- Prólogo - Cor.

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cor (ô) sf.

1. Sensação que a luz provoca no órgão de visão humana, e que depende, primordialmente, do comprimento de onda das radiações. [Contrapõe-se ao branco, que é a síntese das radiações, e ao preto, que é a ausência de cor.] 

2. Qualquer cor, exceto o branco,  o preto, e o cinzento. 

3. V. coloração.  

4. Qualquer matéria corante. 

5. O colorido da pele, especialmente das faces. 

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24 de agosto

Havia balões. Uma mesa de doces e um palhaço contratado para animar a festa. Os seus amigos também estavam ali, corriam e gritavam por todo o jardim. 

Ela se sentia curiosa quanto àquela interação estranha na casa ao lado. Nunca havia tido uma em seu próprio jardim. 

É de fato que ela sabia que naquele dia ela completava quinze anos de vida, mas também sabia que sua família não comemorava aniversários. 

Nunca havia recebido presentes, ou parabéns, e nem mesmo uma festa como a que acontecia na casa ao lado. 

Sua mãe carregava o bebê nos braços, sua irmã mais nova, na qual Sina era proibida de ter contato. Os pais de Sina diziam que ela era uma maldição, um castigo de Deus por seus pecados.

Sina não entendia muito bem, ela não era muito diferente de seu irmão mais velho, Josh. 

Ambos tinham a mesma estatura, porém Sina aparentava ser menor por causa de seu peso relativamente baixo da média. Ela não comia muitas vezes ao dia, apenas um desjejum e uma janta, eram tudo o que ela recebia para se manter. 

Josh era bonito, forte, com um cabelo bonito e olhos brilhantes. Sina era o oposto, de aparência tão fraca e quebradiça, cabelo escorrido e sujo, pois ela também não recebia banhos com muita frequência, e os seus olhos não tinham vida. 

Os pais de Sina tinham boas condições, moravam em um bairro de classe média e transpareciam uma família cristã normal. 

Tanto Josh quanto Sina frequentavam o colégio, Josh apenas uma classe à frente de Sina. 

Todos os domingos iam à igreja, ajoelhavam-se e rezavam. 

Sina não gostava da igreja. 

Sina não gostava de rezar. 

E principalmente. 

Sina não gostava do padre e das tantas horas que ela era mantida em uma pequena sala com ele, para "pagar seus pecados".

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A mãe de Sina ainda carregava o bebê pela sala, cantava uma canção bonita, que Sina particularmente havia apreciado. 

Sina não via cores. 

Ela enxergava os traços, como se tudo fosse um grande desenho em uma folha em branco. 

Ela sabia diferenciar o preto do branco, porque eram apenas as duas coisas que ela tinha. 

De fato, ela não era a única a ser assim. 

Uma boa parte dos seres humanos nasciam assim. 

As cores só se mostravam para os puros de coração, para os que encontram sua razão. Seu amor verdadeiro. A metade da sua alma que estava com suas cores. 

Sina estava sem suas cores, mas ela também carregava algo do seu amor consigo. 

O pecado de Sina era ter nascido com o nome do seu amor marcado no lado esquerdo de seu peito. Como uma cicatriz. Uma marca de nascença. 

Cores {Heyna version} Onde histórias criam vida. Descubra agora