Os últimos dias

250 11 3
                                    

Uma das piores coisas sobre câmaras de regeneração é que o líquido curativo não cheira nem um pouco bem. Aliás, cheira mal à beça. A única coisa que eu conheci na vida com um cheiro parecido é o inseticida que mata baratas andarianas nas instalações de gado da fazenda do meu tio-avô Kakarotto. E olha que baratas andarianas são do tamanho de um punho, para mata-las o produto químico tem que ser bem forte.

Sair da câmara de regeneração pede um banho prolongado, se você não quiser ser apelidado de mascote do lixão. Pelo menos essa era uma das vergonhas possíveis de se passar na Academia que eu não tinha no currículo: meus banhos eram sempre demorados e quando eu saía do departamento médico, eu sempre caprichava mais.

Por isso, eu saí da enfermaria, tirei totalmente a roupa e me deixei ficar sob o jato d'água por um bom tempo, sentindo a água se infiltrando nos meus cabelos e minha mente se esvaziando aos poucos das fortes emoções daquele dia: a corrida no começo do exame, onde eu me saíra razoavelmente bem, o exercício de infiltração silenciosa, em que eu conseguira escapar de ser vista e, finalmente, a corrida de esquiva, onde eu naufragara.

Quem eu queria enganar, afinal? Como soldado eu me achava uma bela fraude.

Eu já estava há quatro anos na Academia Sayajin, minha mãe mexera com céus e terra para que eu fosse aceita, assim mesmo, eu era medíocre. Eu escapara de ser um bebê de infiltração porque a família de meu pai tinha uma ocupação e se prontificara a me aproveitar no negócio da família caso eu não prestasse para mais nada.

Eu estava imersa em toda minha autopiedade, sentindo-me insignificante, quando outros soldados começaram a sair das câmaras de regeneração e vir para os chuveiros. Eu não me importei em estar nua, afinal, desde muito cedo os banhos eram coletivos, e, ao contrário de muitos povos, pelo que eu estudei, os sayajins consideram a nudez como algo normal e até mesmo separado da sexualidade.

Mas a companhia que eu ganhei não me agradou nem um pouco. Precisamente quando eu havia acionado a alavanca de espuma detergente, duas garotas entraram nos chuveiros ao lado e nós continuamos nos ignorando educadamente, embora as duas conversassem entre si. Se eu não estivesse coberta de espuma, teria saído dali imediatamente.

Onia e Sellary eram duas sayajins da minha idade, porém bem mais altas e muito mais fortes. Nenhuma das duas era de terceira classe como eu, e deviam ter chegado ao fim do exercício com poucos ferimentos, mas não falavam do exercício. Sellary havia tomado a "injeção" havia pouco mais que 15 dias, fazendo questão de dizer isso aos quatro ventos, acionando uma chuva de "bem intencionados" para ter a sua primeira vez com ela. Aparentemente, no entanto, continuava tão virgem quanto eu.

- Mas ele te rejeitou? – Perguntou Onia, e Sellary sacudiu a cabeça afirmativamente. Liguei novamente o chuveiro para sair o mais rápido dali, não queria ouvir o desfile de intimidade das duas garotas mais arrogantes da turma.

Não é considerado ruim humilhar os mais fracos quando se é um sayajin, e aquelas duas adoravam humilhar e provocar o choro de quem elas não gostavam ou consideravam fraco. Por incrível que pareça, suas provocações e ofensas jamais haviam me atingido, porque eu sabia exatamente o meu grau de incompetência e já não me importava mais. E eu acho que havia chorado todas as lágrimas da vida quando meu pai morreu, sete anos antes.

Então, enquanto terminava meu banho, eu não me importava com elas e nem elas comigo. Até que fechei o chuveiro e percebi, sem querer, o tom indignado de Sellary:

- Então, ele disse que não fazia questão nenhuma de ser o primeiro de ninguém, e que eu deveria me importar mais em estar preparada para o exercício de hoje do que em fazer sexo pela primeira vez. E aí ele disse que eu não era bem vinda ao quarto dele porque estaríamos competindo em times diferentes! E me pôs para fora.

Sonhadora - A História de GineOnde histórias criam vida. Descubra agora