Satisfazer e Pensar

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Em uma sala no subsolo do palácio, o Duque pacientemente me dava aulas sobre como devo me portar, vestir, falar, agir e até mesmo sorrir na frente da nobreza. Eram muitas regras e detalhes sobre disciplina e confesso que fazer parte desse mundo tão mesquinho parecia ser bem mais fácil nos contos de fada pois tudo se resolvia com um simples toque de mágica da fada madrinha.

Bom, acho que na minha realidade o Duque pode ser titulado como minha fada madrinha.

— Sente-se com graça e postura, e sempre irá andar com as senhoras de respeito de Bruges. E uma coisa sobre a rainha, apenas fale se ela falar contigo.

Eu segurava um pequeno caderno de anotações e registrava as coisas mais importantes que o homem ditava.

— Obedeça e respeite seu marido em tudo! Em hipótese alguma seja contra ele, principalmente na frente de outras pessoas. Você tá aqui para servi-lo e satisfazê-lo e não para pensar.

Por que para os homens as mulheres são tão descartáveis? Somos tão úteis como eles, somos tão boas como eles, somos tão fortes como eles, somos até mesmo mais inteligente que eles e nem pelo futuro rei da Bélgica eu vou abaixar a minha cabeça ou me tornar submissa.

— E Anna? Ela te satisfez como você queria? — apenas disparei essas palavras sem pensar, mas não me arrependo. Não sei ao certo se ele é o Jimin que ela procura, mas algo me diz que não me engano sobre ele.

— Não sei de quem fala senhorita Francois, podemos voltar às aulas? — seu nervosismo é nítido, ele pode até ser um cafajeste mas é um péssimo mentiroso o que é bem contraditório.

— Sei que não está me dando aulas por amizade ou por que gostou da minha cara mas sim por que foi um pedido do príncipe. E a última coisa que eu deveria fazer é perguntas sem nexo ao nosso objetivo mas se você for o Jimin que ela procura, fale com ela o mais rápido possível. — ele apenas absorve minhas palavras e pega um pequeno caderno de couro preto e coloca sob a mesinha.

— Aqui estão algumas frases e comprimentos importantes em grego. Se tiver dúvidas iremos esclarecer tudo na próxima aula, até breve senhorita Francois. — ele faz uma reverência e saí do pequeno cômodo que estávamos trancafiados a longos minutos atrás.

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Angélica encarava-me sem reação, tudo parecia um conto fictício e que cada palavra que lhe disse apenas havia saído de minha imaginação como sopros ao vento. Obviamente lhe contei os detalhes mais importantes e deixei os pontos irrelevantes para outro momento.

— Já que em breve se tornará a rainha de Bruges, ficarei feliz em servi-la — ela se curva e eu gargalho.

— Prometo não ser uma Charlotte.

— Sabes qual roupa irá vestir no baile? Falta apenas dois dias. A corte real com certeza chegará amanhã ao entardecer.

Arregalo os olhos e lembro-me que tenho que pegar alguns vestidos no ateliê da minha madrinha. Mas Élea, a governanta, tem reclamado dos meus sumiços repentinos.

— Não posso sair do palácio, Élea está desconfiada de mim. Não posso perder esse trabalho ainda.

— Falando no diabo de saia, duvido muito que o rei e a rainha lhe conheçam mas Élea não posso dizer a mesma coisa...

Angélica tem razão, no momento em que eu pisar no palácio alegando ser uma herdeira de um general ela irá me desmascarar. Preciso falar com o príncipe sobre isso, mas antes preciso pensar em algo para pegar os vestidos.

— Angélica pode me fazer um favor?

— Diga.

— Pode ir no ateliê do vilarejo, a costureira é a minha madrinha diga a ela que pedi para você pegar para mim.

A garota suspira e diz;

— Certo, mas só posso ir quando estiver de noite, não posso ir por agora.

Concordei e voltei ao meu trabalho junto com Angélica, com a chegada próxima da corte a rainha ordenou que arrumassem todos os quartos. Iríamos ter muitos hóspedes, e com o baile era mais trabalho ainda.

Era jogos de camas para lá, pertences chegando e exigências também. Como velas aromáticas ou pedidos de comidas específicas. Estava tão perdida pelos corredores que acabei por esbarrar em alguém que quase foi ao chão.

Ao prestar mais atenção nesse alguém, percebo ser uma jovem moça, de traços asiáticos e ela me lembrava muito alguém.

— Perdoe-me. — ajudei ela a se recompor, pelas suas vestes deve ser da nobreza.

— Não tem importância... — Ela diz calma, ela limpa seu vestido rodado e aos seus pés vejo um livro.

Abaixo-me pegando o livro e tento ler o que estava escrito em sua capa, mas tenho dificuldade. Não é muito comum as moças daqui lerem, e aprendi o básico com a minha mãe.

— Sabes ler? — ditei entregando o livro para a garota de volta.

— Sim, mas por favor não conte a ninguém que me viu com isto. Não é bom que saibam disso. — é como o Duque disse, estamos para satisfazer e não pensar, uma garota de boa família que saiba ler era mal visto.

Apenas os homens poderia ter acesso a tal regalia.

— Adoraria saber ler igual a senhorita... — sorrio minimamente tendo a curiosidade de ler as belas palavras que tais autores escrevem com tanta delicadeza.

— Se quiser posso lhe ensinar. — ela sorri.

Antes que eu pudesse lhe responder, outro alguém nos interrompe.

— Ji-hye! O que fazes falando com esta? — a mulher com o vestido dourado e joias que poderiam comprar o vilarejo que mora vem em nossa direção. E sua feição pouco agradável indica sua irritação.

Posso dizer que esta mulher é a rainha Charlotte, e Ji-hye sua filha mais jovem.

𝚃𝚘 𝚋𝚎 𝚌𝚘𝚗𝚝𝚒𝚗𝚞𝚎𝚍...


Meu Doce Rei "Imagine Jungkook"Onde histórias criam vida. Descubra agora