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Fui atropelada por um caminhão, não apenas uma vez, mas umas três vezes talvez, quem sabe, é exatamente assim que me sinto ao acordar.
A claridade faz meus olhos arderem, me pergunto se tiraram o sol de seu devido lugar e o colocaram em minha janela apenas para piorar o modo como me sinto.
O peso em cima de meu corpo me faz querer chutar Hina por sua mania de ocupar toda a cama e acabar dormindo com metade de seu corpo em cima de mim. Me preparo para lhe empurrar para fora da cama quando me dou conta de que o braço que ocupa metade do meu dorso não é de Hina, a não ser que a garota tenha se tatuado durante a noite passada e eu tenha me esquecido desse fato.
Me viro lentamente com medo de quem vou encontrar ao meu lado, busco em minhas memórias algo que me dê pelo menos uma pequena pista de quem seja o desconhecido.
O cabelo loiro bagunçado e o dorso desnudo chamam minha atenção, definitivamente não é Hina quem está comigo.
Como foi que eu deixei isso acontecer, eu tinha tudo sobre controle, minha vida estava correndo bem até eu acordar em Las Vegas com um desconhecido ao meu lado.
Como fui deixar minhas amigas me convencerem de que comemorar meu aniversário em Las Vegas seria uma boa, qual é nós quase tivemos que vender tudo o que tínhamos para estar aqui, isso já seria motivo o suficiente para desistir não?
Tento sair de baixo do aperto do desconhecido mas isso se torna uma tarefa difícil quando seu aperto aumenta e palavras desconexas saem de sua boca, mas seus olhos não se abrem, em um ato rápido tiro seu braço de cima do meu corpo e me levanto. Pelo menos estou vestida, algo bom em meio a catástrofe.
Me sento no chão do minúsculo banheiro que minhas economias junto as de Hina conseguiram pagar, minha barriga parece recém saída de uma montanha russa e apenas tenho tempo de chegar até o vaso para esvaziar o conteúdo de meu estômago que desconfio ser apenas bebida.
— Babe você está bem? — Uma voz rouca por conta do sono me assusta e me dou conta de que o desconhecido está parado na porta do banheiro enquanto me encara coçando sua nuca
Agora que ele está desperto consigo o observar melhor, seu braço possui algumas tatuagens, não muitas apenas o suficiente para o deixar mais sexy, seu olhos azuis parecem uma pequena amostra do céu, e por Deus seu maxilar é de tirar o fôlego de qualquer um.
Meu estômago reclama novamente e me preparo para correr até o sanitário caso precise o esvaziar novamente.
— Aqui, isso ajuda — ele diz me entregando alguns comprimidos ao esvaziar seus bolsos que incrivelmente cabe muita coisa
— Obrigada — digo engolindo os remédios com a água que bebi da torneira
Tento controlar meus cabelos que aparentemente resolveram se rebelar contra mim mas meus dedos ficam presos em meio aos cachos.
— Vem aqui, deixa que eu te ajudo — ele murmura caminhando em minha direção
Seus dedos fazem um trabalho rápido e habilidoso em tirar o que quer que seja que ficou preso em meu cabelo, sua mão segura a minha enquanto ele me encara com um pequeno sorriso em seus lábios.
Olho para nossas mãos juntas e algo chama a minha atenção, algo não um grande anel de brilhantes que deve custar os meus dois rins mais a minha casa, e ainda ficaria devendo.
— O que é isso? — pergunto começando a temer a resposta
— Acho que você tinha razão, um menor seria melhor — ele diz analisando o anel em meu dedo
— Porque exatamente eu estou com esse anel? — Pergunto e instantes depois me dou conta da resposta — Por deus não me diga que nós... — aponto em nossa direção de forma frenética tentando de alguma forma fazer com que tudo isso não passe de um sonho
— Você não se lembra? — ele pergunta com seu maxilar trincado
— Não, você poderia esclarecer as coisas — murmuro tentando me levantar
Ele respira fundo e se desencosta da porta com seu duro olhar sobre mim
— Eu sabia que estava bêbada mas não tanto para se esquecer de que casamos — ele diz ressentido
"casamos" nós nos casamos, eu casei com um estranho que conheço a menos de vinte e quatro horas, se meus pais descobrirem serei uma mulher morta.
De repente meu estômago parece ter se lembrado que estava ali e para me lembrar também ele resolve que é um bom momento para esvaziar o que lhe resta.
E simples assim eu acabo vomitando no chão aos pés do desconhecido que me encara com os olhos semicerrados.
— Eu não acredito nisso — ele diz soltando um sorriso irônico e me deixando sozinha em meu estado decadente no banheiro
Ouço o barulho da porta sendo batida e sei que ele acabou de deixar o quarto, minha cabeça dói em lugares onde achei que jamais seria possível.
Depois de questionar todas as decisões que já tomei em meus míseros vinte e um anos de vida decido que ficar me lamentando não ajudará em nada.
Quem sabe eu possa fingir que nada disso aconteceu e seguir a minha vida como se o desconhecido nunca tivesse cruzado meu caminho.
Me levanto decidida a arrumar as malas e deixar tudo para trás, mas uma pequena dor em minha bunda me faz parar, era só o que me faltava eu ter levado um tombo dos saltos gigantes que estava usando ontem, porque ainda deixo minhas amigas serem responsáveis pela minha roupa.
Levanto o vestido apenas o suficiente para que possa ter uma noção do hematoma que irá se formar lá.
Mas tudo o que encontro são pequenas letras com manchas vermelhas ao seu redor mostrando que é recente.
"Josh" é o que se encontra tatuado em minha nádega direita, parece que enfim descobri o nome do desconhecido.

Vegas [Beauany] Onde histórias criam vida. Descubra agora