Capítulo Sete

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Savannah Hunter

Sabia que Caleb queria me dizer alguma coisa quando permaneceu sentado em silêncio no sofá à minha frente encarando o nada com uma expressão vazia. Sabia que essa alguma coisa era importante porque a única outra vez que o tinha visto assim foi no dia em que me contou o que tinha acontecido com meu irmão e o que nós precisaríamos fazer. O que não esperava, todavia, era que ele me desse um presente.

Quando levantei a tampa da delicada caixa, senti meu cérebro parar de funcionar, entrando em pane para que eu não entendesse o que exatamente aquele anel significava. Foi a primeira reação que tive. Infelizmente, aquela autodefesa não durou muito. Quanto mais encarava o brilho da pedra amarela, mais o formigamento em meu corpo aumentava.

Vagamente percebi que não estava conseguindo respirar direito.

— Saara...

Não fosse Caleb recomeçar a falar, não sei quanto tempo teria permanecido naquele pequeno ataque de pânico.

Savannah, eu... você não gostou? Podemos comprar outro. Ou, se você não quiser, claro, não precisa usar. Eu só queri-

Sua boca mexia, mas não conseguia distinguir o sentido. Eu só... só...

Para meu mais absoluto terror, as emoções explodiram de uma vez na forma de lágrimas. E soluços. Por entre meus olhos embargados, pude ver o rosto de Hunter se contorcer em uma careta de agonia.

Tentei puxar o ar para dentro a fim de controlar as lágrimas, mas não houve efeito nenhum – senão, talvez, me fazer engasgar de maneira ridícula. Meu marido, provavelmente pensando que eu estava a segundos de precisar de uma ambulância e ajuda profissional, mudou de lugar, sentando-se no braço de meu sofá. Ele trouxe as mãos para perto de minhas costas e ombros algumas vezes apenas para recuar de novo, e imediatamente depois repetir o processo. Estava tão perdido quanto eu.

— Savannah? Savannah, linda, você não precisa usar. Foi uma péssima ideia. Vou me livrar dele. Podemos jogar fora se você quiser — sua voz estava estrangulada em cada palavra, mas ao menos meu marido conseguiu se decidir por colocar a mão esquerda no meio de minhas costas, seu calor ultrapassou o pano fino de minha blusa e imediatamente me arrepiei. — Mas, por favor, pare de chorar. Eu não... não sei o que fazer quando você... Eu só... por favor.

Apesar dos nervos em frangalhos, dessa vez consegui compreender o que ele dizia. Preferia, contudo, não ter entendido, pois agora me sentia ainda pior.

— Eu só... — Senti seus dedos brincarem com a uma mecha de meu cabelo, em um gesto suave que claramente tinha a intenção de me acalmar. — ...pensei que você gostaria de um destes. Mesmo nosso casamento não sendo exatamente normal, não acho justo que você não pudesse ter e... ah, merda, eu estou não estou soando como um esnobe pomposo, estou?

Um anel de noivado. Caleb tinha me comprado um anel de noivado.

Depois de tudo o mais que ele tinha feito. Depois de cruzar o mundo, de sacrificar sua liberdade, de voluntariamente entrar em um esquema que poderia levá-lo à cadeia, de me acolher em sua casa, de me proporcionar a oportunidade de ter amigos e um emprego normal... depois de ter feito muito mais do que qualquer pessoa faria, ou deveria fazer, por uma estranha, ele ainda havia se preocupado em me comprar um anel de noivado.

— E juro que também não tenho qualquer pretensão de te impor alguma coisa... Merda! Você pode jogar o anel, e a caixa, na minha cara, mas só, por favor... por favor, pare de chorar. Eu estou preparado. Vamos lá.

Virando a cabeça para olhá-lo, tomei mais uma surpresa — em meio as muitas que pareciam estar ocorrendo naquela noite — ao encontrá-lo cerrando os olhos com força, os lábios também apertados enquanto ele realmente esperava que lhe agredisse fisicamente. A situação era tão inacreditável, que não pude deixar de soltar uma pequena risada.

Haunted EyesOnde histórias criam vida. Descubra agora