não está mais sozinha, Gus. O que foi? Hum? 

- Nada. 

- August... - Chase abaixou a mão e pegou na mão dela.

- Eu disse que nada. Termine de arrumar sua bolsa. 

August puxou a mão de volta, firme. E agora Chase não sabia onde estava pisando. A menina tinha que ser uma montanha-russa? Meu Deus. 

- Se você não acha que...

- Eu não acho nada, Chase! - Falou agora mais séria, olhando com alguma mágoa nos olhos. - Eu sei. Eu sei que você está mexendo com a minha cabeça e agora.... está aí... vai voltar pra sua vida. E eu, eu fico aqui. Com a cabeça fodida. Depois de apanhar. Enquanto você vai pra cidade!

Chase não entendeu a demanda, mas ela sabia que a demanda nem sempre fazia sentido quando a dominação começava a fazer efeito. Era confuso mesmo... era dolorido mesmo...

- Ok, você vai comigo. - Decidiu.

- Não. Minha vida é aqui.

- É um dia. - Determinou a mulher, agora com um tom mais dominante. 

- É um dia de trabalho para mim.

- Pare de ser tão cabeça-dura, August! - Declarou. - Quer provar o que com isso? Eu não vou te deixar aqui, com esse humor super agradável que você está! Você vai comigo, fica na minha casa enquanto eu resolvo as coisas e voltamos depois, pronto! 

- Se você acha que... - E August ia levantar a voz. 

- Isso não foi um pedido. - Falou com os olhos queimando, interrompendo a mais jovem.

De repente, haviam lágrimas em algum lugar no fundo dos olhos de August. Ela se recusava a chorar, mas elas estavam ali... quentes, fortes. 

- E quando esse quarter passar? - August questionou. - E quando tudo isso for apenas... a estação passada?

- Bom, teremos dois caminhos... uma relação forte, construída, e aí nos adaptaremos durante nossos trabalhos, ou... vamos deixar isso pesar entre nós e decidir que não serve. - A honestidade de Chase incomodou ainda mais August, que já parecia insegura. - Se você quer que te dê a certeza de que nós vamos dar certo... eu não posso fazer isso. - Admitiu Chase. - Eu quero que dê, quero fazer funcionar... mas é isso tudo que eu tenho hoje, Gus. Preciso que trabalhe comigo.

- Meu medo é... chegar o dia em que eu vou precisar de você, e você não vai estar aqui. - Admitiu.

Chase pegou a mão dela de novo, mas agora, August estava mais calma, mais pensativa. 

- Eu sempre vou dar um jeito de estar, Gus. 

- Isso não é verdade. - August riu, um pouco melancolica. - Não é... sabe? Uma hora uma de nós duas vamos ter que começar a abrir mão de coisas. Coisas importantes. 

- Se você quer, eventualmente, aquela fazenda no Texas... sim, nós duas vamos ter que abrir mão de muita coisa. Mas é assim que relacionamentos funcionam, Gus. Especialmente esse aqui. Eu sei que eu sou capaz de abrir mão... a minha pergunta é, você é?

August não tinha pensado naquilo ainda. Sua vida ali era tudo que ela tinha, e Deus, ela amava aquela poeira, os trailers... a cerveja quente no final do dia. Imaginar a vida que ela vislumbrava no futuro - aquela fazenda no Texas, ao lado de alguém - parecia sempre um plano para mais tarde. Agora estava ali, com uma mulher que conhecia há dias apenas, considerando a possibilidade de se envolver em algo que a tomaria por completo. 

- Eu quero ser. 

Chase suspirou, e tentou acalmar o humor ali. 

- Não precisamos tomar decisões antes delas serem necessárias, Gus. 

- Eu sempre sei o que vou achar... quando escavo. Eu sei o que procuro. - Abriu o jogo. - Nisso... aqui, entre nós... eu não sei. E isso me dá medo.

- Isso eu posso te prometer.... eu não vou te deixar cair. Enquanto for minha, eu seguro o tranco, por mim e por você. 

- Você ao menos pode prometer isso? - Ela riu agora, mais leve, brincando. - Obrigada. 

- Uhum... arrume sua bolsa, você vai comigo. 

- E eu aposto que você não mora em um trailer... - Riu mais animada.

- Apostou certo, bonitinha. 

- E aposto que sua cama é bem melhor que essa aqui também...

- Bom... podemos testar, não é mesmo? - Brincou Chase, já formando algumas intenções para aquela visita na cidade. 

A guardiã dos ossosOnde histórias criam vida. Descubra agora