POV REGINA
Eu consegui cochilar um pouco e acordei com o barulho da porta abrindo. Já era de manhã e parecia ser bem cedo, e ela entrou pela porta com aquele fuzil no corpo, estava com a mesma bermuda, tênis, camiseta, o cabelo tinha umas tranças que pareciam "dreads" loiros e compridos, e o boné.
Ela se jogou na cama de costas e ficou alguns segundos olhando para cima e logo se virou rapidamente e ficou me encarando. Eu olhava para seus olhos grandes e verdes e fugia o olhar para o chão, pois ela podia ter essa cara de criança, mas me dava medo. Ela continuou me encarando e eu estava nervosa sem saber o porque ela ficava me olhando assim, sem piscar.
– Qual seu nome, Gringa? –ela perguntou e eu olhei para ela e olhei para o chão e voltei o olhar nela, e falei baixinho – Regina.
– Regina? Não é nome de Gringa, mas vou te chamar de Gringa mesmo. – e sorri – O que você faz da vida? É atriz? Hum.... nunca te vi na tv, deve ser empresária ou modelo, o que tu é, fala ae!
– Eu... eu... eu sou escritora.
– Escritora? – e ela coçou a cabeça – O que escritora faz? Igual professora?
– Eu escrevo histórias, livros... – respondi e respirei fundo.
– Aaaah tá, igual gibi né? Eu gosto dos gibis, eu gosto dos desenhos dentro dele. – ela de novo ficou em silêncio e voltou a me encarar. Isso me deixava mais e mais nervosa, ela ficava me olhando e com sorrisinho no rosto, e sabe lá o que estava passando em sua cabeça.
– Bom Gringa, eu vou dá uma dormida que a madrugada foi sinistra. Eu tive que ficar de olho aberto mesmo, nessa vigia. –
E então ela se virou, se cobriu com um lençol sem tirar o fuzil do corpo, e dormiu.
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Não sei que horas eram, mas tinha passado bastante tempo, devia ser umas 4 da tarde e então ela acordou.
– Porra eu dormi pacas, e nem sei onde tá o rádio. Nego deve tá me procurando. – e ela se levanta, e levanta um dos braços e cheira seu sovaco. – Eu to fedendo pra caralho, vou tomar uma ducha, e tu gringa, não sai daê não hein! – e ela solta uma risada e entra no banheiro que havia dentro do quarto. Minutos depois ela sai, parecia vestir a mesma roupa, era o mesmo estilo de bermuda e camiseta. Ela pôs um tênis e saiu do quarto e não disse nada, meia hora depois ela voltou para o quarto com uma vasilha dessas de papel laminado, e chegou perto de mim e disse: – Ó, trouxe um rango pra você. As quentinhas da tia Dilce são as melhores. Hoje tem carne assada, arroz, feijão e farofa, come ae! – e ela pôs a quentinha no chão e eu olhei para a quentinha, logo depois para ela e disse – Obrigada, mas eu não estou com fome.
– Ah coé Gringa, eu tô sendo legal com você e você faz essa desfeita? Bom, vou deixar ae no chão, quando quiser comer, o garfo tá aí. – e ela estava se virando para sair, e então chamei ela.
– Alemanzinha né? – e ela se virou de volta para mim.
– Coé.
– Eu preciso ir no banheiro, posso? – e ela coçou a cabeça e mordeu o lábio inferior e ficou segurando ele, me olhou e disse:
– Tá, pode usar...
– Será que você pode me ajudar a levantar? Eu estou amarrada, pode me soltar? – e ela me olhou desconfiada e me puxou com um dos braços e me levantou. Eu estiquei os braços na frente dela e sem dizer nada, ela ficou me olhando, sorriu, e se virou e foi até uma gaveta e voltou com uma faca enorme e começou a cortar a fita de meus braços e pernas, me deixando solta.
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10 dias na favela
Fiksi PenggemarQuando uma escritora brasileira e carioca que vive no exterior (Regina), volta a sua cidade natal para ter ideias para sua nova história, acaba entrando em um táxi no bairro do Flamengo, e no meio dessa viagem, é surpreendida por bandidos do morro...