Terceiro dia na favela

1.3K 145 32
                                    

POV REGINA

Eu acordei e ela não tinha chegado ainda. Eu não dormi direito, pois acordava toda hora com barulho de tiros. Essa madrugada foi intensa, os tiros não paravam. Eu levantei, fui ao banheiro e lá havia um relógio no chão que marcava 8:33. Era muito estranho, pois a Emma sempre chegava por volta do que parecia ser umas 7 e nem sinal dela. Eu voltei pra cama e começou a bater um desespero em mim, pois eu comecei a pensar que a Emma estaria morta, e que viriam logo logo acabar comigo. Eu comecei a chorar, chorar de nervoso, chorar de saudade, chorar e sem entender o porque ninguém ainda havia vindo me resgatar ou algum contato. Nesse tempo, olhei para a porta e escutei o barulho de alguém abrindo a porta lentamente, e pensei "é meu fim, alguém está vindo me matar", foi então que ela apareceu, e me deu um certo alívio ver ela sorrindo pra mim e perguntando mais uma vez se eu tinha dormido bem, e que ela tinha aberto a porta devagar para não me acordar. Eu sorri e respondi a ela enxugando os olhos e ela percebeu que eu havia chorado.

– Tá... tá tudo bem? Você precisa de água?

– Não Emma, não está! Eu quero a minha família, eu quero ir embora, por que ninguém paga o resgate??? – digo chorando e ela arregala os olhos e coça a cabeça.

– Ah... bem... estamos em negociação...

– Mas já se passaram 3 dias e ninguém respondeu nada? Quanto você pediu? Você falou com quem?

– Er.... bem... eu falei... eu falei com seu pai!! – ela estava mentindo! –Eu falei com ele e eu pedi... eu pedi 30 mil, mas ele ficou de arrumar o dinheiro... é isso, é isso, ele ficou de juntar o dinheiro e retornar. – ela se enrolou toda para falar, e ela estava mentindo descaradamente. Primeiro porque meu pai faleceu a dois anos, e segundo que 30 mil reais não são nada convertidos em dólar para a família e herança que temos. Minha irmã ou mãe, ofereceriam muito mais para me tirar o mais rápido possível daqui. Elas nunca iriam "juntar" esse valor, se temos muito mais.

– Você pode entrar em contato com eles? Porque se você quiser mais, eles vão te dar!

– Pode ficar tranquila que logo você irá sair do morro. –

" Zinha tá na escuta?" – alguém chama ela no rádio.

– Fala ae Verdinho.

– " Zinha vai pro seu posto, os "polissa" tão subindo o morro! Vai pro teu posto agora e leva munição. Voa Zinha!"– assim que ele diz, ela sobe em cima da cama, e pega uma caixa em cima do armário que havia muita bala, muita munição, ela pega também uma pistola e enfia na bermuda, colado em sua barriga.

– Onde você vai??– digo assustada – Você acabou de chegar!

– Os "polissa" tão subindo, eu tenho que defender a boca, meu irmão não está aqui. Relaxa que eu volto logo logo. – Ela carregou o fuzil, e ia se levantando e eu segurei o braço dela, e ela olhou para mim.

– Emma, me promete que você vai voltar? Que você vai voltar inteira? – e ela abriu um sorrisão pra mim e disse:

– Prometido! – ela beijou a minha mão – Olha só, se o barulho de tiro for alto aqui, se enfia dentro do banheiro e fica abaixada lá. A parede lá é mais dura e você pode se proteger. Tchau Gringa! – e ela saiu pela porta.

Eu não estava gostando disso, mas assim que começou o tiroteio eu fui direto para o banheiro e de lá não saí mais. Foi quase o dia todo assim os tiros paravam, mas voltavam.

Eram por volta das 5, e a um bom tempo não se ouvia tiros. Eu saí do banheiro e olhei pela janela, pessoas voltavam a andar livremente pela favela. Pensei então "Acabou? Mas cadê a Emma?". Eu estava nervosa e andando e um lado para o outro, quando ela entra pelo quarto.

10 dias na favelaOnde histórias criam vida. Descubra agora