Capítulo Dezesseis

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Caleb Hunter

Eu, como qualquer outra pessoa, tinha meus arrependimentos. Alguns maiores do que outros, alguns que me fizeram passar noites em claro e alguns que vez ou outra retornavam à minha cabeça como pragas que sugavam minhas energias.

Me arrependia de não ter chutado o traseiro do primeiro namorado de Tabata, quando o babaca partiu o coração de quinze anos dela. Me arrependia de ter sido moleque com algumas de minhas namoradas. Me arrependia de não ter dito a Chase que a ideia de casar com uma mulher que ele conhecia há três semanas era absolutamente idiota, não importava quão solitário ele estava se sentindo naquele momento. Me arrependia de basicamente todas as escolhas que fiz quando Joe me pediu ajuda.

Quando, contudo, acordei na manhã seguinte à festa de Halloween com a sensação estranha de coceira na ponta do nariz e abri os olhos para encontrar minha esposa com a cabeça apoiada em meu peito, dormindo tranquilamente, a última coisa em minha mente era arrependimento.

Sentia-me como um bêbado, lembrando apenas de flashes do que tinha se passado. Não foi o álcool, todavia, que tinha me roubado meu melhor juízo, mas sim minha sereia.

Savannah Andrea Hunter tinha o mais absoluto poder de me fazer perder a cabeça... e o pior era que ela não fazia nem ideia disso.

E isso me trazia de volta para mais uma coisa da qual me arrependia.

Não deveria ter dado risada de Duke quando ele manteve a decoração absolutamente pavorosa de seu escritório só porque Rave tinha escolhido e ele não tinha coragem de machucar os sentimentos dela dizendo quão ridículo aquilo tudo tinha ficado.

Apesar de não soltar comentários engraçadinhos esporadicamente como Chase fazia - com a única intenção de encher a paciência de Duke, diga-se de passagem -, eu não podia deixar de revirar os olhos sempre que passava na frente do escritório de Knight e via aquele tapete... excêntrico.

O mais interessante disso tudo, porém, era quão absolutamente aéreo meu antigo Capitão estava sobre tudo isso. Ele ignorava as observações pseudo-engraçadas de Chase, os comentários filosóficos de Sunset sobre a importância das cores, e os meus olhares esquisitos.

Ainda assim, me arrependia. Não era hipócrita o suficiente para mentir para mim mesmo e dizer que tinha me tornado uma pessoa melhor e por isso acreditava que não deveria ter zombado de meu amigo, ou qualquer merda parecida com isso.

Não.

Na verdade, era uma coisa muito mais simples e egoísta. Eu podia entender agora o que ele sentia.

Se Saara resolvesse pintar as paredes de minha sala de roxo e verde limão, eu não diria uma única palavra. Pelo contrário, provavelmente estaria muito orgulhoso do trabalho de minha mulher.

De maneira não relevante, percebi que inconscientemente passei a deslizar meus dedos por seus cabelos castanhos.

Apesar de ainda ser muito cedo, minha mente zumbia em diversas direções, impedindo o sono.

A maioria delas me levava para o mesmo momento. Por mais incrível que pudesse parecer, a cena que se repetia em minha mente não era a de ontem à noite, mas sim a primeira vez em que seus olhos de deserto encontraram os meus.

Naqueles dias, a culpa que pesava em meu estômago era muito mais forte do que agora. Gostaria de dizer que tudo foi um borrão, que as horas passaram tão rápido naquele dia que não me lembrava de nada, mas a vida não era tão caridosa assim.

Lembrava-me de cada agonizante minuto.

Lembrava de sua expressão assustada, depois confusa e, finalmente, o luto por tudo que não poderia viver quando lhe contei sobre a morte de seu irmão.

Haunted EyesOnde histórias criam vida. Descubra agora