Capítulo 10

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Atenção: (Para quem estava lendo antes de eu reescrever a história): algumas partes desses capítulos são inéditas. 

...

O delegado estava ansioso para ver, juntamente com outras autoridades, o laudo técnico sobre as represas que haviam rompido meses antes e causado uma grande tragédia. Do lado de fora, jornalistas esperavam explicações enquanto soldados os mantinham afastados da entrada.

— Ninguém sabe que tipo de explosivo foi usado nesse crime? — questionou o Ministro do Interior, a maior autoridade presente. — Nem quem o colocou lá? Nada será divulgado até termos um nome para responsabilizar.

— Não seria isso tudo culpa da má estrutura da obra? — perguntou um corajoso secretário. Todos os olhos se voltaram para ele, que engoliu em seco e continuou: — Não é fácil acreditar que uma só pessoa, que ninguém sabe quem é, carregou explosivos suficientes para detonar tudo aquilo, e saiu ileso, sem deixar rastros. A não ser que não seja humano...

— Estrutura da obra? Ora essa! A estrutura estava ótima.

O secretário não se deu por vencido, e um policial técnico da equipe do capitão interveio.

— Como no caso do assalto ao banco, o explosivo é compacto, com alto poder de destruição, e indetectável. Uma coisa nova. Imagino que possa ser carregado por uma ou um pequeno grupo de pessoas.

— Se já foi usado pelo menos duas vezes, não é novo. Por que ainda não temos ideia do que se trata? — O rosto do Ministro estava vermelho e suado.

— Acreditamos que seja algo produzido artesanalmente, senhor, usando materiais simples e legais. Não é nada que exista no mercado de armas.

— O quê? Vocês estão de brincadeira. — O Ministro respirou fundo antes de mudar o rumo da conversa. — Tivemos notícias de alguém chamado Victor ultimamente?

— Bom... — o policial pigarreou. — Sempre temos, senhor, mas é difícil filtrar o que de fato é relevante.

— Então não filtre. Investigue tudo.

— Mas recebemos muitos alarmes falsos, senhor. Alertas de bombas que não existiam, ataques que não aconteceram, sequestros cujas vítimas estavam descansando tranquilamente no campo. Porém... — Ele mudou de posição, desconfortável com toda a atenção que estava recebendo. Seis homens de posição elevada dentro da segurança nacional estavam ouvindo. — Bem... estão circulando alguns bilhetes escritos a mão, à várias mãos. A patrulha interceptou alguns e prendeu dois vagabundos que dizem ter sido pagos para os espalhar pela cidade. Juram que foi uma mulher de setenta anos, de pernas tortas, que os contratou. Aqui estão os bilhetes. Como podem ver, parece o meio de comunicação de um grupo, em código simples. Facilmente legível. Marcam um encontro para o mesmo horário da manifestação do partido novo, no dia 30 desse mês, e no mesmo local. Se referem ao líder como "Rei Victor". Por esses bilhetes, entendo que eles estão planejando ações para o dia das manifestações. Veja pelo senhor mesmo.

O policial técnico do departamento entregou alguns papeis ao Ministro sob a aprovação de seu superior, capitão Lincoln. Ele já tinha os visto e tirado suas próprias conclusões.

— Isso é sério? — O Ministro ficou estupefato com a afirmativa do capitão. — Parece uma brincadeira boba.

— Pois é, tudo ultimamente tem parecido uma brincadeira boba, mas as coisas estão acontecendo — disse o capitão. — Nós optamos por levá-los a sério.

— O que tem esse partido novo? — Continuou o Ministro devolvendo o bilhete de papel de embrulho amassado.

— É só um bando de delinquentes que vivem em albergues e exigem direitos. Só que, dessa vez, alguém os está financiando, e um nome de peso se juntou ao grupo. Antes, era a piada das eleições, agora está se tornando sério.

— Não seriam esses bilhetes obra deles mesmos para aguçar a curiosidade das pessoas e atraí-las para a manifestação? — perguntou o atual prefeito da capital. Ele estava no cargo há quase doze anos e, segundo a lei, não poderia se eleger mais. — O delegado deveria manter esses indesejáveis em seus lugares. Prosperamos ao garantir a limpeza dessa cidade e não podemos perder isso deixando-os crescer como ervas daninhas. E a lei contra a vagabundagem? Eles deveriam estar todos presos.

O delegado Ribeiro, calado até então, enxugou a testa antes de falar.

— Não deixamos de trabalhar nisso um só dia, prefeito, mas não depende apenas de nós. Sem energia e sem tecnologias básicas, as pessoas têm se irritado. Nem todos têm como gerar sua própria eletricidade, senhor Ministro, e isso não pode ser ignorado. As pessoas querem respostas.

O ministro bateu na mesa para intensificar o efeito de suas palavras.

— Prisões! Precisamos prender os autores desses atentados e mostrar que estamos em ação. Os do banco, os da represa. Onde estão?

— O capitão, com a carta branca dada pelo senhor, optou em libertar os envolvidos no caso do banco — acusou o delegado.

— Aquelas crianças infelizes? Ora, delegado, as pessoas não são assim tão tolas. Precisamos de provas para prender alguém. Ou de um suspeito mais convincente para não parecermos desesperados.

— Arranje-o — disse o ministro. — E evitem novos atentados, a qualquer custo. Se esses explosivos não são delírio de vocês, nós temos uma empresa de tecnologia contra nós. Pode ser, inclusive, o financiador desse partido novo. Essa tecnologia é ilegal, então, se soubermos de onde ela vem, teremos motivos para deter seus responsáveis.

— Falemos dele à imprensa? — quis saber o secretário. — Victor é nome que os jornalistas mais gostam de colocar em suas manchetes.

— Não, de forma alguma! Nenhuma palavra à imprensa. Escondam esses laudos. Se esse Victor existe, é exatamente isso o que ele quer. Fama. Vamos frustrá-lo em sua vaidade não dando nenhuma pista à imprensa. Ele precisa ser esquecido.

— Isso não o fará atacar novamente?

O Ministro coçou o queixo, pensativo.

— Teremos que arriscar. Se ele existe, de fato, terá que trabalhar pela sua imagem. Rei... era só o que me faltava. O que ele quer? Derrubar o governo e instalar uma monarquia no país? Ele que lute!

— Ele vai atacar de novo — disse o capitão, resoluto. — Desculpe, senhor Ministro, mas essa é uma certeza. Até agora, ele não fez nenhuma exigência, mas estou bastante convencido de sua existência.

— Seu departamento está responsável por encontrá-lo, capitão. Cumpra o mais rápido possível, com o mínimo de publicidade.

— Estamos trabalhando numa linha que pode levar à sua identidade em pouco tempo, senhor Ministro. A questão é que pode haver mais de uma pessoa. Dificilmente ele consegue toda essa movimentação sozinho.

— Descubra-os e os tire de circulação. Não podemos deixá-los fazer o que quiserem com a imprensa. Vamos monitorar os jornais independentes, intensificar o combate aos dispositivos contrabandeados, e manter os olhos nesse partido novo.

Os subalternos assentiram, e a reunião se encerrou. O delegado e o prefeito estavam irritados, pois era a eles que a imprensa se dirigia. A crise energética na capital atingia cada vez mais pessoas, e não só os que não tinham condições de gerá-la. E a desconfiança da população crescia.

...

Continua... 

O rei está morto (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora