Décima folha

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O vento quente do verão batia-lhe no rosto e bagunçava suas mechas escuras, retas rente à testa como tivessem sido cortadas com uma navalha afiada. Hora observava os cadarços desamarrados, hora levantava o olhar para ver as crianças brincando no parquinho. Sua mãe, quando viva, costumava trazê-lo ali para brincar. Era uma criança muito tímida, então se limitava a brincar com sua mãe e irmão. Porém, depois que ela se foi, Taehyung não tinha com quem vir ao parque. Namjoon já estava "grandinho" o suficiente e tinha outras preocupações que Taehyung não conseguia entender. Desde que sua mãe falecera tudo se tornou complicado de explicar.

Taehyung só sabia que sentia saudade e dor, muita dor.

Por isso vinha andando sozinho para o único lugar que ele conhecia o caminho, o pequeno parque. Todos os dias ele estava lá depois da escola, sentado debaixo de uma árvore grande, a uma distância considerável dos brinquedos. Não tinha vontade de se levantar e brincar sozinho, porque o parque estava sempre cheio de crianças. Ficava ali sentado, as pernas juntas ao peito e a cabeça encostada nos joelhos. Abraçava as duas pernas com os braços franzinos e cantarolava algumas das musiquinhas que sua mãe cantava para ele dormir, desejando estar no mundo dos sonhos onde a doce mulher ainda estava viva.

– Você está chorando? – Taehyung levantou a cabeça ao ouvir uma voz fininha, percebendo um garotinho parado a sua frente. – Se machucou?

Taehyung piscou os olhos algumas vezes e depois negou com a cabeça, desviando o olhar. Não sabia como falar com o garoto, não estava acostumado.

– O gato comeu sua língua? – O garoto sorriu, fazendo seus olhos se espremerem em dois arcos pequenos. – Minha mãe sempre diz que o gato vai comer minha língua quando eu falo demais, isso aconteceu com você?

– Nenhum gato comeu minha língua. – Taehyung resmungou. Sua mãe nunca havia lhe dito nada assim. Que tipo de mãe diria isso ao filho? – Eu não estou chorando.

– Então por que está aí sentado? – Ele se abaixou, ficando no mesmo nível que os olhos de Taehyung. – Por que não está brincando?

Taehyung não respondeu. Por que não estava brincando? Não sabia ao certo se era porque não queria brincar, ou porque não sabia como, ou simplesmente porque não tinha vontade nenhuma de se levantar e se aproximar de outras crianças. Ele simplesmente não conseguia se ver ali, se divertindo com os outros da sua idade.

– Você é meio estranho não é? – O garoto cutucou-lhe a testa, fazendo Taehyung formar uma careta no rosto. – Eu sou Jimin, Park Jimin. Qual é seu nome?

– Kim Taehyung. – Respondeu simplista, ainda meio irritado por ter sido chamado de "estranho".

– Taehyung! – Jimin repetiu algumas vezes até se acostumar a dizer o nome. O garoto parecia não se importar com a frieza de Taehyuhg, o que deixou o último um pouco curioso. – Posso te chamar de Tae? É mais fácil.

Taehyung deu de ombros.

– Vem brincar comigo Tae! – Jimin estendeu a mão, e Taehyung ficou observando. A mão de Jimin parecia menor que a sua, seus dedos eram gordinhos e estavam sujos de areia, provavelmente por ter brincado naquela grande caixa de areia do parque. – Vamos!

Depois de ficar alguns segundos pensando, Taehyung se viu perdido no sorriso gentil do outro garoto. Nenhuma outra criança havia sorrido daquele jeito para ele, muito menos o chamado para brincar.

Quando viu, já tinha aceitando a mão melada do garoto e estava sendo guiado até a caixa de areia, onde Jimin construía um castelo.

Taehyung nunca imaginou como seria se divertir tanto. Por mais que tivessem mais umas dez crianças naquele local, ele só conseguia ver Jimin. Taehyung só conseguia se imaginar dentro das brincadeiras e mundos fantásticos que o outro criava junto com ele. O castelo de areia era o grande reino dos dois pequenos reizinhos, os balanços eram naves espaciais, o escorregador era uma grande montanha e as gangorras formosos cavalos.

91 dias de OutonoWhere stories live. Discover now