Vegas [Beauany]

17

Meus pais não gostaram dele.

Em boa parte da refeição, ignoraram a presença de Josh. Toda vez que, ostensivamente, passam por cima dele, abro a boca para me opor e o pé de Josh cutuca o meu por debaixo da mesa. E balança a cabeça de leve. Então, eu continuao sentada, fumegando, a raiva crescendo minuto a minuto.

A situação há muito passou do ponto de ser apenas desconfortável, apesar de Hina ter se esforçado para cobrir os silêncios. Josh, por sua vez, fora além do esperado, usando uma camisa social cinza abotoada nos pulsos, que cobria boa parte das suas tatuagens. Jeans pretos e tênis simples pretos completavam seu visual de conhecer os pais.

Levando-se em consideração que ele se recusou a se vestir melhor num salão de baile tomado pela realeza hollywoodiana, fiquei impressionada. Ele chegou até a pentear o cabelo para cima num estilo vagamente semelhante ao de James Dean. Na maioria dos homens, eu não teria gostado. Josh não é a maioria dos homens. Para ser bem franca, ele esta absolutamente maravilhoso, mesmo com os hematomas que começam a desaparecer sob os olhos.

E o modo educado com que lidou com o comportamento abismal dos meus pais somente reforça a minha crença nele. Meu orgulho por ele ter escolhido ficar comigo. Mas voltemos à conversa do jantar… Hina esta detalhando seus planos de aula para o semestre que se aproxima. Meu pai assente e ouve com atenção, fazendo as perguntas apropriadas. Nate se apaixonar por ela estava além dos sonhos mais loucos dos meus pais. Ela já era parte da família há muitos anos. Eles não poderiam estar mais contentes. Mais do que isso, porém, ela parecia fazê-los enxergar o filho sob uma nova ótica, percebendo as mudanças ocorridas.

Quando Hina falou do trabalho de Nate e das suas responsabilidades, eles prestaram atenção. Nesse meio-tempo, Josh esta apenas do outro lado da mesa, e eu sinto saudades. Há tanto ainda para conversar que eu nem sei por onde começar. Mas já não havíamos coberto a maior parte? Então, qual é o problema? Eu tenho a estranha sensação de que há algo errado, algo que me escapa. Josh se mudou para Portland. Tudo vai ficar bem. Mas não está. As aulas logo recomeçariam. A ameaça ao plano ainda pairava sobre minha cabeça porque eu assim permiti.

— Any? Algo errado? — papai esta à cabeceira de mesa, o rosto crispado de preocupação.

— Não, pai — digo, com um sorriso forçado.

Não há menção ao fato de eu ter batido o telefone na cara dele. Suspeito que isso tivesse sido classificado como acesso de raiva de uma garota com o coração partido ou algo assim. Papai franze o cenho, primeiro na minha direção, depois na de Josh.

– Minha filha vai voltar às aulas na semana que vem.

— Ah, sim — diz Josh — Ela mencionou isso, senhor Soares.

Meu pai avalia Josh por sobre os óculos.

— Os estudos dela são muito importantes.

Um pânico gélido se apodera de mim conforme o horror se desenrola diante dos meus olhos.

— Pai. Para.

— Sim, senhor Thomas — diz Josh — Não tenho intenção de interrompê-los.

— Bom — papai cruza as mãos diante dele, se preparando para passar um sermão — Mas o fato é que jovens mulheres imaginando-se apaixonadas têm uma tendência horrível a não pensar.

— Pai…

Papai levanta uma mão para me deter.

— Desde que ela era pequena, ela planejava ser arquiteta.

— Pode parar. Não.

— E se você sair numa turnê, Josh? – pergunta meu pai, continuando apesar da minha agitação — Como inevitavelmente sairá. Espera que ela largue tudo para apenas acompanhá-lo?