Cinco meses depois
Ainda era possível ver os destroços da cidade Soberania e da cidade Celestial. A contagem dos mortos passou de 3000. Houve apenas uma sobrevivente, que ficou em coma durante cinco meses.
Os Hyacinthums tiveram que reconstruir a sociedade, agora que não existiam mais os albas ou os Evoluídos. Por causa daquele desastre, eles precisavam se erguer com uma nova liderança.
*****
Luna despertou como se tivesse acordado de um pesadelo. Sua família a acolheu, espantados com a sua melhora depois do coma. As lembranças retornavam, na medida em que ela se recuperava. Agora, os Hyacinthums chamavam-na de "Escolhida da Rainha".
Encontraram Luna dentro de uma capsula destinada somente aos monarcas em casos de emergência. Ela estava na companhia de duas cartas escritas pela rainha Caelis. A primeira, destinada aos líderes de Lunaelumen, relatava que a rainha salvou a vida de Luna, pois ela simbolizava esperança para os dias sombrios que chegarão. O relato no papel descreveu que Soberania sucumbiu a um desastre natural que corroía o solo durante décadas. Uma carta cheia de mentiras. Rabiscos de uma rainha, que escondia um segredo que apenas Luna sabia.
Todas as manhãs, Luna sentia o fantasma da culpa. Todas as noites, antes de dormir, ela escutava os gritos dos albas que morreram com a destruição d'A Máquina.
Luna teve alucinações. Pilhas de corpos de Hyacinthums surgiam de repente na casa dela. Albas queimando piscavam em sua mente, fazendo-a tremer. Às vezes, as alucinações a faziam ver sua família presa n'A Máquina. Outras, a faziam recordar o momento que a adaga acertou o peito do rei Solis.
Demorou para Luna compreender o que acontecia no seu organismo. Passar aqueles dias em Soberania, comendo e bebendo os fluidos d'A Máquina, mexeram com o seu corpo, com a sua mente.
Além disso, Luna passou semanas trancada em seu quarto, sem comer, sem falar, sem chorar, sem sorrir. Um cadáver vivo, aguardando outro longo dia.
A cada semana, Luna se recusava a abrir a segunda carta da rainha, que foi destinada somente a ela. Isso atormentou seus pesadelos, tirando seu sono durante várias noites. Uma carta que só Luna poderia ler.
*****
Quase um ano depois, Luna aos poucos retomava as rédeas de sua vida. Sua família sempre ao seu lado, lhe dando apoio e atenção.
Os cidadãos de Lunaelumen ainda aclamavam Luna, gritavam seu nome e a enxergavam como uma dádiva deixada pelo falecido rei e rainha. Cânticos foram criados para ela, nomeando-a como Única Sobrevivente. Histórias sobre ela eram contadas a noite para crianças Hyacinthums.
No aniversário de um ano após a destruição da cidade Soberania e da cidade Celestial, Luna descobriu que seu nome fora indicado para representar a liderança dos Hyacinthums. O povo dela lutava para manter a paz e a ordem naquele mundo pós extinção dos albas. E para isso, eles necessitavam de uma figura de liderança. Precisavam da Salvadora do Rei.
Luna aceitou o convite. E durante os meses que estavam por vir, ela seria instituída ao cargo de líder.
*****
Luna guardou a segunda carta lacrada durante meses, deixando-a envelhecer. Mas, houve um dia que ela conseguiu encarar o envelope bolorento sem temê-lo. Era o momento de descobrir qual era a mensagem no papel.
Dentro do envelope haviam duas folhas separadas. Foi na copa de uma macieira que Luna criou coragem parar ler:
Para Luna.
Eles a chamarão de heroína. E isso é minha culpa.
Quando você ler esta carta, já estarei morta. E a morte não deveria ser um final feliz para alguém como eu. Toda culpa, dor e sofrimento cairá sobre você.
Luna, te concedo uma escolha: dizer a verdade para o seu povo ou deixá-los viver na ignorância.
Dentro do envelope há outra folha, uma confissão dos meus atos. Portanto, se sua escolha for revelar a verdade ao mundo da Grande Planície, basta divulgar meu testemunho.
Como rainha, minhas escolhas nunca foram corretas. Assim, você entenderá minha posição, fazendo sua escolha.
O criador desse mundo dizia que as três cidades representavam uma árvore. Que cada raça era um fruto amadurecendo.
Precisávamos cair da Árvore, Luna, para derrubá-la.
Eu caí. Você também. É isso o que somos.
Um fruto podre.
Rainha Caelis
No outro pedaço de papel a rainha relatou todos os crimes que ela cometeu com o auxílio de sua governanta, inclusive o assassinato do rei. Em nenhuma linha foi descrito os crimes de Luna.
Horas mais tarde, as cartas estavam em chamas. O fogo queimando a verdade.
*****
De Salvadora do Rei a nova líder da Grande Planície, o nome de Luna foi escrito nas páginas dos livros daquele mundo. Pouco a pouco, os dias em Lunaelumen se tornaram melhores. No fim de tudo, os Hyacinthums jamais conheceriam a verdadeira Luna.
Por fora uma heroína. Por dentro uma assassina.
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Fruto Podre
FantasyColhendo os frutos de ser a Salvadora do Rei, Luna precisará adaptar-se ao estilo de vida de uma raça diferente da sua. Agraciada com riquezas, festas e regalias, a garota percebe rupturas na cidade que a acolheu como heroína. Aqui e ali, aconteci...