Capítulo 5 - Sussurros

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A cidade Soberania era majestosa. Arranha-céus cortavam as nuvens. As ruas eram limpas, com prédios e casas luxuosas. Comércios, templos e estátuas se espalhavam pela imensidão do lugar. O cheiro que pairava no ar era diferente, algo que causou estranheza em Luna. Ao longe, uma parte da cidade não era visível aquela distância.

Centenas de Albas receberam a nova cidadã de Soberania gritando, aplaudindo e erguendo cartazes com o nome dela pintado. A presença da Salvadora do Rei animava a multidão. Para Luna, não passavam de estranhos.

Após sair do Elevador, a garota Hyacinthum foi conduzida por um caminho ladeado por guerreiros que formavam uma linha de proteção entre Luna e os cidadãos Albas. Algumas pessoas a tocavam, outras acenavam em êxtase. Câmeras fotográficas eram apontadas para Luna.

Os flashes registravam a primeira Hyacinthum de dezessete anos a pisar em Soberania. Jornalistas se espremiam, gritando perguntas sobre como Luna salvou o rei, sobre como ela reagiu ao receber O Passe e sobre sua família. Uma indagação em especial a deixou curiosa: "Sua fama lhe concederá oportunidades diferentes?".

Satalles levou a garota para o castelo real. A moradia do rei e da rainha era uma enorme construção situado no centro de Soberania, com torreões exuberantes e um enorme jardim. No interior do palácio, tapeçarias com fios de ouro cobriam o chão. Esculturas de Albas monarcas em poses majestosas se espalhavam pelos corredores. Aqui e acolá, armaduras vazias decoravam os principais salões. Na parede, quadros representavam momentos históricos: Hyacinthums e Albas construindo um mundo pacífico. Os empregados, que eram albas, interrompiam suas tarefas reverenciando a heroína.

— O Rei Solis e a Rainha Caelis solicitaram que lhe fosse preparado um banquete — disse Satalles. — Ambos pedem desculpas pela ausência, pois o dever real os convocou para uma reunião com os Doze Líderes da Elite. Eles s...

— São os representantes das principais famílias de Soberania. Eu sei — completou Luna, astuta.

— Certo. Bom, aqui será seu lar, até você ser inserida em nossa sociedade como uma cidadã. Se precisar de algo, fale comigo. Nos vemos mais tarde na festa em sua homenagem.

— O que? — indagou Luna, incrédula. — Uma festa para mim?

— Claro! Toda a elite de Soberania anseia em conhecê-la — disse Satalles, ele parecia se divertir com o rosto indignado de Luna. — Eles estão contando os segundos para verem a Salvadora do Rei em carne e osso — explicou. — Com licença.

Antes que Luna revelasse o ódio por festejos, o guerreiro a deixou sozinha no enorme cômodo. O banquete para Luna poderia alimentar mais de cem Hyacinthums. Lembrando-se de sua família, que tinha tão pouco a mesa, a garota não conseguiu comer nada. Tudo o que ela fez foi tomar apenas um copo d'água. Mas, algo no sabor da bebida a deixou nauseada, com um gosto incomum na boca. Mais um gole daquela água e ela colocaria pra fora o pouco que tinha no estômago.

O quarto de Luna era do tamanho de sua casa. Uma cama com dossel foi o que mais lhe chamou a atenção. Sem saber o que fazer, Luna deitou um pouco, mas o sono não veio. Finalmente ela estava ali, vivendo o sonho de muitos Hyacinthums, mas algo parecia errado.

Mais tarde, duas criadas pediram permissão para entrar no quarto. A mais alta se apresentou:

— Me chamo Insli. Sou governanta do castelo, portanto pode falar comigo se precisar de algo.

Luna estranhou que as palavras ditas pela governanta se assemelharam com as palavras do guerreiro Satalles.

Insli era uma alba de meia idade, com um sorriso alegre. Mas, os seus olhos pareciam olhar Luna por dentro como se enxergassem sua alma.

A outra empregada segurava um vestido branco nas mãos. O tecido era liso, decorado com pérolas.

— Nós ajudaremos para que fique apresentável, senhorita Luna — disse a outra.

— Eu fico agradecida pela ajuda — murmurou a garota, desconcertada. O que seria 'apresentável' para os albas?

Luna ficou arrumada em uma hora. Mais uma vez, ela não reconheceu o rosto do outro lado do espelho. As duas criadas deixaram-na sozinha.

Ali, sentada na penteadeira, Luna escutou sussurros vindos do corredor. Ela se aproximou da porta, encostando o ouvido perto da fresta. O guerreiro Satalles estava irritado, dando ordens para a governanta que rebatia com palavras afrontosas.

Quando um relógio de pêndulo marcou 9 da noite, emitindo um som metálico, Luna se afastou da porta. Satalles surgiu, trajando roupas de festejo. Ele disfarçou sua irritação, mas os olhos de Luna captaram um vestígio de ira. Algo estava acontecendo dentro das paredes daquele castelo.

— Você está irreconhecível — disse Satalles, estendendo o braço para Luna o acompanhar.

— Eu digo o mesmo de você — falou a garota, segurando o braço do guerreiro, a contragosto.

Ele a guiou por um labirinto de corredores. A cada passo, um burburinho ficava mais alto. Satalles subiu uma escadaria de mármore, virando outro corredor. No fim, dois sentinelas protegiam a passagem de uma porta dupla. Luna sentiu as mãos tremerem.

Uma voz na sua cabeça sussurrava "fuja... fuja... fuja...".


Fruto PodreOnde histórias criam vida. Descubra agora