Capítulo 2

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O delegado Ribeiro enxugou a testa com um lenço de papel e olhou pelo vidro. Havia uma multidão lá fora. Perto dele, seus ajudantes não sabiam o que fazer e o olhavam com irritante condescendência. Ele respirou fundo e abriu a porta, e uma explosão de luzes e vozes o atingiu. Em toda a sua feliz carreira, era a primeira vez que ele encarava um assalto bem-sucedido e quase inexplicável.

— Senhor delegado — se adiantou um jornalista de óculos. Havia homens organizando a bagunça. — O que já se sabe sobre o assalto dessa madrugada?

— Bom dia. Por enquanto, não vamos dar detalhes para não atrapalhar as investigações. Mas adianto que estamos trabalhando com ótimas pistas.

O delegado desviou do jovem para atender outro, mas ele era insistente.

— Senhor, é verdade que o explosivo usado no assalto é indetectável e não deixa nenhum resíduo?

— De onde vocês tiraram isso?

— Senhor, senhor? — o jornalista insistiu, mas um soldado o interrompeu. O delegado continuou a responder perguntas, dessa vez, a uma mulher.

— Bom dia, delegado. Como o governo está lindando com a recente crise na segurança do país?

— Que crise? — respondeu ele, com irritação. — Não estamos em nenhuma crise. Há quanto tempo não temos um assalto desse tipo? Dez anos? Isso não é crise.

— O senhor acredita que esse assalto tenha relação com os atentados às hidroelétricas no Vale do Éden?

— O quê? O que uma coisa tem a ver com a outra? — Ele tentou se desvencilhar das perguntas da jovem, mas não conseguiu. Ela não cedeu a vez.

— O Banco Nacional tinha tesouros de valor imensurável. Alguma coisa foi recuperada? Qual o montante levado pelos assaltantes?

— O montante está sendo calculado e já efetuamos algumas prisões. Não vamos divulgar mais nada para não atrapalhar as investigações.

Sob pedidos de declarações e perguntas, o delegado voltou para seu refúgio. Lá dentro, enxugou o rosto e se sentou.

— Inferno! — Olhou em volta, pegando um cigarro. — Alguém traz um café! — Depois de uma pausa, ele começou: — Como os jornalistas já sabem desse negócio da bomba de areia?

— Os próprios seguranças do banco comentaram, senhor. Foi uma grande surpresa. Por isso não foi detectada.

— Bomba de areia. Era só o que me faltava! Algum desses inúteis falou alguma coisa?

Havia seis homens detidos, relacionados ao caso, mas nenhum parecia promissor. Olhando as fotos e as fichas deles, o delegado sempre voltava na de Alison. Foi o único que tinha decidido não falar, e seu advogado era um homem irritante.

Seu aparelho comunicador emitiu um aviso e ele o pegou. Ouviu a mensagem e ficou parado, de boca aberta. Era um dos investigadores informando-o sobre uma descoberta: o apartamento vazio, que se comunicava com o de Alison pelo poço de luz, tinha sido alugado meses antes. O aluguel tinha sido contratado por um homem chamado Victor, mas ninguém tinha buscado a chave ou se mudado para lá. A administradora do prédio garantiu que o imóvel estava locado, mas desocupado.

— Victor? — disse o delegado, franzindo o cenho.

— Victor? — repetiu um dos seus auxiliares. — Meu Deus!

— Parece que alguém chamado Victor locou o apartamento-base. E não se mudou para lá.

— Foi o que pensei. Apenas uma máscara de gás foi encontrada na rota de fuga do prédio, então... alguém entrou sozinho. Além disso — o auxiliar tossiu discretamente —, um dos seguranças do banco sofreu um acidente essa semana, senhor, e o substituto se chamava Victor.

O rei está morto (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora