||6|| A voz no meio do corredor.

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   Ficar sozinha nunca havia sido problema para mim; muito pelo contrário. A solidão havia se tornado minha parceira e confidente desde que me entedia por gente, então não conseguia entender qual era o problema agora. Eu estava sozinha, como antes, mas acho que existe uma grande diferença entre ficar sozinha por escolha e ficar com a solidão porque as malditas circunstâncias escolheram isso. Honestamente, nunca gostei muito dessa história de ter algo maior comandando a minha vida, porém sabia que isso não era algo que poderia escolher; era assim que as coisas funcionavam e querendo ou não teria que viver com isso.
    E assim eu continuava vivendo, a mercê das circunstâncias, esperando pacientemente pelo momento em que as circunstâncias fossem favoráveis para mim, mas, enquanto essa merda não acontecia, eu me obrigava a continuar ouvindo Helena tagarelar no telefone a respeito dos meus novos remédios e fingir que prestava atenção em tudo que ela dizia, quando, na verdade, estava encarando as imagens de mulheres nuas coladas no teto do dormitório.
     Nunca havia permitido que os garotos tirassem aquelas fotos dalí. Motivo? Antes eu não havia entendido o porquê exato daquilo; inicialmente eu achava que era uma maneira de irritar Rafael pelo que havia acontecido; mas agora, olhar para aquilo parecia um lembrete dos idiotas que eles sempre foram e nunca deixariam de ser.
       Sempre me culpo pelo que aconteceu, mas acho que agora, avaliando bem minha vida, se algum cientista maluco aparecesse hoje, me perguntando se eu gostaria de voltar no tempo e mudar algumas merdas passadas, eu com certeza negaria. Minhas escolhas erradas me levaram a ser quem eu sou hoje e por mais fodida que essa Luna seja, ainda sou eu. Essa sou eu agora. E antes de receber a aceitação das pessoas à minha volta, eu preciso começar me aceitando em primeiro lugar; com defeitos e tudo mais. Porque, afinal de contas, quem aqui é perfeito? Até a pessoa mais esteticamente perfeita tem algum defeito. É isso que nos torna humano, real; a imperfeição. E eu lidava muito bem — ou tentava, pelo menos — lidar com as minhas próprias imperfeições.
   
E não se meta em novos problemas, Luna! — repetiu Helena, pela quarta vez. — Mandarei que entreguem o mais rápido possível. Agora preciso desligar.

    Ouvir aquilo foi como música para os meus ouvidos.
— Amém. Adeus — desliguei antes que ela encontrasse outro motivo para continuar falando.
   Joguei o celular para o lado e fechei os olhos, ouvindo apenas o som do silêncio.
    Por um segundo, considerei a possibilidade de ir atrás de Victória, mas a descartei no instante seguinte, quando me lembrei de tê-la visto conversando, animadamente com Ellen, Lorena, Rafael e Isaac. Sabia que ela era uma garota legal e quando ouvisse as mentiras de Lorena, provavelmente ficaria do lado da sonsa. Em parte, eu até era capaz de compreender; quem ficaria ao meu lado, afinal? Quer dizer, haviam certas pessoas, mas elas não estavam aqui e continuar pensando nelas não me ajudaria em nada; muito pelo contrário.
      Precisava seguir com a porra da minha vida.
     Precisava disso quase como precisava de ar.
      Mas eu não conseguia. Sendo sincera, eu nem devia estar tentando de verdade, pois gostava de saber que havia alguém que poderia sentir saudades de mim tanto quanto eu poderia sentir saudades dela. Dizem que saudade é o pior dos sentimentos, mas estão errados a respeito disso, porque pior do que a saudades é a sensação de vazio. Enquanto a saudades vai te corroendo, o vazio já levou tudo embora, deixando apenas o vácuo e nada mais.

   O ranger da porta me faz abrir os olhos.
    Coloco a cabeça para fora do beliche para descobrir quem é, mas esse garoto eu não conhecia.
     Ele era alto, tipo, bem alto mesmo. Tinha uma pele bronzeada, o que me levava a acreditar que não era da cidade, e seus cabelos eram escuros assim como seus olhos. Vestia uma camisa preta de uma banda de rock desconhecida, calça jeans e all star. Consigo trazia uma enorme mala e uma mochila sobre os ombros.

      O garoto sequer me olhou, apenas jogou a mochila na cama abaixo de mim e se deitou.
   Revirei os olhos.
   Estava cercada de idiotas, não era possível.
— Oi, pra você também, senhor educação — murmuro ironicamente.— Estou bem sim, obrigado por perguntar.

— De nada, senhora ironia — murmurou de volta. Me levanto do beliche, disposta a procurar um lugar mais calmo para fazer o que estava fazendo antes: nada. Mas era melhor do que ficar ali, aturando o sarcasmo e a falta de educação de um novato que acabara de chegar. Honestamente, a única pessoa mal educada e sarcástica que era obrigada a aturar, era eu mesma. E isso já estava de bom tamanho. — Hey, espera!

   Estava quase na porta do quarto quando o ouvi falar.
  Me virei e ele estava alguns centímetros atrás de mim.
— O que foi?

  O garoto faz uma careta.
— Foi mal — murmurou. — É meu jeito...

— OK — continuo andando, mas agora ele estava caminhando ao meu lado.

— É sério. Eu sou assim as vezes — se justificou.

— Humm... Então as vezes você é um cuzão? E nas outras vezes? O que você é? — perguntei, o olhando de esgueira.

— Não faço a minima ideia — riu. — Mas não sou um completo cuzão sempre; só as vezes. Juro.

    Parei de caminhar o encarei, erguendo a sobrancelha.
— Jura de dedinho?

  Ele riu novamente.
— Juro de dedinho — me empurrou de leve.— Posso saber seu nome ou vou continuar ter que continuar te chamando de ruivinha?

— Continue. Eu gosto de mistérios — pisco para ele.

— Mas eu não — lhe mostrei a língua. — Sou Vinícius.

   Estava prestes a dizer alguma coisa relacionada ao seu nome, quando ouvi uma voz gritando no meio do corredor:
— LUNA, NÃO SE ATREVA A COMPACTUAR COM O INIMIGO!

   Me virei, confusa, vendo uma Victoria emburrada, que segurava o unicórnio de pelúcia pelo chifre, igual a Mônica daquele desenho brasileiro, enquanto caminhava em nossa direção.
— Espera... Vocês se conhecem? — perguntei, tentando entender a situação.

    Ambos se entreolham, fazendo uma careta em seguida.
— Infelizmente — murmuram, em uníssono.

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É URGENTE!

Primeiro, estou tentando desenvolver o livro bônus e para o primeiro capítulo preciso saber de qual dosnossos novos personagens vocês querem bônus:

1. Victória.

3. Vinícius. (Lembrando que, vocês ainda não o conhecem. Seria uma boa chance).

E a outra coisa é mais urgente ainda ainda!
Qual nome vocês querem dar o unicórnio de pelúcia da Vic?

Todas as verdades de Luna [PAUSASA]Onde histórias criam vida. Descubra agora