Savannah Hunter
— Tem certeza de que essa é uma boa ideia? — perguntei pelo que era provavelmente a quarta vez, mas não conseguia me livrar daquela sensação de que estava cutucando não a onça, mas sim o Rei da Selva com a vara curta.
— O quê? — Rave levantou os olhos violeta do tapete pendurado em que passava a mão. — Ah, sim. Não se preocupe. Duke só resmunga. Ele nunca realmente está bravo. É manso como um gato.
Pisquei devagar, agradecida por ela ter me dado às costas, assim não via a expressão atônita que muito provavelmente havia tomado conta do meu rosto. Não conseguia, afinal, imaginar um cenário em que aquela frase refletia a verdade.
Manso como um gato?
Que tal manso como um leão? Um leão faminto... ou talvez um tigre dentes de sabre...?
— Hmm... OK — murmurei depois de um tempo, dando alguns passos para acompanhá-la quando passou a examinar o próximo tapete. — Mas... ele não tinha dito que preferia que um decorador arrumasse a sala dele?
A pergunta foi retórica. Eu me lembrava muito bem de Knight ter dito com todas as letras para a namorada não decorar a sala dele, mesmo assim, dois dias depois, nos encontrávamos na mais sofisticada loja de móveis que já tinha visto.
— Duke nunca sabe o que quer. Só falou aquilo porque agora fica cismado sempre que eu assisto qualquer tutorial no YouTube. Só porque outro dia eu estava assistindo um sobre como costurar e decidi praticar na cortina — falava tudo com muita naturalidade, gesticulando com as mãos enquanto andava e observava os exemplares. — Aí costurei uma cortina na outra e quando fui tentar separar não achei a tesoura e tentei usar um fósforo e saiu um pouquinho de fumaça. Mas Duke fez um escândalo. Nossa — virou-se para mim e revirou os olhos. — Ele falou muito. Bom, de qualquer jeito, isso não vem ao caso.
Rave deu de ombros, bastante calma, como se não tivesse acabado de contar que quase tinha colocado fogo em sua casa.
— Esse é lindo! — exclamou de repente. — Que tal se levarmos?
Olhei do tapete laranja para o qual ela apontava e de volta para seu rosto. Sim. Com certeza, ela estava falando sério. O que significava que eu precisava encontrar um jeito delicado de dizer que achava que laranja berrante não parecia ser a cor de Knight.
— Não sei se ficaria muito bom na sala dele. Acho que talvez faria o cômodo parecer menor.
Não tinha nem ideia do que estava falando, mas esperava que a convencesse, não que a ofendesse.
— Você tem razão — murmurou, ainda com a mão sobre o queixo e um olhar analítico sobre o laranja.
Não. Quem tinha razão, pelo jeito, era Duke — sobre Rave não entender nada de decoração.
— Quem sabe uma coisa mais neutra? Talvez preto ou marrom? — apontei para os dois tapetes mais à frente.
— Você tem razão! — e lá estava de volta aquela animação. — E então podemos comprar aquele sofá azul Frozen.
— "Azul Frozen"?
— É. Azul igual ao do letreiro do filme.
— Você sabe que esse não é o nome, certo? — arqueei a sobrancelha.
— Mas qual seria a graça nisso? — deu um sorriso de lado. — Agora, — bateu o dedo indicador no queixo algumas vezes, — onde é que aquele sofá estava mesmo? Acho que foi bem lá no começo.
Passou o celular pelo código de identificação pregado em um pequeno papel no tapete, reservando-o, então segurou meu pulso e me puxou para frente da loja de novo. Tenho que admitir que, depois que ultrapassei meu temor sobre como Knight reagiria ao mini arco-íris que Rave pretendia montar na sala dele, pude aproveitar melhor a companhia dela. Ravenna Reid não se encaixava na imagem que eu tinha de uma psicóloga, mas era preciso admitir que ninguém era vinte e quatro horas a sua profissão. Talvez ser elétrica daquele jeito fosse uma forma de escape. De qualquer jeito, sabia que não podia julgar. Afinal, ela me retribuía muito bem o favor, em nenhum momento me enchendo com perguntas que sabia que seriam bastante pertinentes, mas que não tinha nenhuma vontade de responder. Foi por aquela sensação confortável em que nos encontramos, duas horas depois das compras dela, na cafeteria a poucas quadras da loja.
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Haunted Eyes
RomanceSavannah Hunter tinha dois dilemas em sua nova vida. O primeiro era como ela se adaptaria ao país em que sempre sonhou morar, e o segundo envolvia o marido que nunca pensou em ter, mas que se mostrara ser sua salvação - além de cada pedaço de perfei...