15

12K 896 1.3K
                                    


Josh e eu não nos falamos depois disso. Mas, todas as tardes depois do trabalho, ele esta lá, esperando do outro lado da rua. Ele fica observando por debaixo da aba do boné. Pronto para me perseguir em segurança até minha casa. Isso me irrita, mas eu não me sinto nem um pouco ameaçada.

O ignoro por três dias enquanto ele me segue. Esse é o quarto dia. Ele trocou seu costumeiro jeans preto por um azul e um novo par de tênis. Mesmo de longe, seu lábio superior e o nariz parecem machucados. Os paparazzi ainda não haviam percebido nada, embora hoje alguém me perguntou se ele esta na cidade.

Seus dias de andar em Portland sem ser reconhecido provavelmente estão  chegando ao fim. Fico imaginando se ele sabe. Quando não o ignoro do modo costumeiro, ele avança um passo. Depois para. Um caminhão passa entre nós em meio ao trânsito da cidade. Isso é loucura. Por que ele ainda esta aqui? Por que simplesmente não volta para Martha? Seguir em frente seria impossível com ele ali. Decisão parcialmente tomada, atravesso a rua no intervalo seguinte do trânsito, o encontrando na metade da calçada da frente.

— Oi — digo, sem ficar remexendo na alça da bolsa. Só que não — O que está fazendo aqui, Josh?

Ele enfia as mãos nos bolsos, olha em volta.

— Vou acompanhá-la até em casa. O mesmo que faço todos os dias.

— Essa é a sua vida agora?

— Acho que sim.

— Poxa! – digo, resumindo muito bem a situação — Por que não volta para L.A.?

Os olhos azuis me fitam com cautela, e ele não responde de pronto.

— Minha mulher mora em Portland.

Meu coração titubeia. A simplicidade da declaração e a sinceridade do seu olhar me pegam desprevenida. Eu não estou tão imune a ele quanto deveria.

— Não podemos continuar com isso.

Ele fica olhando a rua, e não a mim, os ombros caídos.

— Pode andar comigo, Any?

Assinto. Caminhamos. Nenhum de nós se apressando, mas sim, caminhando devagar diante das vitrines das lojas e dos restaurantes, espiando os bares que começam a abrir para o movimento da noite. Eu tenho a sensação ruim de que quando parássemos de andar, começaríamos a falar, portanto, enrolar me caí muito bem. Noites de verão significam muitas pessoas andando pelas ruas.

Um bar irlandês fica numa esquina mais ou menos na metade do caminho até minha casa. A música chega à rua, uma antiga canção dos The White Stripes.

Com as mãos ainda enfiadas nos bolsos, Josh indica o bar com um cotovelo.

— Quer tomar alguma coisa?

Leva um tempo para eu recuperar minha voz.

— Tudo bem.

Ele me conduz direto até uma mesa nos fundos, distante da multidão crescente do pessoal que faz happy hour. Pede duas canecas de Guinness. Depois que elas são  servidas, ficamos em silêncio, bebericando. Após um instante, Josh tira o boné e o deixa na mesa. Caramba, pobrezinho do rosto dele.

Agora eu o enxergo mais claramente e parece que ele tem dois olhos roxos. Ficamos os dois, um olhando para o outro, num impasse bizarro. Nenhum de nós fala. O modo como ele me olha, como se também estivesse sofrendo… Não suporto. Esperar até trazer à tona que toda essa confusão de relacionamento não esta fazendo bem a nenhum de nós. Hora de um plano novo. Esclareceríamos as coisas e cada um seguiria com a sua vida. Chega de dor e sofrimento.

Vegas [Beauany] Onde histórias criam vida. Descubra agora