VINTE E OITO DIAS DEPOIS
A mulher esta levando uma eternidade para fazer seu pedido. Os olhos passam do cardápio para mim, enquanto se recosta no balcão. Eu conheço esse olhar. Odeio esse olhar.
Eu adoro ficar no café, com o aroma dos grãos de café e a suave mistura de música e de conversas. Amo a camaradagem que temos atrás do balcão e o fato de que o trabalho mantém tanto minhas mãos quanto minha mente ocupadas. Por mais estranho que pudesse parecer, ser barista me relaxa. Sou boa nisso. E por causa dos esforços em que tinha que dedicar aos estudos, isso era um conforto. Se tudo um dia acabasse num beco sem saída, sempre teria o café para me apoiar. Era o equivalente moderno em Portland da datilografia.
A cidade vive à base de grãos de café e do café. Café e cerveja estão no nosso sangue. Mais recentemente, porém, alguns fregueses vinham se mostrando um pé no saco.
— Você me parece familiar — começa ela, como a maioria — Você não apareceu na internet um tempinho atrás? Alguma coisa a ver com Josh Beauchamp?
Pelo menos já não me retraio ante o nome dele. E já faz alguns dias que não sinto ânsias. Não, eu não estou grávida, apenas teria meu casamento anulado. Depois dos primeiros dias me escondendo na cama, chorando até não poder mais, assumi todos os turnos disponíveis no café para me manter ocupada. Eu não posso ficar de luto por ele para sempre. Pena que meu coração continua sem se convencer.
Ele aparece em meus sonhos todas as noites quando eu fecho os olhos. Tenho que afastá-lo da minha mente umas mil vezes durante o dia. Quando voltei a circular, os poucos paparazzi restantes tinham voltado a L.A. Ao que tudo levava a crer, Jimmy foi internado em uma clínica de reabilitação.
Hina muda de canal toda vez que eu chego, mas eu sempre captava partes das notícias, o suficiente para entender o que estava se passando.
Parece que o Now United é comentado em todos os lugares. Uma pessoa até me pediu para autografar uma foto de Josh entrando na clínica, com a cabeça pendente e as mãos enfiadas nos bolsos. Ele me pareceu tão só.
Diversas vezes, quase telefonei para ele. Só para perguntar se ele está bem. Só para ouvir sua voz. Dá para ser mais idiota? E se eu telefonasse e Martha atendesse? De toda forma, a crise de Jimmy é muito mais interessante do que eu. Eu mal mereço uma menção no noticiário hoje em dia. Mas as pessoas, os fregueses, me enlouquecem.
Fora do trabalho, praticamente me tornei uma ostra. Isso tem a ver com o fato de que o meu irmão basicamente esta morando com a gente. Pessoas apaixonadas são nauseantes. É um fato médico comprovado. Fregueses com olhares brilhantes e especulativos não são muito melhores.
— Você está equivocada — disse para a mulher enxerida.
Ela me lança um olhar tímido.
— Acho que não.
Eu poderia apostar dez dólares como ela esta tentando encontrar um modo de me pedir o autógrafo dele. Aquela seria a oitava tentativa só naquele dia. Alguns deles queriam me levar para casa para termos relações íntimas porque, sabe, eu sou ex de uma estrela do pop. Minha vagina obviamente deve ter alguma coisa especial.
Às vezes me pergunto se eles acreditam que há uma placa no interior da minha coxa que diz: Josh Beauchamp esteve aqui. Aquela ali, contudo, não estava me cantando. Não, ela quer um autógrafo.
— Olha só — diz ela, passando da especulação para a persuasão – Não sou de pedir esse tipo de coisa, mas é que sou muito fã dele.
— Não posso ajudá-la, lamento. Na verdade, estamos para fechar. Gostaria de pedir alguma coisa antes disso? — pergunto, com um sorriso agradável colado no rosto.

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Vegas [Beauany]
FanfictionAcordar ao lado de um desconhecido já é desesperador, agora acordar ao lado de um desconhecido em Las Vegas e descobrir que está casada consegue ser pior ainda. Nem tudo que acontece em Las Vegas fica em Las Vegas.