Enquanto ocorriam os acontecimentos dentro do Salão Cerimonial, uma figura masculina observava tudo do alto. Ele estava pisando no solo da cidade Celestial. Ao seu lado, um imenso objeto reluzente contrastava com aquele cenário de terror.
*****
Do lado de fora do castelo, tropas de guerreiros sitiaram o perímetro. A carruagem de prontidão, atendendo as exigências da assassina do rei, a aguardava. A população assistia de longe, a admiração que sentiam antes, agora era apenas rancor e medo.
Luna arrastou a rainha para fora, entrando na diligência. O transporte seguiu pela avenida principal, guiado por um cocheiro com os nervos à flor da pele. Seguindo-as, com uma distância considerável, os guerreiros galopavam em cavalos brancos, comandados por Satalles.
Minutos depois, utilizando um dos passes da rainha, sequestradora e sequestrada zarparam n'O Elevador, que ascendeu para o alto. Luna ainda mantinha Caelis na mira da adaga, mantendo o teatro, enquanto Soberania assistia tudo.
— Você sabia cada passo que eu tomaria — disse Luna.
— Sim. — falou a rainha, respirando fundo.
— Então, qual será meu próximo movimento? — indagou Luna, sentindo o sangue congelar.
— Quando chegarmos lá em cima, corte os cabos. Destrua O Elevador.
— E como iremos retornar? — perguntou a assassina do rei.
— Não iremos! — exclamou a rainha.
*****
O estrondo do Elevador destroçando-se após a queda, reverberou em todas as direções. Na cidade Celestial, Luna e a rainha andaram na direção d'A Máquina.
— Pegue isto! — A rainha entregou um aparato de cobre para Luna. — Use para destruir essa coisa. Você consegue.
— E por que você não faz isso? — perguntou Luna.
— Eu a preparei durante anos para que tivesse a coragem necessária, Luna. — falou a rainha.
— E como protegeremos os Albas inocentes? E os Hyacinthums que vivem em Soberania? — indagou Luna. — Você pensou nisso, certo?
A rainha deu um sorriso amarelo. Ele fitou a garota, escolhendo as palavras corretas:
— Aniquilar essa máquina, salvará apenas o seu povo que habita Lunaelumen!
Luna encarou a rainha como se ela fosse louca. Ela se afastou, fazendo negativas com a cabeça.
— Isso destruirá a cidade Soberania. Seu povo será extinto. Não se importa? — berrou Luna.
— Esse é o meu fardo. Foi a minha escolha. E eu escolhi você. Escolhi seu povo, ao invés do meu.
— Por quê?
— Porque durante anos, fui conivente. Apoiei o rei Solis. Mas, eu me arrependi — confessou a rainha com lágrimas de culpa. — Minha raça, os Albas, não podem viver, se não se alimentarem do sangue do seu povo. Não entende, Luna. Os Hyacinthums só existem, para serem alimento. O sangue do seu povo sustenta cada prédio de Soberania. O sangue do seu povo é o que nutre nossa existência. Enquanto os Albas viverem, seu povo será morto.
— Mas, eles não sabem, não é mesmo? — Questionou Luna. — A população alba não sabe nada sobre esse segredo nojento!
A rainha respondeu que sim, movimentando a cabeça para cima e para baixo.
Luna sentiu cada vez mais o peso de suas escolhas. Cada vez mais ela mergulhava fundo, em um lugar sombrio e inóspito.
— Há muito tempo os Albas se alimentavam dos Hyacinthums, caçando-os como animais — começou a rainha. — Era assim que a nossa convivência funcionava. Mas, então o primeiro rei nomeado entre os albas fez um acordo com o líder dos Hyacinthums. Eles criaram esse sistema. Fundaram as três cidades, afim de manter uma paz entre as raças. Em troca, os Hyacinthums viveriam em sua própria cidade, com a seguinte condição: cederem cidadãos para servirem como escravos ou alimentos para os albas. Por isso os primeiros líderes desse mundo criaram O Passe. Uma forma de prometer um futuro seguro para os Hyacinthums, quando na verdade eles serviriam apenas como uma peça d'A Máquina. Durante anos, esse segredo foi guardado somente pelo rei e por seus Doze Líderes da Elite. Você consegue entender agora, Luna? — indagou a rainha. — Somos monstros. E está na hora de sermos extintos desse mundo.
— Você quer que eu seja uma assassina, eliminando todos esses albas inocentes! — esbravejou Luna.
— Não. Eu quero que você seja uma heroína. A salvadora do seu povo! Minha raça sucumbirá sem o sangue dos Hyacinthums. Melhor que pereçam agora, por suas mãos. Do que definharem por anos. Não se engane, se um alba sequer continuar vivo, significará mais mortes ao seu povo. Você já matou Luna, não será diferente.
— Não. Não é apenas isso. Você quer que eu extingue sua raça, pois não tem coragem de fazer isso — Luna gritou para ela, sentindo o corpo ceder aos poucos.
— Sim — confirmou a rainha, o semblante derrotado.
Luna olhou para tudo aquilo, aceitando as escolhas que se apresentavam a ela.
— Você disse que me preparou para isso. Quando? — indagou Luna
— Eu guio você por esse caminho desde a sua infância — revelou a rainha.
— Como?! — Questionou Luna.
— Com a minha ajuda — respondeu uma voz masculina com uma arma a vista, presa em sua cintura. — Treinei você para esse momento, minha aprendiz — Mestre Dominus surgiu.
Atrás dele uma estranha capsula estava caída no chão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fruto Podre
FantasyColhendo os frutos de ser a Salvadora do Rei, Luna precisará adaptar-se ao estilo de vida de uma raça diferente da sua. Agraciada com riquezas, festas e regalias, a garota percebe rupturas na cidade que a acolheu como heroína. Aqui e ali, aconteci...