||5|| Silêncio melancólico: O efeito colateral pós chamada.

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     Talvez dizer aquilo tivesse sido “sincero demais”; nem todo mundo que quer ouvir a verdade está preparado realmente para lidar com ela. Eu sabia que não deveria abrir meu coração assim para outra pessoa, mas não era qualquer pessoa, era o Scott, o garoto que sempre me fazia rir, o amigo que me abraçou forte e não permitiu que eu me quebrasse de novo, a pessoa que estava comigo quando ninguém mais estava. Como poderia não falar sobre sentimentos com a única pessoa capaz de me fazer senti-los?
     Encaro novamente a tela do celular.
— Não vai dizer alguma coisa? — perguntei,  mordendo o lábio de maneira nervosa. — Pode rir da minha cara, me pergunta se eu estou doente ou sei lá... Só diz alguma coisa, merda — suspiro, fitando o chão.— Seu silêncio tá me deixando nervosa...

Desculpa. É só que... Eu não sei o que te dizer. Honestamente, eu não sei de mais nada. Você tem a maldita mania de me deixar sem palavras e eu não sei o que dizer depois. Nunca sei — ergui a cabeça para olhá-lo, mas Scott não estava me olhando. Então apenas observei sem que ele notasse. — Porra, ruivão! Você não pode simplesmente me dizer essas coisas por chamada de vídeo — resmungou, abrindo um sorrindo de lado. — Ouvir isso me faz querer te abraçar e eu não posso fazer isso agora.
 
    Ele não precisava fazer um discurso como o do Martin Luther King ou cantar Never Be Alone para me deixar sem palavras, uma simples frase costumava me desarmar. Por sorte, ele não sabia disso.
— Ah... Desculpa, então? — perguntei, tentando inutilmente não sorrir.

    Ele riu baixinho e finalmente me encarou.
Só desculpo se sorrir para mim — pediu, fazendo bico.

  Faço uma careta.
— Que coisa mais brega! — Scott me mostra a língua. — Não vou sorrir para você coisa nenhuma. Pode ir esquecendo.

  Ele abriu um sorriso.
Veremos — seu rosto ficou sério, como se estivesse se concentrando. Em seguida, Scott simplesmente começou a cantar: — Friends just sleep in another bed... — sua voz não era igual a do Ed Sheeran ou algo do tipo, mas era tão rouca, que chegava ser agradável. — And friends don't treat me like you do...

   Mordi o lábio, tentando não sorrir. Maldito! Ele sabia como me vencer...
— Well I know that there's a limit to everything?! — cantei de volta, agora estando incapaz de não sorrir. — But my friends won't love me like you...— ele estava me olhando com cara de "Eu venci." — Odeio você. Isso foi golpe baixo, e você sabe.

E daí? Pelo menos eu ganhei o meu sorriso — me mostrou a língua. Aconteceu há alguns meses atrás, em mais uma das noites em que havia me auto convidando para dormir no dormitório dos meninos. Estava sem sono, Scott também, então fomos para a área de lazer assistir alguma coisa. Acontece que, estávamos com preguiça de ir procurar um filme, por isso acabamos deixando no filme romântico que passava na TV mesmo. Em uma parte do filme, o casal está tentando escolher uma música para eles, então liga o rádio e a música que estiver tocando seria a deles. Por pura falta do que fazer, Scott e eu inventamos de fazer a mesma coisa, só para zoar um pouco. Pegamos o fone de ouvido e colocamos na rádio. A música que estava tocando era Friends, do Ed Sheeran, e como eu amo muito esse homem comecei a cantar. O que não esperava era que Scott também soubesse a letra e começasse a me acompanhar. Fizemos um hilário dueto juntos, até o monitor aparecer e nos mandar para os nossos dormitório. Desde então, sempre que ouço essa música, sou incapaz de não sorrir. E ele sabia disso.

— Você é um chato. Sabe disso, não é?

    Ele riu.
E você não vive sem mim. Sabe disso, não é? — rebateu, abrindo um sorriso.

   Mal sabia ele do quanto aquilo era verdade.
— Uhum — murmuro.

    Ficamos em silêncio por alguma razão.
    Começo a encarar o meu velho all star, enquanto mordisco a unha.
    Scott parece pensativo, mas não divide os seus pensamentos comigo. Então, simplesmente resolvo esperar, fodendo ainda mais com a precária situação das minhas unhas.
Eu... Posso perguntar uma coisa? — pergunta ele, quebrando o silêncio. Assenti em resposta —  Por que ficou surpresa quando disse que era eu? — perguntou. — Prometi que te ligaria. Você... Não confia em mim? Se for isso eu vou entender, é sério.

Todas as verdades de Luna [PAUSASA]Onde histórias criam vida. Descubra agora