Capítulo 11

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A manhã do dia 30 de outubro estava calma e ensolarada. Um céu claro garantia a quem quisesse sair de casa a tranquilidade de voltar seco e confortável. Assim, o trabalho dos militantes começou a render frutos logo nas primeiras horas da manhã. Distribuindo panfletos em forma de poemas, fazendo reuniões, shows, eles conseguiram tirar de casa uma grande multidão, sempre acompanhado de perto pelas patrulhas. Tudo orquestrado e pacífico. Às quatorze horas, Grange, o comerciante candidato às próximas eleições municipais, desfilou na ponte de seis quilômetros, e fez parte do trajeto a pé. O seu histórico de atleta e seu sorriso animavam pessoas a segui-lo.

Alison não foi ao ato. Seu trabalho no supermercado só lhe permitia uma folga quinzenal às terças-feiras, e ele estava se preparando para a mudança de endereço. Lorenzo também não foi devido ao seu problema com a polícia. Estava proibido de participar de aglomerações e de ficar na rua sem fazer nada por mais de duas horas seguidas. Outras pessoas estavam na mesma situação, portanto, o albergue não estava completamente vazio.

Quando Alison chegou do trabalho, bem mais cedo devido à sua mudança de endereço, Lorenzo estava deitado na cama, desmontando um velho aparelho celular, totalmente concentrado. Alison tentou assustá-lo chegando de mansinho.

— Te peguei! Está fazendo o quê? Uma bomba?

Lorenzo riu.

— Eu sabia que você ia chegar a qualquer momento. Não, só estou consertando o rádio para ouvir músicas clássicas e propagandas do governo. Infelizmente, não sou bom com bombas.

— Estou ansioso. Hoje é o dia em que saio daqui de mala e cuia.

— Não esqueci disso um só minuto.

— Queria que Dona estivesse, mas, ao mesmo tempo, fico feliz de te encontrar sozinho aqui. Vou sentir sua falta.

— Quer que eu vá lá contigo? Eu posso sair, só não posso passar a noite na rua.

— Melhor você não ir lá, por enquanto. Eu ainda não falei com o professor sobre levar alguém...

— Puxa! — Lorenzo fez bico.

— Mas eu vou falar. Ele vai saber que eu tenho um namorado. — Alison suspirou de cansaço. — Trabalhei como um condenado por esses dias. O Grange deve estar ainda mais rico. As lojas vivem lotadas agora que ele quer ser prefeito.

— Essa gente se ilude por pouco. Tudo bem que o cara é bonito e diz ter um bom coração, mas não vejo motivo para se juntar tanta gente naquela ponte.

— Então deu muita gente?

— Uma multidão. Dona deve estar flutuando de felicidade.

— Caramba! Que maravilha! Sinceramente, eu não estava colocando muita fé. Também estou feliz. Me dá um abraço?

Lorenzo deixou de lado as peças que estava mexendo e se levantou. Alison o abraçou e os dois caíram sobre a cama, rolando um sobre o outro. Beijaram-se até ficar ofegantes. Quando soltou a boca de Lorenzo, Alison riu.

— Então meu patrão é bonito, é, seu safado?

— Demais! Eu pegaria fácil.

— Vai lá pegar então.

— Vou não, não tenho chances.

Alison deu um tapa na bunda dele. Falou alto e de forma significativa:

— Será que tem muita gente por aqui?

— Posso jurar que tem meia dúzia logo atrás dessa cortina. Outra meia dúzia do outro lado. Não rola mesmo.

O rei está morto (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora