Capítulo 9

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Alison desejava um lugar melhor para morar. Quando tinha tempo, ele procurava um apartamento compartilhado ou qualquer outra opção acessível onde pudesse ter uma cama e um pouco de sossego. Tinha recebido um pequeno aumento e o período de experiência estava próximo do fim, e isso acrescia suas esperanças. Um colega de trabalho tinha lhe falado de um anúncio que tinha visto no ponto de ônibus, e ele estava ansioso para confirmar. Até saiu do albergue mais cedo para a entrevista. Segundo o anúncio, um professor universitário, que morava num lugar tranquilo, estava à procura de um rapaz para dividir o apartamento, e o valor era razoável. Só exigia que a pessoa não fumasse, não ficasse em casa o dia todo nem tivesse muitos objetos pessoais, e Alison se encaixava em todos esses critérios.

Alison não tinha falado sobre isso com Dona porque ela poderia ficar chateada, mas sentia uma vontade imensa de falar com Lorenzo. Ele era tão gentil, e depois daquela noite, eles estavam muito próximos. Não podiam ficar saindo juntos por causa das restrições, mas se ele conseguisse um lugar para morar, as coisas poderiam ficar mais fáceis. Mas Lorenzo tinha saído, e Alison preferiu manter segredo até que tudo estivesse resolvido.

O prédio onde ficava o apartamento em questão era todo automatizado. Não havia porteiros, vigias, nem faxineiros humanos, de forma que para entrar nele era preciso usar as digitais cadastradas e o reconhecimento facial. Câmeras vigiavam tudo. Alison premiu o botão do interfone, no número indicado, e uma voz masculina o atendeu.

— O que é? — perguntou uma voz cansada e não muito simpática.

— Bom dia. É o senhor quem está procurando alguém para dividir o apartamento? Tenho interesse na vaga.

— Ah, isso! Bem... — o homem fez uma pequena pausa. — Quem é você?

— Alison Cruz.

— Você trabalha? Quantos anos você tem?

— Vinte e dois — disse Alison. — E eu trabalho aqui perto.

— Bem... espera aí então.

Dez minutos depois, o locatário do apartamento desceu para atendê-lo. Era um homem de aparência abatida que usava óculos de grau e tinha pouco cuidado com os cabelos. Sua barba espessa mal escondia um rosto encovado e pálido. Se sentou na recepção do prédio, que estava deserta, olhou para Alison com desinteresse e perguntou se ele fumava. Alison negou. Perguntou se ele podia pagar determinada quantia, e Alison confirmou. Como se estivesse carregando um peso maior que o seu corpo, o professor se levantou. Pediu que Alison o acompanhasse e se dirigiu ao elevador.

No trajeto, Alison não viu nada além de avisos formais e pontos difusos de luz. Ao chegar à porta do apartamento, porém, ele sentiu que estava no lugar certo. O corredor era iluminado por uma janela e havia sandálias e tapetes nas outras portas. Era um lugar sossegado, do jeito que ele queria.

Dentro, o espaço era bastante reduzido. Uma estante abarrotada de livros, uma cadeira, um sofá de dois lugares e uma mesa de centro formavam a área social. De lá se via um balcão de refeições com uma banqueta velha. No outro lado do balcão tinha uma pia, um fogão de duas bocas e uma geladeira grande, algo que Alison não via havia anos. O professor explicou que gostava de guardar vegetais e potes com experiências científicas, por isso, mesmo a geladeira sendo grande, Alison não poderia ocupar mais de 15% da capacidade dela. Foi a única coisa esquisita que Alison notou naquele momento. Havia ainda uma máquina de lavar e um varal próximo a uma janela alta.

Do outro lado da sala, havia um pequeno hall e três portas. Uma era a do banheiro, branco e higienizado; a outra era de um quarto minúsculo, contendo apenas uma cama vazia e um armário velho de duas portas, e a terceira era do quarto do professor, e esse Alison não viu. O professor, sem fazer nenhuma pergunta, disse que Alison poderia se mudar no último dia do mês.

O rei está morto (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora