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Nota: Aos poucos eu vou voltando... vai demorar muita coisa. Infelizmente o capítulo ficou curto, mas vou postar mesmo assim. O tempo vai ditar o que eu consigo fazer! Especialmente as atualizações, mas não abandonei vocês!

August estava sentada no sofá branco. Avaliando a casa de Chase, ela tinha chegado à conclusão de que a paleta extremamente limpa tinha sido uma escolha emocional - Chase não tinha amarras, e o ambiente lembrava isso. Chase parecia... neutra. Talvez, pensou August, esse tinha sido o preço do divórcio dela, a neutralidade dura e a falta de emoção nas decisões. Chase não dava pulos, não pensava com o coração, cada passo era planejado. Já August... bom, ela era só emocional. Intensa e de pavio curto. E ela teve medo daquilo, do abismo que parecia haver entre as duas. E então, tinha a questão do sítio, e da eminente data de retorno de Chase para sua vida normal.

Era melhor não pensar demais, avaliou August, mordendo os lábios e colocando o cabelo recém lavado para o lado do ombro. Chase tinha razão, decisões iam ser tomadas quando elas batessem na porta - não antes. Muito embora, a dor das dúvidas deixassem August em uma posição dolorida para esperar.

Então, alguém bateu na porta,várias vezes, com nervosismo. Alguém que parecia íntimo para isso. Chase, provavelmente. August se levantou, foi até a porta da frente sorrindo e imaginando que chamaria Chase para comer algo na rua.

- Esqueceu a chave? - August abriu a porta feliz.

E então viu uma mulher alta, de roupa social e bolsa Gucci. Saltos finos e altos e cabelo preso, sem um fio fora do lugar. A mulher, morena e elegante, de olhos grandes e queixo refinado, a olhou dos pés à cabeça, puxando um sorriso de lado pelos lábios vermelhos.

- Ora, ora, ora... suponho que uma hora isso acontecer. - Falou com tom de flagrante.

- Olá. Desculpe. Se você está procurando a...

- Chase? Sim. Parece que encontrei outra coisa. - Esticou a mão, amigável. - Kim.

Oh, merda, pensou August. Kim... Kimberly! Esse era o nome da ex! Essa era ela?

- August. Gus. Pode me chamar de Gus. - Ela falou meio atordoada. Deu a mão para a mulher e apertou. - Posso ajudar?

- Chase está trabalhando?

- Sim. Eu posso deixar um recado, se você...

- Não. Esqueci minha chave, na verdade. Eu só quero pegar umas roupas... - Ohou de novo para August, reconhecendo o moletom. - Não vou demorar. 

August não sabia se deveria deixar a mulher entrar ou não. Estava sinceramente confusa. Chase não tinha falado antes, nada. Antes, parecia que Kim era um passado distante, e agora, ali estava. As duas se olhavam, cheias de perguntas.

E ela foi entrando!

- Hum... alguém andou mudando uns móveis de lugar. - Riu Kim, andando com o sapato até o ponto certo, onde automaticamente os tirou.

August ainda estava paralizada, olhando a mulher entrar na casa, como se ainda fosse sua. Ora, ela tinha a chave. Por quê diabos ela ainda tinha a chave?

- Estão juntas há muito tempo? - Perguntou andando até o aparador, e abrindo uma pequena gaveta de correspondências, para separar o que fosse para ela. - Podia dar um toque seu na sala...

- Não... eu... - Augusf balançou a cabeça com força. - Kimberly, eu não quero ser mal educada, mas essa não é minha casa e Chase não está aqui. Talvez, se você voltar mais tarde... por favor.

- Eu tenho a chave. - Lembrou. - Eu só esqueci. Suponho que não estão juntas há muito tempo mesmo... não tem personalidade. Você tem cara de quem teria mudado algo. Bom, qualquer mulher mudaria. - Comentou sobre a sala. - Essa é a Chase... lisa e branca, como essa sala. - Suspirou, pegando algumas cartas e as colocando na bolsa. E então, virou para August.

- Kimberly...

- Sim? - Respondeu com um meio sorriso, caminhando para o quarto do casal.

- Olha, eu acho que eu ficaria muito mais a vontade se você voltasse mais tarde e falasse com Chase sobre suas coisas e...

- Ela não vai brigar com você. Não se ela não te deu uma ordem direta para eu não entrar aqui. - Kim virou-se para August. - Não achei que ela voltaria ao BDSM tão cedo. Aliás, se me permite dizer, você não tem cara de submissa.

Aquilo atingiu August na boca do estômago. A intimidade daquele comentário era desconfortável e direto demais. Gus cruzou os braços na defensiva.

- Nem você. - August retrucou. - E eu sinto muito, mas é melhor você voltar depois. Pode pegar suas roupas e decidir com Chase o que tiver que decidir.

- Você não é submissa, não é mesmo? - Riu de leve. - Escute... eu entendo, ok? Afinal, eu me relacionei com ela também, mas me expulsar daqui não vai me fazer sair até eu pegar minhas coisas. E ela não vai brigar com você...

- Eu estou me fodendo se ela vai brigar comigo ou não. - Falou alto e nervosa. - Quem te quer fora daqui sou eu. Eu não te conheço, e não quero parte na briga de vocês. Se acha que entrar aqui com esse ar de...

- Você está se metendo em uma furada. - interrompeu o rompante de August. - Chase? Ora... que desculpa patética para dominadora. Se ela te prometeu ser seu chão, te digo: ela é areia. E do tipo que afunda.

- Eu não pedi sua opinião, e acho que sou bem grandinha para saber onde estou pisando. Saia.

- Não, não sabe. - Falou. - Acha que não passei pelo mesmo? Que não fiquei deslumbrada e feliz? Chase promete te segurar... olhe bem ao seu redor, August. Olhe bem essas paredes brancas e frias. Diga você, o que esperar de alguém que não consegue nem mesmo decidir o que quer na decoração. Chase te contou uma historinha feliz? De como ela foi injustiçada em um relacionamento em que eu não sabia o que queria? Eu queria viver, August. Queria viver, e Chase é tão fria quanto as paredes dessa casa.

Aquilo estava saindo do controle, pensou August. Ela não queria aquela discussão, muito menos saber detalhes sobre as duas.

- Que ótimo, volte depois. - August apontou para a porta.

- August, eu não sou uma ameaça, qual é? Eu vim pegar minhas roupas. Eu estou levando ela aos poucos.

- Pois fale com Chase mais tarde e leve tudo de uma vez.

- Eu não quero Chase de volta, Gus.

- Isso não é problema meu. - Falou dura.

- Ok, ok... - Suspirou Kimberly. - Vou sair.

Kimberly, em silêncio, foi até seus sapatos, e começou a colocar eles com calma e tranquilidade. Ela parecia caber ali, pensou August, naquela sala. Limpa e lisa. Ela era chique, refinada, observou. Gus era o que? Uma cowgirl com um diploma. Era difícil entender que Chase tinha gosto para as duas.

- Eu espero, sinceramente, que você não se machuque nisso. - Kimberly falou com os olhos mansos. - Posso estar sendo intrusa, e inconveniente, Gus, mas a corda tende a estourar do lado mais fraco. E você está do lado mais fraco. - Suspirou. - A queda é grande. Quanto mais você for entrando, maior vai ser.

- Obrigada pelo conselho. - Falou baixo.

- Aqui... se precisar. - Enfiou a mão na bolsa e tirou um cartão pessoal.

"Kimberly Hower, artista plástica"

E tinha um endereço e um número de telefone.

- Não preciso.

- Se precisar... - Reforçou. - Não jogue fora. Uma hora pode precisar conversar com alguém que já esteve no mesmo lugar que você.

Kimberly andou até a porta, muito mais calma agora, e saiu, parando uma última vez e olhando para Gus de novo.

- Eu espero que vocês sejam felizes, August, de verdade. Você parece uma boa pessoa.

E aquilo, de algum forma, entrou no peito de August como um desejo sincero. Havia mágoa ali, sim, mas não ódio. Havia um desejo de calma, de acolhimento. E August teve mais medo ainda.

Enquanto via Kim entrar em seu carro Tesla, ela encostou no portal e colocou a cabeça para processar tudo. Ela não queria cair, e agora Chase parecia um precipício.

A guardiã dos ossosOnde histórias criam vida. Descubra agora