Capítulo 12

105 13 0
                                    


Alison tinha pouco tempo para aproveitar seu novo lar, e quando estava em casa, raramente via o Victor. Esse costumava ficar em seu quarto, às vezes era visto no sofá, mas a maior parte do tempo ele passava ausente. Alison não sabia onde ficava a universidade, mas imaginava que era longe. Não sabia nem o nome dela.

Na segunda semana no apartamento, quando chegou do trabalho, Alison encontrou Victor na sala, com um livro. Apenas um abajur o auxiliava em sua leitura; o restante do apartamento estava escuro. Alison teve receio de incomodar o taciturno professor, mas ele o recebeu amavelmente. Parecia menos mal-humorado dessa vez, o que animou o jovem a fazer um pedido. Depois de lavar as mãos e pensar por uns instantes, Alison se decidiu:

— Victor, será que eu poderia... por uns momentos, na minha folga...

— Sim? — respondeu Victor sem tirar os olhos do livro. — Estou ouvindo.

— Será que eu poderia trazer um amigo aqui? Ele não...

— Ele fuma?

— Não!

— Então — o professor deu de ombros —, é por sua conta e risco.

— Obrigado.

Como o professor voltou à leitura, Alison resolveu não o incomodar mais. Foi à cozinha fazer um lanche, cuidando para não fazer barulho. Ele cumpria à risca a exigência do Victor de não ocupar mais que sua cota no espaço da geladeira. Usava o eletrodoméstico com cautela devido aos potes escuros que o professor colocava lá dentro, e cuidava de embalar bem seus vegetais, quando os comprava.

A sua folga da terça-feira foi marcada por lavagem de roupas, descanso e preguiça. À tarde, ele saiu para rever Dona e tentar encontrar o Lorenzo. Apenas nos dias de folga Alison se dava conta de que Lorenzo não cumpria à risca as exigências de sua liberdade condicional. Dois meses depois de ter deixado a prisão, Lorenzo ainda não tinha um emprego, não se esforçava para consegui-lo, e ficava na rua por muito mais tempo do que o estipulado. Por outro lado, ele era engenhoso e se virava bem com suas invenções. Carismático como era, não conseguia um bom emprego porque não queria. Devia ganhar dinheiro no mercado clandestino.

Quando chegou ao albergue, Alison esperou do lado de fora, depois de enviar um recado à amiga. Dona apareceu e o abraçou, e o convidou para um lanche. Eles se sentaram sobre caixas, próximo à entrada, e então ele passou a contar sua rotina morando com o professor Victor.

— Como ele é? — quis saber Dona. — É bonito? Solteiro? Inteligente?

— É um velho ranzinza que nunca fica em casa — respondeu Alison. — Seria perfeito se ele não me limitasse o espaço na geladeira. Quinze por cento, é o que eu tenho direito. Nem posso reclamar, pelo preço que eu pago no aluguel. Mas se você tem algum interesse, aviso logo que não vale a pena. Ele é um pé no saco.

— Como se eu estivesse interessada em alguém. Mas... — Dona estreitou os olhos — engraçado esse nome. Você costuma ler os jornais não-oficiais?

— Que jornais?

— O que são jornais? Ah, amigo, deixa pra lá. Você vive em outra dimensão. Mas a polícia já deve ter dado uma batida no endereço desse professor.

— Por quê?

— Por causa do nome, ué. Maior sensação desse ano. Extraoficial, é claro.

— Não sabia.

— Que novidade!

— Cadê o Lorenzo?

— Por aí. Aquele é outro que brinca com a sorte. Onde ele vai, a patrulha vai atrás. Não duvido que... Ih, olha ele aí! Sempre elegante com sua jaqueta de couro.

O rei está morto (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora