Capítulo 38 - O intruso

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Scarwinton, dia da fuga de Sophia


O toque leve de uma mão sobre a sua a trouxe de volta à realidade.

Estavam no longo corredor do térreo. Sophia mal percebera o percurso que fizeram, assim como também não percebeu que sua mão estava sobre os lábios, arrancando as pelinhas secas. A mão de Trevis abaixando a sua foi o que a despertou.

– Está tudo bem. – Disse ele, em um tom tranquilizador, tentando colocar os braços nos ombros dela. Ela se afastou sutilmente, como sempre fazia. Queria dizer, enquanto andavam apressados e silenciosos pelo corredor, que nada jamais estaria bem novamente, mas Trevis e os amigos já estavam com uma expressão bem triste sem ela ter que recordá-los de que corriam perigo.

O corredor principal da Ala, por onde passavam, era largo, quase como um saguão. Grandes lâmpadas nas paredes lançavam uma luz forte e azulada sobre o grupo, assim como nas portas automáticas que levavam a outros lugares. Sophia tinha a impressão de que estavam cruzando um palco, as lâmpadas eram os holofotes. Isso explicaria a sensação de estar sendo observada por centenas de pares de olhos. As poucas sombras nos cantos do vasto corredor poderiam ser a plateia, se escondendo, esperando o momento certo para pega-la...

Pare, afaste esses pensamentos...

Mas por mais que os afastasse, eles retornavam, uma paranoia sem limites, afinal estava realmente em perigo. Seus amigos também, e por culpa dela.

De acordo com Amanda, quando um Desequilíbrio era detectado, os Interhumanos mandavam uma equipe especial para caça-los e extermina-los imediatamente. Essa equipe era chamada de Equilíbrios.

E agora eu sou um Desequilíbrio, devo ser exterminada.

E por mais que sua situação fosse inimaginávelmente ruim, o que Amanda dissera em seguida foi pior ainda.

Amanda lhe explicara que, ao persuadir os outros a seguirem sua trilha de pensamento rebelde, tal rebeldia que não fora prevista pelos cientistas, ela podia muito bem ter colocado os amigos em uma situação que também não havia sido prevista, criando Padrões Pré-Estabelecidos na mente deles que possivelmente resultariam em ações prejudiciais à Noworldland, uma vez que tais padrões haviam sido criados através de uma ideia rebelde. Em suma, eles poderiam ter se tornado Desequilíbrios, e tudo por causa dela, da sua influência.

Não se preocupe, Amanda tentara acalmá-la, mas as lágrimas que não paravam de descer a denunciavam, não teria como se acalmar, desde a Segunda Rebelião, 10 Ciclos atrás, que isso não acontece. Eles podem deixar você em paz, e seus amigos também. Não há provas de que vocês realmente se tornaram Desequilíbrios.

E como eu vou saber se sou ou não um Desequilíbrio?, ela perguntou, desesperada.

Quando você souber, se souber, já será tarde demais.

Dessa vez, as duas se perderam em meio às lágrimas. Algumas pessoas se aproximaram para ver se estava tudo bem, mas elas se afastaram. Era constrangedor demais chorar em público, mas não conseguiram evitar.

Depois de muito tentar falar, em meio aos soluços e em meio à mata artificial fechada e remota do parque onde se encontravam, Amanda conseguiu explicar que nem mesmo a PAES sabia se ela se tornara ou não um Desequilíbrio.

Somente o Núcleo, os 5 Interhumanos que governam Noworldland e a Segunda Sociedade, incluindo o Pai e Slector, sabem. Os Equilíbrios chegam quando todos menos esperam, e a chacina começa.

Agora, enquanto seguiam em direção à saída da Ala, Sophia olhava os amigos deprimidos, lançando olhares nervosos em direção às sombras dos outros corredores, com a mesma paranóia que ela. Não precisava perguntar o que Amanda havia lhes contado, se estavam fugindo na madrugada significava que seus medos haviam se confirmado. Eram Desequilíbrios, e estavam na lista de extermínio do Núcleo.

Noworldland, A Terra de Mundo NenhumOnde histórias criam vida. Descubra agora