Capítulo 7

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Lorenzo olhou no relógio que ficava no bolso. Estava quase na hora. Ele estava oculto pela pilastra, no beco, atrás do supermercado, e sentia as pernas tremerem. "Merda!", pensou ele. "Até parece que estou prestes a cometer um crime". Moveu a língua por toda a boca para dissipar a secura e respirou fundo. "Você já fez isso antes, idiota!"

Quando Alison saiu do trabalho, ele correu e o alcançou. Alison estava abatido e seus passos rápidos destoavam de seus ombros caídos. Era a vontade de chegar logo àquele colchão e descansar até a tarde seguinte.

— Calma, jovem! — disse Lorenzo.

— Oi! Você me assustou.

— Desculpe! Eu estava te esperando.

— Legal. Vamos juntos até onde puder.

Lorenzo apontou a mochila que o outro levava.

— O que tem aí dentro?

— Meu uniforme. Estou levando para lavar. Tem que estar seco até amanhã, então vou lavar no banho.

— Não vai demorar muito? Eu posso te ajudar. — Os dois riram, então Lorenzo corrigiu: — Quer dizer, eu posso lavar na pia enquanto você toma banho no banheiro.

— Ah, não quero incomodar.

— Não incomoda nada. Hum, estou levando um lanche para você. — Ele mostrou a sacola.

— Puxa, assim você me deixa sem graça. Hoje nem é meu aniversário.

— E daí? Você trabalha, está cansado, e me deixa dormir ao seu lado na cama. Só quero retribuir a gentileza. O colchão é seu, não é?

— Isso não é nada. É só um cantinho no colchão.

— Por favor, não diga que você faria isso por qualquer um. Me deixa continuar iludido!

Alison riu.

— Não, qualquer um não. Só você. Você é gentil, e se cuida, coisa que a maioria não faz. Agora que falta luz elétrica, nem todo mundo toma banho.

— Por acaso notei que você também cheira bem.

Os dois se olharam, depois riram.

— É verdade, porra! — disse Lorenzo. — É impossível não sentir.

— Que bom que você gostou. Você também... você é legal.

Caminhando lado a lado na calçada, as mãos deles se tocaram. Alison recolheu a sua, olhando em volta. Lorenzo tossiu, para disfarçar.

— Estou confundindo as coisas?

— Não.

— Então... eu tenho chances contigo?

— Hum... talvez.

No alojamento, a maioria das pessoas estava acordada. Com rústicas lamparinas, eles faziam roda de conversa, cantavam, comiam e bebiam. Como não podiam sair, não havia muito o que fazer à noite. Apenas os mais velhos e os que tinham um emprego formal tentavam dormir cedo.

Lorenzo e Alison chegaram, combinadamente, com alguns minutos de diferença entre um e outro para não chamar a atenção. Apesar de muitos fazerem vista grossa, o namoro entre pessoas do mesmo sexo não era permitido.

Alison foi ao quarto improvisado, pegou alguns objetos e seguiu para o banheiro. Lorenzo estava lá ajeitando a única lâmpada, e quando viu a porta em que Alison ia entrar, pediu que ele entrasse em outra. Alison obedeceu e, para sua surpresa, quando abriu o registro do chuveiro, a água caiu morna.

O rei está morto (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora