Capítulo 1 - A Grande Planície

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Uma semana atrás


Aquele mundo era tão antigo quanto o sol. Tão grandioso como a imensidão do universo. Por eras, chamavam aquela terra de A Grande Planície. Ali, existiam apenas três cidades. A primeira foi construída no chão em meio a natureza. Já as outras duas, um pouco mais distante, foram arquitetadas na direção do céu, uma em cima da outra.

No solo, situava-se a cidade de Lunaelumen, lar dos Hyacinthums. Uma raça pobre e inferior, vivendo em casebres empilhados, cercados por um mar de árvores.

Quilômetros para o leste, flutuando nas nuvens, localizava-se a cidade Soberania, lar do rei Solis e da rainha Caelis, governantes daquele mundo. Uma cidade abundante em riquezas, predominado pela raça dos Albas.

A única coisa que interligava as cidades era uma construção de vidro opaco, chamada O Elevador; um transporte levadiço usado somente quando um morador de Lunaelumen era contemplado com O Passe (na cor prateada), para assim viver entre os Albas, desfrutando os privilégios da cidade Soberania. Essa regalia era sorteada somente aos Hyacinthums com mais de trinta anos de idade.

Acima de Soberania, no topo do mundo, situava-se a cidade Celestial. Um lugar misterioso, destinado apenas aos Evoluídos: cidadãos com intelecto superior. Não existia registro desta cidade em livros, nem em lugar algum. As mentes mais velhas da Grande Planície não lembravam quem fora o último ser agraciado a viver lá. O mesmo Elevador era usado, a diferença era que o passe para a cidade Celestial possuía a cor dourada.

Albas e Hyacinthums coexistiam, apesar da desigualdade entre os povos. Duas raças parecidas, mas diferenciadas por uma característica que poucos conheciam.

Em qualquer direção que o vento soprava, bandeiras farfalhavam com o símbolo deste mundo: uma árvore frutífera.

*****

Luna subiu no topo de uma macieira para espiar O Elevador. Algumas crianças imitavam-na, se arriscando entre galhos e troncos. Mesmo distante, era possível ver o mais novo Hyacinthum contemplado com O Passe, caminhando rumo a uma vida melhor.

Nas ruas de Lunaelumen, os moradores festejavam pela graça recebida por aquele homem. Preces eram feitas para que esta dádiva se repetisse mais vezes.

— Mamãe, quando iremos morar lá nas nuvens? — perguntou o irmão mais novo de Luna, que estava abaixo da árvore, na cacunda de uma mulher com uma expressão cansada.

— Vai demorar um pouco. Por isso, você precisa se concentrar em ser um bom cidadão para garantir seu Passe — respondeu Angela, mãe do garotinho. — Filha, desça daí! — Disse ela olhando para a copa da árvore.

Luna ignorou a ordem, permanecendo no mesmo lugar. Sua mente recordava o dia em que Dominus, seu mestre, partiu para o mesmo lugar. Desde a infância, a garota foi treinada por ele, em diversas práticas de luta. Contudo, viver numa sociedade "igualitária" garantia paz, o que a impediu de praticar tudo o que aprendeu. Mas, o futuro poderia ser incerto e ao mesmo tempo irônico.

O irmão mais novo de Luna chamava-se Puer, o outro Fratris. A família se reuniu para jantar um pouco mais tarde do que estavam habituados. Uma cadeira estava desocupada, posta à cabeceira da mesa, como se aguardassem a chegada de um convidado. Ao fundo, fixada na parede, a bandeira da Grande Planície chamava a atenção. A casa era pequena, o chão rangia a cada passo e o telhado possuía alguns buracos.

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