Quarto dia na favela

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POV REGINA

Amanheceu, eram umas nove horas e abri os olhos e nem sinal dela. Eu não dormi muito bem, eu fiquei com aquela cena dela apontando a arma para mim na cabeça que demorei a dormir com isso em minha mente. Me virei de lado na cama, e avistei uma cesta, cheia de doces. Eram doces bem brasileiros, desses que davam em dia de São Cosme e Damião. No meio dos doces havia um papel dobrado e bem sujo, e resolvi abrir e encontrei outra arte dela. Tinha outro desenho, pequeno e do meu rosto e lindo. Ela tinha escrito embaixo "Discupa Cringa". Eu soltei o ar com a boca, sorri e por um breve momento tinha esquecido tudo que tinha acontecido na noite anterior.

-

– Oi – e ela enfia a cabeça na fresta da porta me dando um leve susto.

– Oi.

– Dormiu bem?

– Tentei.

– Posso entrar? – Mas que diabos ela estava fazendo, pedindo pra entrar no próprio quarto?

– O quarto é seu Emma – e então ela entrou e escondia uma mão atrás do corpo.

– Pra você! – e ela estendeu a mão com uma flor rosa, que não consegui distinguir qual era, mas que parecia que ela tinha pego da árvore da esquina, mas aceitei e sorri de leve.

– Obrigada e obrigada pelos doces! Seu braço está melhor?

– Está sim.

– Que bom, mas tem que trocar o curativo, ainda mais com a chuva de ontem...

– Ah depois eu troco, eu tenho outra coisa pra você... – e ela saiu do quarto e segundos depois voltou com um caderno e um lápis. – Toma, é pra você escrever seus gibis.

– Oh obrigada. – E peguei o caderno e o lápis e deixei do lado da cama.

Ela ficou andando pelo quarto, nitidamente estava tentando se desculpar do que tinha feito comigo, só que do jeito dela. Minutos depois, ela resolveu falar e me pediu desculpas várias vezes, disse que tinha fumado demais ontem e que não faria mais esse tipo de coisa comigo e não soube explicar o "porquê" do beijo. Eu fiquei calada e não respondi nada.

– Eu vou dormir um pouco aqui na sala, eu tive que ficar de vigia a noite toda... – e ela ia se virando...

– Não Emma, você está machucada e precisa dormir bem e não num sofá, deita aqui. – eu não sei o que eu estava fazendo, ela tinha tentado me matar na noite anterior e eu agora chamando ela pra deitar do meu lado.

Eu tirei a cesta da cama e ela não pensou duas vezes e timidamente se deitou. Veio então aquele silêncio, eu estava sentada na cama escorada na parede e ela estava deitada e olhando para o teto e então ela disse:

– Gringa...

– Sim Emma.

– Você me odeia?

– Sim! – e então ela virou bruscamente o pescoço e olha pra mim assustada e eu complemento. – Você quase me matou do coração, Emma. Literalmente.

– Me desculpa mais uma vez... eu... eu... estava com...

– Ciúme???

– Er... e eu não gosto daquela polissa.

– Ela é minha amiga e deve está desesperada para me encontrar e me resgatar, ela só está fazendo o trabalho dela Emma.

– Eu vou só te proteger e cuidar de você daqui pra frente, tá? Até tudo se resolver, você vai ver, eu vou ser boazinha com você.

10 dias na favelaOnde histórias criam vida. Descubra agora