Segundo dia na favela

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Amanheceu e eu estava toda dolorida, sentia muita dor no quadril e na coluna. Eu estava a dois dias num chão duro sem poder me esticar. Foi então que a porta se abriu e ela entrou. Jogou a pasta de lado e deitou na cama.

Eu estava me contorcendo de dor e ela reparou. Ela se levantou foi até a mim e tirou uma espécie de canivete do bolso logo começou a cortar a fita de minhas mãos e em seguida das minhas pernas. "-Vem, levanta!" – e ela me ajudou a levantar, e me puxou até a cama. "-Deita ae, você está a dois dias no chão, deve tá doendo né?"– e eu respondi com um "sim" baixinho e não hesitei deitar. Deitei na cama que horas antes ela havia feito sexo com outra mulher. Eu estava com tanta dor, que eu não pensei duas vezes e deitei.

Foi então que ela deitou do meu lado, e estava bebendo água numa garrafa pequena dessas de plástico e me ofereceu. Eu precisava de água, e também não hesitei e bebi da mesma água que ela havia bebido, terminei quase a garrafa toda.

Eu virei de lado e de costas para ela, mas a dor era insuportável nessa posição e então tive que me virar de frente para ela, que a posição não havia dor. Ela estava bem acordada, e lá estava ela me encarando. Eu não iria conseguir dormir ao lado dela, e já que ela estava sendo "boazinha" comigo, resolvi começar a puxar uma conversa.

– Qual seu nome real? Você deve ter um nome que não seja Alemanzinha ou Zinha né? –perguntei, mas por dentro eu estava com um pouco de medo dela me tratar como tratou a morena na noite anterior. Eu já tinha trauma de "maus tratos", mas eu tinha que começar algum diálogo com ela.

Ela olhou para mim, se levantou, tirou o rádio do bolso, jogou no chão e voltou a deitar olhando para cima. Achei que ela não queria papo, mas uns minutos depois, ela vira o rosto e diz: "- Eu me chamo Emma!" – eu pela primeira vez, ensaiei um sorriso e continuei...

– Emma? É um bonito nome, bem melhor que "Alemanzinha". Aliás você não tem nome nada brasileiro. – E então ela riu e respondeu.

– Minha mãe adorava esses nomes gringos, e então ela me batizou de Emma Carolina da Silva e meu irmão de Pedro Washington.

Ela havia acabado de me dizer seu nome todo, mas que diferença fazia? Então eu continuei. – Emma, você tem quantos anos? – e ela deu outra risadinha, mas respondeu:

– Eu tenho 23...é eu acho. E você?

– Eu tenho 31, você ainda é uma menina.

–Sou nada!– engrossa a voz – Eu sou mulher, mulher que já matou e já roubou e muito! – respondeu firme e eu engoli seco, fiquei calada por alguns segundos, mas ela começou a fazer perguntas também. – Você é casada, tem filhos? – respondi:

– Não e não tenho filhos.

– Namorado?

–Não. – e ela insistiu.

–Algum ficante?

– Não, eu terminei um relacionamento de 3 anos a pouco tempo, e não quero me relacionar tão cedo.

– Ah... que pena, os homens devem cair de 4 por você. Você é muito bonita, Gringa. – eu de novo sorri olho para baixo e respondi o que ela não esperava:

– Bom, ainda bem que não me relaciono com eles...

– Ué, não entendi.

– Eu não curto homens, Emma. – e ela então abriu um sorriso que até me assustou.

– Você também é sapatão??

– Er...

– Você tá brincando né? Você não tem cara de sapatão.

10 dias na favelaOnde histórias criam vida. Descubra agora