Capítulo 15

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Lorenzo não tinha nada importante no albergue que compensasse o trabalho de buscar, então não foi para lá. Mais tarde, mandaria um recado para Dona para que ela não inventasse de procurá-lo. Desembarcou próximo a um bairro nobre. Tocou a campainha de uma casa e chamou por Edgar, e a empregada de sempre veio atender-lhe. Entregou-lhe um envelope, e ele seguiu até uma rua mais movimentada. Parou em uma loja de roupas e escolheu algumas. No provador, abriu o envelope que tinha recebido. Havia dinheiro, documentos e uma fina embalagem de plástico transparente, a qual ele abriu com cuidado. Com a ajuda da própria saliva, ele vestiu nas mãos películas transparentes que ficavam imperceptíveis. Pagou as compras com dinheiro e passou em outras lojas, sem pressa, sempre usando os provadores. Horas depois, um jovem de cabelos louros e olhos claros saiu de um mercado.

Ainda a pé, ele se dirigiu a um prédio de apartamentos de entrada eletrônica. Suas digitais artificiais permitiram a sua entrada e ascensão até a cobertura. Quando chegou ao apartamento, ele se apressou em abrir as janelas. A única planta natural, num grande vaso na sala, estava seca.

— Droga! Eu devia ter deixado alguém cuidando disso! Que cheiro de morte!

Depois de permitir a ventilação no imóvel, Lorenzo se sentou em frente à uma escrivaninha. Sobre ela estava um computador.

— Olá, amigão! Quanto tempo, hein?! Você ainda funciona?

Lorenzo o ligou e verificou os arquivos. Abriu uma pasta de jogos e escolheu um semelhante ao xadrez convencional. Lutando contra o cansaço e a lentidão da máquina, ele escreveu alguns nomes nas peças pretas e brancas. Ensaiou algumas jogadas contra a máquina e perdeu todas. Acabou dormindo em sua cadeira confortável. Quando acordou, horas depois, estava com o pescoço dolorido. Virou-o de um lado para outro, apertando os olhos.

— Inferno!

De aparência nova, Lorenzo tomou um ônibus para fora da cidade. Numa área rural bastante povoada, onde grandes casas cercadas de segurança se destacavam em meio a plantações, ele desembarcou. Caminhou beirando a rodovia até uma propriedade bem cuidada, repleta de pássaros, e cercada com a mais impenetrável das cercas. Lorenzo passou em frente ao portão principal, deu a volta à propriedade e chegou a um portão menor, oculto na vegetação, quase sombrio devido a todo o verde que tinha em volta. Introduziu as mãos num aparelho de aparência antiquada e o portão se abriu sem barulho. Uma trilha discreta levava à casa, uma grande construção de referências europeias. Árvores e arbustos escondiam recursos de segurança, mas estes reconheciam o jovem visitante. Ele caminhou tranquilamente pelo lugar. Não se dirigiu à imponente entrada da casa, mas deu à volta até os fundos onde grandes janelas de vidro deixavam à mostra estantes de livros do chão ao teto. Uma rica biblioteca com vista para o suntuoso jardim.

Um homem de cabelos brancos e óculos na ponta do nariz trabalhava numa mesa recuperando livros antigos. Ao sentir que estava sendo observado, ele olhou em volta. Ajeitou os óculos, apreensivo.

— Quem está aí? É você, Flitz?

— Não — respondeu Lorenzo, entrando pela janela sem nenhuma dificuldade. — Sou eu, tio Max.

Ao ver Lorenzo, o homem se assustou. Passados alguns segundos de tensão, ele abriu um sorriso e correu ao encontro do recém-chegado.

— É você, filho? Está tão diferente! Quase não o reconheci. Céus, você quase me matou! — Eles se abraçaram com força. Ao soltá-lo, o homem o olhou mais detidamente. Passou a mão em seu rosto. — Onde você esteve esse tempo todo? Não me deu nenhuma notícia! Tem ideia de como eu fiquei aflito?

— É uma longa história, tio.

— Ande, me conte tudo! Estou ansioso para saber.

Lorenzo beijou o rosto do velho e se desvencilhou do seu abraço.

O rei está morto (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora