Se faço algo errado, eu me ferro.
Se tento fazer algo certo, eu me ferro.
Se não faço nada, eu me ferro.
Se eu respiro, eu também me ferro.
Acho que o universo deve ter um sério problema comigo, porque não é possívelEstava eu agora, rodopiando na cadeira giratória da diretoria, enquanto arrancava distraidamente a bandagem solta dos curativos em meu punho e assentia com a cabeça, fingindo estar atenção na bronca desnecessária que o Edward-que-não-é-o-Cullen me dava.
— As férias mal começaram, Luna! — exclamou, sentando-se em sua cadeira.— Mas aqui está você, indo novamente para a detenção! — ouvir a palavra "detenção" me tira uma careta. Chamar o trabalho escravo que tínhamos de detenção é um completo insulto à tudo aquilo que vemos nos seriados dos EUA, mas Edward preferia enfeitar as coisas, então, trabalhar na manutenção e arrumação do colégio era, para ele, considerado uma detenção melhor do que deixar os alunos passando algumas horas sentados em uma sala morrendo de tédio. — Eu não sei o que fazer com você!— Então não faz nada — murmurei. Isso, era o que de fato deveria acontecer, já que mais uma vez eu não era culpada e mesmo assim as pessoas pareciam querer que eu fosse. — O Vinicius e a Victoria já te contaram o que aconteceu, então porque droga eu ainda estou aqui? — perguntei, irritada. E eu não podia ficar irritada de jeito nenhum; não sem meus remédios.
Respirei fundo, voltando a puxar as ataduras em minha mão. Focar em algo me ajudava a manter a calma; ou a tentar mantê -la, pelo menos.
O ouvi suspirar.
— Bom, o meu sexto sentido está me alertando que você está me escondendo alguma coisa — falou pensativo. Mal sabia ele que eu sempre estava escondendo alguma coisa. — Só não sei ainda o que é.E se depender de mim, nunca saberá de nada.
Parei de mexer nas bandagens para olhá-lo.
— Sexto sentido? — perguntei com incredulidade. Eu precisava mudar o foco dessa conversa e provocá-lo era a minha única saída mais rápida.— Isso é coisa dos seus poderes de Vampiro ou o que? — era evidente o tom de deboche em minha voz.Parecendo ignorar o que acabara de dizer, como sempre, Edward continuou falando:
— Não sei muito sobre você, mas o suficiente para saber que mente sobre muitas coisas — afirmou.Coloquei as mãos sobre a perna, para que ele não pudesse vê-las, então comecei a arrancar as bandagens dos punhos. Deixar minhas mãos ocupadas estava me ajudando a me manter calma, só não sabia por quanto tempo.
Ergui o olhar novamente para olhá-lo.
Aja naturalmente, repeti para mim mesma. Irrite-o e poderá sair daí.
— Ótima análise. Gostaria substituir o meu psiquiatra? Ele está velho, mas... — Edward, por algum motivo, estava olhando fixamente para o chão.— O que há de tão interessante aí, afinal? — ele permaneceu em silêncio. — Edward?!Ele ergueu a cabeça para me olhar e notei que estava mais pálido do que o normal.
— Sangue... — murmurou baixo.— Acho que é da sua mão. Não está doendo? — perguntou, parecendo estar nervoso. Neguei com a cabeça, mas não levantei a mão ou sequer me movi. — Está tudo bem mesmo?— Esse era o problema: eu não sabia se estava. Fiquei quieta. — Certeza de que não quer me dizer o que houve de verdade aquele dia? — acontece que eu havia inventado uma desculpa qualquer, apenas para que ele me deixasse em paz e parasse de perguntar sobre o que houve com o espelho do banheiro. Sabia que ele não havia acreditado em uma palavra e só estava esperando o momento certo para me confrontar. E esse momento havia chegado. Infelizmente. — Pode contar — me incentivou. — Prometo que não castigarei você ou algo assim — na verdade, um castigo seria melhor do que o olhar de pena que eu sabia que ficaria estampado em seu rosto assim que ele soubesse de tudo; Era sempre assim. As pessoas sempre dizem que não irão julgar você. Algumas acabam até não julgando com palavras, mas um simples olhar denuncia tudo. Eu não precisava que esse homem me visse como a garota descontrolada que desconta sua raiva no espelho do banheiro, ou, tampouco como a garota que as vezes precisava se machucar para poder sentir algo real. Não, os demônios eram meus e eu tinha que conviver com eles sozinha. Não precisava da pena de ninguém.— ... Eu só quero ajudá-la — o ouvi dizer, mas não estava prestando atenção. Meus olhos estavam encarando minhas mãos cobertas pelos cortes que eu até havia esquecido que estavam ali. Acho que o sangue me fez perceber que algumas feridas por mais que a gente tente ignorá-las ainda continuarão ali; E eu não estava apenas me referindo às feridas físicas e externas, mas das internas principalmente. Essas eram as mais difíceis de cicatrizar, porque precisavam de mais tempo e, muitas vezes sequer cicatrizavam completamente. — Está tudo bem? — perguntou novamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Todas as verdades de Luna [PAUSASA]
Roman pour AdolescentsLivro 2. Pelo que diz o nosso velho amigo dicionário, a mentira nada mais é do que o ato de esconder, ocultar a verdade, por isso, acredita-se que esses dois antônimos são duas coisas distintas, quando na verdade eles não são - muito pelo contrá...