O elfo e a princesa negra

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O lobo estava ofegante, o coração batia forte, rosnou para a pedra.
- Não se preocupe, ninguém vai usar isso, é só um enfeite. O elfo ficou surpreso ao saber que Peter conhecia aquele artefato.
- Isso é uma pedra de sangue! Sabe o que ela faz?
- Garanto que ninguém vai usar isso, está aí só de enfeite.
- Um enfeite macabro não?
- Eu ganhei de um amigo a uns cento e poucos anos, que ganhou de outro amigo.
- Então não era um bom amigo.
- Não pretendo usar ela, sei o que acontece com aqueles que usam: se tornam poderosos em troca da própria vida e alma, mas essa não é uma pedra de sangue comum é tem uma essência de caos cristalizada em sal de prata, quem usa não precisa pagar com a vida.
- E isso é possível? Peter pareceu confuso.
- Sim, quem criou essa técnica foram os antepassados da Camila, que viveram por aqui.
- Em minha alcatéia tínhamos que destruir todas as pedras de sangue que encontrássemos.
- Para nós elfos também, sequer podíamos tocar. Mas quando eu soube dos estudos sobre isso a oportunidade te ter uma apareceu e eu agarrei.
Alexandre contaria uma fascinante e hiperbólica estória, mas Camila percebeu ele só queria tirar o foco das negociações de valores. Após algum tempo de prosa um empregado chegou com uma notícia. Uma oportunidade surgiu, um mercador precisa de uma escolta urgente, mas aquela era uma ocasião importante e o elfo estava relutante. Camila argumentou, falou principalmente das habilidades de Peter, pelo fato de ter uma ótima audição e olfato. Alexandre acabou sedendo, ele sabia que tinha poucos batedores naquele momento.

A urgência falou mais alto, o mercador que seria escoltado fez um comentário, disse que Alexandre estava rodeado de animais e pagãos, o elfo respondendo com um tom firme: mandou o mercador contrar os serviços dos cavaleiros. O Charles era um caixeiro viajante, também não tinha boas relações com os senhores feudais, sempre escolhia rotas afastadas para não pagar impostos aduaneiros.

Antes de partirem o elfo pensou: se algo desse errado? Alexandre não colocaria aquela viagem nos registro.
Alexandre, não confiava totalmente em Camila que era uma amiga que sempre lhe trazia problemas, ele tinha uma dívida com a família dela, antes da guerra, antes de Tawaral. Além disso, Camila salvou a vida dele uma vez. Após a partida Alexandre voltou para sua sala e ficou olhando a pedra de sangue, tirou da proteção e segurou, por um momento, sentiu se imerso em mar ensanguentado, lembrou da guerra que fundou o país , ele olhou para a janela, sentiu o cheiro de chuva, o gosto da terra, mas não era água que caia, era sangue, chamas por todos os lados. Voltou a realidade quando soltou a pedra na mesa, o passado parecia sempre trazer uma ressaca. Alexandre tenta tomar mais um golhe vinho, mas gosto já não era o mesmo.
Para a vida longa de um elfo ser salvo por alguém significa muito. Alexandre, antes de se render completamente a vida humana, nutria um ódio pela humanidade, que na verdade era medo do que viu durante a guerra. Uma vez ele levava uma carga valiosa pela floresta que ficava entre a capital do país e o porto, um grupo tentou assalta-lo, foi traído pelo próprio contratante, ele sairia como alguém que tentou fugir, um desertor morto em fuga, foi cercado, lutou com o arco, ele conseguiu sobreviver, mas ateram fogo na floresta, e assim ele conheceu Camila. Uma princesa  negra do trono de prata que emergiu das chamas com uma espada de prata. Assim como Alexandre caiu de um elfo de linhagem pura, para um bêbado, Camila se tornara uma viciada em jogos de azar.

Estava na metade do verão, enquanto a chuva era fina, a caravana partia, era um bom sinal. A viagem duraria cinco dias. Peter só chegou a perguntar isso cerca de uma hora após partirem. E como não trouxeram comida o lobo teria que caçar tudo que encontrasse. Camila disse apenas que era uma questão de  oportunidade, não havia tempo para pensar. O lobo fitou Camila e pareceu chorar. O caminho continuou monótono até a primeira lua aparecer no céu, Charles não fazia questão de conversar.
Camila estava cansada do silêncio, estava impaciente, a capacidade de Peter em não se expressar com palavras era assustadora, além disso, uma conversa com Charles levaria a uma briga, demorada e sem sentido.
Camila começou a sentir frio, só trouxe o próprio cobertor, Peter disse que não iria dormir ficaria acordado de vigia.
O balanço e o medo de cair da carroça impedia Camila de fechar definitivamente os olhos, ela estava sozinha na parte de trás. Chales e Peter estavam na frente.

O lobo branco e princesa negraOnde histórias criam vida. Descubra agora