91 dias de Outono

Sétima folha

O outono estava se aproximando de sua metade. As ruas estavam mais cheias de folhas do que nunca, e a temperatura caía cada vez mais. Arrastadas pelo vento, as folhas faziam um barulho contra a calçada, sendo aquela a música de fundo para a tarde de sol. Apesar do frio, o sábado amanhecera limpo, e o sol radiante esquentava um pouquinho o asfalto que logo se congelaria com o inverno.

Taehyung observava as folhas dançando com vento e se encolhia dentro de seu casaco herdado de Namjoon. A rua em que morava não era movimentada, então tudo que escutava era o barulho das folhas e de alguns passarinhos, se comunicando em uma língua que ele não entendia. As vezes, Taehyung imaginava como seria ser um pássaro e voar por aí sem preocupação, sem escola e sem contas para pagar. Conhecer a cidade toda, sentar em todas as marquises e observar as pessoas andando. Visitar todos os parques, pousar no topo dos prédios mais altos e observar o mundo de cima.

Sim, gostaria muito de ser um passarinho.

Mas não podia.

Tinha que ser Kim Taehyung, com todos os seus problemas e limitações, além de tudo aquilo que vinha junto com ser um ser humano. Teria de estudar, se formar, trabalhar, cuidar da casa, interagir com pessoas.

Pessoas legais, como seu irmão – apesar de tudo –, Yoongi, Jeongguk e Seokjin, e pessoas não tão legais, como o resto do mundo.

Além disso, tinha que escolher uma profissão e sobreviver dela. Não poderia viver nas costas de Namjoon a vida toda. Taehyung teria de sair de casa, passar grande parte do seu dia fazendo algum trabalho e voltar para casa, exausto. Teria que lidar com pessoas em seu trabalho, ouvir críticas, ser desafiado, resolver problemas, ouvir coisas e dizer outras.

Taehyung tinha medo.

Tinha medo de crescer e deixar a segurança de seu apartamento. Tinha medo de sair pela rua e deixar a segurança do carro velho de Yoongi. Tinha medo de se perder no mundo e deixar a segurança dos braços do irmão.

Taehyung tinha medo, medo de viver o resto de sua vida.

Ele se achava incapaz de fazer tais coisas e sabia – tinha certeza porque o ouvira dizer – que Namjoon também o achava. O irmão dizia que ele nunca crescia, que nunca amadurecia, que nunca aprendia a ser gente.

E o que é ser gente?

Se não sabia ser gente, queria mais era ser um pássaro mesmo.

Mas não podia.

Só que mesmo não sendo um pássaro, Taehyung tinha medo de deixar o ninho.

Suspirou, fazendo o vapor sair de sua boca em forma de uma fumacinha branca.

Talvez não servisse nem para ser pássaro, pois teria medo de aprender a voar e sair do ninho.

– Taetae. – Taehyung levantou a cabeça e viu Jeongguk parado em sua frente. O moreno tinha uma touca preta na cabeça e um sorriso leve no rosto. – Eu me atrasei?

Os dois tinham marcado de sair no final de semana, visto que a ultimas duas semanas foram cheias de trabalhos e problemas. Depois que voltou da sala do orientador na semana passada, Taehyung foi acolhido com um sorriso gentil. Jeongguk não lhe perguntou nada e Taehyung se viu grato por isso. Não queria preocupar Jeongguk com seus problemas. Ele não precisava saber disso, era uma coisa entre ele e Namjoon, e agora Seokjin.

Eles poderiam resolver o problema, o moreno não precisava ser envolvido. Além disso, assim ele saberia em que tipo de condição Taehyung se encontrava, e o garoto não queria que isso acontecesse. Tinha medo do que Jeongguk poderia pensar.

Não queria nem pensar nisso.

Taehyung fez que não com a cabeça, fazendo sua franja castanha dançar sobre sua testa. Jeongguk abriu um sorriso e fez um sinal para que o garoto subisse na bicicleta. Taehyung o fez, logo colocando os braços ao redor de Jeongguk e se segurando firme.