||15|| As fechadura que se preenchem.

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— Mas isso não é algo que você possa evitar. Foi um acidente... — sussurrei, fechando lentamente os olhos, enquanto absorvia a informação. — Por isso ele não queria ir? — perguntei, abrindo os olhos para encarar Klein, que parecia me analisar minuciosamente. Ele assente em resposta à minha pergunta e isso torna as coisas mais claras para mim.— Agora eu entendo — suspirei, desviando meu olhar para encarar a parede.
     Scott, por alguma razão que desconhecia, não pôde estar lá. E a culpa sentia por isso estava o corroendo constantemente, por isso ele queria estar aqui sempre.
      Eu não concordava com isso, mas entendia.
     Quando você começa a se culpar pelas coisas ruins que acontecem à sua volta, começa também a perceber que isso é um mal hábito viciante e autodestrutivo.
     Vamos lá, sentir culpa é importante, porém, culpa demais pode se tornar um veneno. O problema desse sentimento é que ele vicia rapidamente e quando você percebe já é tarde demais; a sua pequena e inofensiva bola de neve já despencou ladeira à baixo, cresceu e agora se tornou uma devastadora avalanche. A culpa em si é algo devastador, na verdade. Por isso, ter moderação é algo essencial, pois você precisa entender que, nada em excesso é bom, mas nada em pouca quantidade é, tampouco, satisfatório. E pior, algumas coisas são tão cruciais para a sua vida que é quase impossível conviver sem se pegar em meio à mais uma avalanche de sentimentos. Porém, é claro que, coisas impossíveis podem se tornar possíveis se você se atrever a tentar. E eu esperava que Scott pudesse ser atrevido nesse sentido também.

— Está tudo bem? — a voz de Klein me faz voltar à realidade. Ele estava apoiado na parede ao meu lado, com os braços cruzados e uma expressão de preocupação. Eu assenti em resposta.— Certeza? Olha, desculpe te contar isso assim... Na real, eu devia ter ficado quieto...

    Nego com a cabeça.
— Não se preocupe, eu fico feliz que confie em mim para me contar isso — coloquei a mão sobre um de seus braços e ele pareceu mais relaxado ao me ouvir dizer isso. Ouvi um fraco burburinho no corredor, algumas pessoas estavam se aproximando, então percebi que seria melhor que fôssemos para outro lugar. — Vamos sair daqui?

      Klein assentiu com a cabeça, abraçando-me de lado e saiu me arrastando pelo corredor.
— Alguém já te disse que você é muito quentinha? — ele me apertou, fazendo graça e isso me faz rir. — Agora eu sei o porquê Scott e Peters vivem abraçando você.

     Quando saímos do bloco, pude notar o quanto o céu hoje estava bonito, repleto de nuvens e formas. O sol quente queimava minha pele, mas até isso parecia algo extremamente agradável por conta do vento forte que atravessava entre as árvores.
      Me deitei no gramado verde e Klein deitou-se ao meu lado.
— Você e os meninos se conhecem há muito tempo?

     Meus olhos estavam fixos no céu, mas eu sabia que ele estava sorrindo.
— Três anos é muito tempo? Se for, acho que sim — riu. — Quando eu ganhei a bolsa, Peters e Scott haviam acabado de serem transferidos para cá. Como todos jogávamos no mesmo time, acabamos ficando muito amigos e aqui estamos até hoje.

— Vocês tem sorte...

— Por que acha isso? — perguntou, parecendo confuso.

— Porque vocês tem uns aos outros sempre. Isso é incrível.

     Senti uma leve cutucada no ombro e olhei para Klein, que estava sorrindo.
— Não sei o que aconteceu com você antes, mas agora você tem a gente, certo?

     Eu tinha?
    Ouvi a voz de Victoria me chamar antes que tivesse tempo de responder, e quando olhei para o lado me deparei com ela, Vinicius, Peters, Scott e Alex vindo em nossa direção. O estranho era que eles pareciam velhos amigos mesmo que tivessem acabado de se conhecer; Alex e Victoria estavam com os braços entrelaçados e acenavam freneticamente, enquanto Scott, Peters e Vinícius pareciam discutir de maneira animada sobre algum assunto aleatório. Olhando assim, parecia que eles se conheciam a uma vida e não em pouco tempo.
    Sentia uma estranha sensação dentro do peito ao observá-los assim. Algo parecia crescer e esse sentimento, pelo menos agora, era algo gostoso de sentir.
   "Não sei o que aconteceu com você antes, mas agora você tem a gente, certo?"
   As palavras de Klein me atingiram com força.
   Ele estava certo.
   Eu não estava mais sozinha.

    As rachaduras em meu coração pareciam ter sido preenchidas, mesmo que só um pouco.
 

Era essa a sensação de pertencer há algum lugar?
    Se fosse, era a primeira vez que eu a sentia e não queria que ela fosse embora.

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Mais sumida do que eu, só o Shawn Mendes.
V O L T E I :)

Todas as verdades de Luna [PAUSASA]Onde histórias criam vida. Descubra agora