6. Enlatados, congelados e ex namorada vadia

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Enquanto empurrava o carrinho do supermercado pelos corredores, James se apoiava em sua bengala, andando ao meu lado.

— O que você vai fazer?

— Qualquer comida enlatada ou congelada que fique menos de 20 minutos no microondas.- Parei de andar e empurrar o carrinho, fazendo ele parar ao sentir que o carrinho não andava mais.

Abri a geladeira que na verdade é um freezer, sei lá o nome daquilo e retirei lasanha, hamburger, batata frita e besteiras fáceis de ficarem prontas.

— Você tem quantos anos?

— Vinte e três.

Coloquei as coisas no carrinho, pegando alguns refrigerantes.

— Você come comida congelada todos os dias?

— Qual foi, é uma entrevista agora?

— Só responde.- Ele mudou o peso do corpo para a outra perna, passando a mão na barba que estava começando a ficar meia por fazer.

— Sim, é mais barato comer comida congelada, não gasto tanto e economizo tempo, satisfeito?

— Você tem vinte e três anos e come comida congelada todos os dias... porque? Não sabe cozinhar ou tem preguiça?- Ele abriu um sorriso convencido, voltando a andar e seguir o meu ritmo.

O silêncio disse tudo, nem precisei responder.

Ele riu.

— Vinte e três anos e não sabe cozinhar? Fala sério...

— Vai me falar que você é machista?- Parei, me virando para encarar ele. Ele ficou sério.

—Não claro que não, imagine, eu ser machista... só estou querendo dizer que não é nada saudável pra você comer comidas congeladas todos os dias. Sexta e sábado a noite até vai, mas dia de semana... não é a estética, o corpo, sabe? Saúde, pressão alta e diabete.

Suspirei.

— Fala sério, vai querer me dar lição de moral? Vai dizer que você cozinha?!

— Sim, eu cozinho.- Sorriu.— Minha mãe era empregada na casa de uma família antes de conseguir ter seu próprio restaurante e ser chefe, e eu também fiz educação física... de manhã eu sou professor de crianças e de tarde sou personal trainer.

Confesso que aquilo me pegou de surpresa.

— O que você sabe cozinhar?– Perguntou, parando e tateando o carrinho, tirando algumas coisas que eu tinha colocado.

— Miojo e comidas congeladas?

— Isso foi uma pergunta ou uma resposta?

Revirei os olhos.

— Eu sei fazer miojo!

Ele gargalhou.

— Nesses próximos dias que não sei quanto tempo vai durar, que tal eu te ensinar a cozinhar? Se você quiser, é claro... E você pode me ensinar a sei lá, não morrer intoxicado pela sua comida séria ótimo!

Dei um tapa no ombro dele, rindo.

— Deixo você fazer carinho no meu gato, que tal?

— Parece bom.

Ele sorriu enquanto eu tirava todos os congelados do carrinho e colocava eles de volta ao freezer.

— Vamos as verduras primeiro.– Ele falou, me seguindo tranquilamente.— Pegue cebola, cenoura, tomate, salsinha, cheiro verde, coentro, alho, milho, ervilha e batata.

Torci o nariz ao ouvir ele falar de tantas coisas, algumas que eu nem gostava.

Deixei ele perto do carrinho enquanto pegava vários daqueles plásticos.

— Pegue os mais bonitos, aperta pra ver se tá bom, pode até cheirar... não aperta muito pra não machucar e não pega os machucados ou com mancha.

Imitei ele, revirando os olhos e agradecendo que ele não pudesse ver.

— Pego muito ou pouco?

— Quatro cebolas, dez batatas...– E a lista continuou.

Após colocar nos saquinhos plásticos amarrava e colocava no carrinho.

Pegamos frutas, algumas carnes, sucos naturais e andamos o mercado todo praticamente, conheci outros lugares além do corredor dos congelados.

Só queria ver quanto daria tudo aquilo, teria que parcelar em umas cinco vezes.

— Posso pegar um pote de sorvete?– Pedi, fazendo biquinho, mesmo que ele não pudesse ver.

— Sorvete? Sei não...– Passou a mão no rosto.

— Por favorzinho, é a única besteira que eu peço.– Quase choraminguei.

— E se eu te ensinar a fazer pudim? Que tal?

— Você consegue cozinhar sem enxergar? Porque eu não sei se dou conta...

— É claro que você dá conta e pra levantar sua autoestima vamos pegar sorvete.– Suspirou, se dando por vencido.

Abri um sorriso convencido, caminhando pelos corredores.

Estávamos no corredor dos freezer com sobremesas, quando ouvimos alguém atrás da gente.

— James?

Me virei para trás, vendo ele parado, tenso e simplesmente ele não virou para olhar quem era... ele não enxergava mesmo, mas não ousou se virar.

Uma moça loira, alta, magra, arrumada, muito bonita, parecendo ter saído de uma passarela, sorria para nós, empurrando um carrinho com coisas fitness e naturais.

Ele se virou, mesmo que não pudesse vê-la, pude vir suas costas tensas.

Apenas a voz dela desconcentrava ele.

— O que faz por aqui? Não deveria estar na academia?– Perguntou, se aproximando toda sorridente e alegre.

Aquela era a ex namorada que Sirius tinha falado.

Passei as mãos ao redor do ombro dele, abraçando ele de costas carinhosamente, acariciando o cabelo dele.

Ela ficou séria repentinamente.

— Amor, quem é essa?– Perguntei tranquilamente.

— Uma amiga.– Ele continuou com a mentira.

Me adiantei, puxando ela para um abraço e beijando a bochecha dela.

— Prazer, Lily, namorada do James, e você é...?

— Carly.– Empinou o nariz, se afastando de mim.— James porque está com óculos e bengala?

— Ele fez uma operação, é por isso que não está indo trabalhar. Tá ficando no meu apartamento, mas fica tranquila, Carly, estou cuidando muito bem dele.– Sorri.

— Vamos pra casa, tchau.– Se despediu seco, começando a empurrar o carrinho sem direção e quase passando por cima dela, o que me fez rir.

Segui ele, antes passando por ela e jogando beijinho.

— Bom, estamos indo, foi um prazer, até qualquer hora, Carlyzinha!

Quando chegamos ao outro corredor, caímos na risada.

— Como você soube que ela era minha ex? Ta adivinhando agora?

— Deduzi, eu pego as coisas no ar.– Continuei empurrando o carrinho até o caixa, com um sorriso no rosto.

Tirei o cartão após ver o valor da compra que tinha dado um pouco alto, mas James passou o dele primeiro, no débito ainda.

Fiquei encarando ele, séria, mesmo que ele não pudesse ver.

— Quem disse que eu preciso que você pague alguma coisa pra mim?

— Não estou pagando pra você, essas coisas são pra aulas que você vai ter comigo e depois eu vou comer de qualquer jeito.

Suspirei.

Idiota.

Aquela em que James Potter não enxergaOnde histórias criam vida. Descubra agora