Capítulo 14

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"Ser feliz é uma responsabilidade muito grande. Pouca gente tem coragem."

Clarice Lispector

Eu tinha ordens restritas para não falar sobre o Tiago e a Amanda para ninguém, por mais que eu quisesse contar para Clara ou para o Ben. Bom, ainda não era nada de mais, Tiago apenas estava gostando dela, ainda fazia pouco tempo que os dois se conheciam. Ele não me dava muitas informações sobre o que eles conversavam ou sobre como andava as coisas entre eles, mas eu só espero que dê tudo certo.  Amanda é uma garota muito animada e cheia de vida, o que Thiago precisava. Thiago também era um  bom amigo, só não era muito delicado, mas com certeza ele era com ela. Todo mundo age um pouco diferente com quem gosta. Ou trata mal para que nada fique evidente.

Entrei no ônibus e logo escolhi um bom assento enquanto apenas estava dando o dinheiro ao cobrador. Peguei minhas moedas e me sentei. Olhei pela janela até que o ônibus parou e eu observei quantas pessoas entraram no ônibus para saber se o mesmo ficaria muito cheio. Eu sempre fazia isso. Uma moça passou rápido pela catraca, seu rosto estava meio vermelho. Não vermelho do sol, mas vermelho de quem tinha chorado muito. Ela se sentou do meu lado e eu não achei que era por acaso.

Fiquei um tempo em silêncio pensando no que diria. Por fim, optei pelo básico:

- Está tudo bem?

Ela olhou para mim surpresa por eu ter reparado, apesar de seu rosto deixar evidente que algo tinha acontecido.

- Estou sim. Vai ficar tudo bem. Obrigada por perguntar. - ela exibiu um sorriso no final. 

- Tem certeza? Não tem problema se quiser conversar. Isso ajuda. 

- Eu sei. - disse ela concordando com a cabeça - Eu sei, é só que, - ela mordeu os lábio inferior para segurar o choro que em rebeldia descia - me desculpe!

- Tudo bem, fica tranquila. Pode colocar tudo pra fora.

-  É que quando eu penso eu volto a chorar. 

- Sei como é. Mas isso é bom que você solta tudo sem reter nada. Alivia.

- Eu só gostaria de estar em casa. 

- Logo vai estar. - comentei com um sorriso - não vai?

- É, vou sim. 

Ela suspirou retomando a calma e uma respiração mais profunda. 

- Tudo bem? Que conversar agora?

- Não, tá tudo bem, me desculpa mesmo, não queria te incomodar. 

- Não peça desculpas por chorar, todos choram, a diferença é que você chorou no ônibus. Todos passam por dificuldades, todos sofrem um pouco e com você não seria diferente. Não quero que se sinta obrigada a falar, mas fazer isso pode curar. 

- Eu nem falei e você já está me ajudando.

Soltei um sorrisinho e estava sentindo que daqui a pouco ia chorar com ela. 

- Mas fica tranquila, não é nada demais. Obrigada, por tudo. Ninguém faria isso. - disse ela.

 Só aquilo já me fazia ter uma alegria imensa no peito e a sensação de que valia a pena viver o amor que Cristo nos ensinou.

- Jesus faria e por isso eu faço.

Ela me fitou como se estivesse encantada. 

- Eu não sabia que era cristã. 

- Se eu não fosse, não teria feito isso. Quer dizer, eu não teria motivos pra fazer isso. Provavelmente estaria mais preocupada comigo mesma.

- Você falando assim me faz pensar que eu sou um pouco egoísta. É horrível admitir isso mas é a verdade. 

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