Capítulo 3

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"Se eu sei o que é o amor, é por sua causa."

Hermann Hesse

Era estranho ter retornado a este lugar em tão pouco tempo. O sol não poupava forças e a grama estava bem verde.

Passei a mão pelo focinho do cavalo do vovô e ele parecia ter se acostumado um pouco comigo. Poderia ficar ali o dia todo olhando pra ele. Era tão inocente, e eu sabia que ele sentia falta do vovô.

Sorri como se ele pudesse entender tudo o que eu queria transmitir a ele.

Ajudei papai a alimentar os porcos e depois deixei Priscila fazer o mesmo.

Recentemente descobrimos que vovô havia deixado a chácara para nós.

Ficamos muito felizes em descobrir que poderíamos sempre vir para esse lugar de sossego e poderíamos lembrar do vovô aqui. É claro que houve grandes conflitos implícitos na família para ver quem ficaria com a chácara.

Quando vovó descobriu que tinha sido deixada para nós, ela virou a cara. Isso é bem triste. Afinal, vovô se foi e olha só com o que as pessoas estão preocupadas. Sempre apegadas a algo material. A maioria queria vender a chácara, o que não é errado, mas nós queremos deixar ela como está. E sempre que alguém quiser ir nela, poderá.

Papai queria ficar com todos os animais, mas mamãe conseguiu convence-lo a ter bom senso para vender quase todos, afinal não ficaria ninguém para alimenta-los aqui. Íamos ficar com o cavalo, e Billy ia alimenta-lo pra nós.

Acho que também íamos ficar com as galinhas.

Robin estava muito animado com todo aquele espaço pra ele. Em casa ele não tinha muita opção.

Acho que nunca o vi tão feliz.

- Vem cá garotão. -Chamei abaixando.

Ele colocou as patas sobre a minha perna, mas estava mais interessado na natureza do que em mim. Não o culpo por isso.

Levantei libertando ele e o mesmo se foi.

A noite papai nos chamou para conversar e nos reunimos na sala. Ele começou a falar sobre o vovô, e era impossível não chorar.

- Ainda é estranho para a gente se acostumar com a ideia de que ele se foi. Ele estava aqui, ficou nessa casa por tanto tempo e agora ele se foi. Eu o admirava tanto pela forma como ele levava a vida dele, o amor que ele tinha, a disposição. Sempre nos recebeu, sempre ajudou, foi te visitar no hospital. -Disse papai se referindo a mim.

Assenti e derrubei mais algumas lágrimas na camiseta.

- Ele teve uma vida abençoada. Com a morte repentina dele eu fiquei pensando: em que ilusão vivemos pra achar que teremos muito tempo aqui? Nós nunca sabemos quando vamos morrer. O bisavô de vocês não sabia, assim como nenhum de nós. No entanto ele sempre se esforçou e abençoou a vida de muitas pessoas. Eu não tenho dúvidas da onde ele está. E nós precisamos ter certeza pra onde nós vamos também.

Me arrepiei e comecei a pensar em todos os planos de Deus pra minha vida. Pensei em todo caminho que trilhei e para onde ele me levava.

Todos nós nos abraçamos mantendo uma chama acesa.

No dia seguinte, estávamos de partida, pois já tínhamos conseguido resolver algumas coisas.

Robin entrou no carro e mamãe fechou a porta. Ele estava ofegante e com a língua pra fora, mas como era um cachorro obediente, estava quietinho em seu lugar.

Acariciei seu pêlo e disse:

- Nós vamos voltar. Eu prometo.

Priscila deitou a cabeça em meu colo e fiquei entre os meus dois bebês. Priscila, que amei desde o início, e Robin que aprendi a amar.

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