De volta ao castelo, Luna não conseguiu comer nada, enquanto as criadas serviam o jantar. Sem perceber, ela segurava fortemente a faca sobre a mesa.
Rei Solis. Rainha Caelis. Guerreiro Satalles. Governanta Insli. Mestre Dominus, ou Helber Vincent, pensou Luna. Cada nome era uma interrogação. Cada um à sua volta significava uma oportunidade de desvendar os mistérios que pairavam em Soberania. Em quem eu posso confiar?
— Luna — chamou a governanta Insli. — Luna?!
A garota despertou de seu devaneio, soltando a faca, respirando o ar que estava segurando.
— Satalles pediu para que a comunicasse que amanhã ele irá apresentar a cidade Soberania para você, antes do grande evento.
— Obrigado, Insli — agradeceu Luna.
Mesmo sem fome, ela precisava se alimentar. Foi a refeição mais difícil que ela fez. Nada possuía um gosto agradável. Ela se levantou, deixando a mesa.
— Estou um pouco cansada. Irei dormir. Pode me levar uma xícara de chá mais tarde? — Pediu Luna, arquitetando algo em sua mente.
— Claro, como desejar — disse a governanta.
*****
Mais tarde, quando todos os criados haviam se retirado para descansar, a governanta bateu no quarto de Luna, segurando uma bandeja com um bule fumegante e uma xícara.
— Aqui está, como você pediu, Salvadora do Rei.
— Eu não quero chá! Quero informações — sussurrou Luna. — Ouvi você discutindo com o guerreiro Satalles. Eu também não gosto dele. Me pergunto qual a rixa que pode existir entre uma governanta e um guerreiro?
Insli expressou sua confusão, arqueando as sobrancelhas.
— Acredito que esteja enganada — falou a alba, depositando a bandeja sobre uma mesinha.
— O que você sabe? Você trabalha neste castelo, pode ter acesso a informações que os demais albas não sabem — teorizou Luna, aflita. — Não minta para mim. Me diga, o que está acontecendo nesta cidade? — indagou Luna.
A governanta fez uma expressão de choque. Os olhos dela vasculharam os cantos do quarto, como se procurassem algo ou alguém.
— Não entendi a sua pergunta — mentiu Insli.
Luna segurou o braço da governanta com agressividade, apertando-o com firmeza. A governanta tentou se desvencilhar, mas Luna não deixou, insistindo por uma resposta.
— Quero que diga onde encontro os Hyacinthums que trabalharam no festejo que o Rei Solis fez para mim — murmurou Luna.
— Não podemos falar disso. É proibido! — Sussurrou a governanta, tentando se soltar das garras de Luna.
— Por favor — insistiu Luna, largando o aperto no braço de Insli, — me diga algo que eu possa confiar.
— Hyacinthums não podem estudar. Nem ocupar cargos de prestigio. Tornam-se apenas subalternos! — revelou a governanta, o rosto assustado. — Você só está aqui, neste castelo, porque salvou o rei. Caso contrário, estaria lá com os seus iguais. Vivendo do outro lado da cidade em condições precárias.
— Como assim "do outro lado da cidade"? — Indagou Luna.
A pergunta ficou no ar. A governanta caminhou até a sacada e apontou um lugar para Luna. Uma região de Soberania ao sul. Imediatamente, Luna apanhou seu manto encapuzado mergulhando na escuridão dos corredores. Insli a observou fugir, permanecendo no quarto.
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Fruto Podre
FantasíaColhendo os frutos de ser a Salvadora do Rei, Luna precisará adaptar-se ao estilo de vida de uma raça diferente da sua. Agraciada com riquezas, festas e regalias, a garota percebe rupturas na cidade que a acolheu como heroína. Aqui e ali, aconteci...