Capítulo 2 - O Mestre Impiedoso

1K 236 344
                                    



A mente de Luna parecia um velho baú de recordações. Antes de adormecer, ela relembrava os ensinamentos que o Mestre Dominus lhe passou.

Houve uma vez que ele a levou para uma clareira, treinando-a com os golpes de uma antiga arte de luta. Luna voltara para casa com o corpo dolorido, mancando e frustrada. "Nunca deixe seu inimigo ver sua fraqueza", seu mestre dizia, enquanto partia para cima dela, golpeando-a.

"Quando a oportunidade de derrubar seu oponente surgir, não hesite" esbravejava Dominus, desferindo um ataque de espada que acertou o braço de Luna. Uma cicatriz que ela guardava com orgulho. "Não é um braço forte que faz um guerreiro ser bom, não é a espada dele, não é a força. São as escolhas!" ele sempre gritava isso quando Luna atacava sem pensar.

Depois de um ano ensinando ataque e defesa para sua pupila, Mestre Dominus resolveu compartilhar com Luna sua experiência em sistemas políticos. Ela aprendeu a história das cidades e o funcionamento da hierarquia de comando: desde os ordens de um general, até a função de um rei. Em um ano, Luna leu mais de quarenta e cinco livros adquirindo um vasto conhecimento.

Remexendo em sua gaveta, a garota encontrou uma fotogravura com o rosto de seu mestre. Foi um presente dado por ele no dia de sua partida. "Lembre-se, Luna, às vezes, a escolha mais heróica pode não ser a mais eficaz. Precisamos ser egoístas se quisermos sobreviver nesse mundo" foi tudo o que ele disse, antes de subir pelo Elevador rumo a Soberania. Para Luna, Dominus era o Hyacinthum mais corajoso e inspirador que ela conheceu.

A jovem adormeceu deixando a imagem de seu mestre cair no chão. Puer, seu irmãozinho, que costuma acordar durante a madrugada, entrou no quarto, guardou a fotogravura na gaveta e deu um beijo de boa noite em sua irmã, sussurrando "apesar de você ser chata, irmã, eu quero ser como você".

*****

No dia seguinte, as ruas de Lunaelumen estavam decoradas para a chegada do Rei Solis. As famílias hasteavam com orgulho a bandeira da Grande Planície, enquanto as casas cintilavam com luzes douradas.

Crianças Hyacinthums trajavam suas melhores roupas; roupas desgastadas e velhas. Hyacinthums adultos, se aglomeravam pela avenida principal, espremendo-se entre seus iguais, procurando um bom lugar para assistir ao desfile real.

Horas depois, sua majestade, o Rei Solis, desfilou dentro de sua liteira, carregado por súditos e seguido por quatro guerreiros. Os Hyacinthums faziam de tudo para tocar na liteira, ou chegar o mais próximo do rei. Era possível ouvir os choros dos mais emocionados, e as gargalhadas de felicidade dos afortunados em conseguir vislumbrá-lo.

Luna e sua família assistiam de longe, sacudindo rosas no ar. A multidão gritava fervorosa. Alguns cidadãos entoavam cânticos em homenagem ao rei. Alegria e emoção exalavam do povo. Mas, os sorrisos deram lugar aos gritos.

Disparos de armas de fogo ecoaram no meio da multidão. Em questão de segundos, um pandemônio alastrou-se nas ruas. 

Fruto PodreOnde histórias criam vida. Descubra agora