Capítulo 17 - S no peito

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Slector deixou a chuva do lado de fora, assim como as lembranças inquietantes, ao entrar no Complexo Projeto.

O amplo salão iluminado estava apinhado de gente, como sempre. Do lado esquerdo das grandes portas de entrada a parede ostentava uma tela gigantesca exibindo um traje simples. Ao lado dele, explicações das funções e peças eram ligadas através de setas indicativas à parte correspondente na roupa.

Na parede do lado direito o espaço havia sido reservado para o Projeto Consciência Artificial. Uma tela mostrava em slides prédios e casas com a capacidade de pensar por si só, assim como administrar os afazeres domésticos. Os dois Projetos que haviam sido liberados para a massa depois de passarem pela CIHI atraíam a atenção de todos que visitavam o Complexo, deixando a instalação tecnológica de Slector parecida com um museu.

Enquanto passava por entre as pessoas, em direção ao elevador que o levaria ao seu escritório, Slector viu que uma confusão acontecia na bancada da recepção, em frente a entrada. Ele se aproximou para ver o que acontecia.

– ... como assim não sabe do que estou falando? Eu exijo ver o diretor do Complexo. Onde ele está?

A voz vinha de um homem grande, musculoso. Usava um Traje amarelo. Sua mão grande e dourada estava espalmada sobre a bancada de mármore, como uma estrela do mar banhada pelo sol.

– Senhor, o senhor Slector ainda não chegou. O horário dele é às 9, ainda faltam 5 minutos.

A recepcionista era Zambia, uma humana, descendente dos povos da antiga África.

Quem é esse homem e o que ele quer comigo? Slector se perguntou.

– Queira você entender, senhorita. O assunto que tenho para com ele é de extrema importância.

– E que assunto é esse? – A voz de Slector se fez ouvir, como saída da boca de outra pessoa. As pessoas ao redor viraram as cabeças e olharam para ele, dando espaço para que se aproximasse da recepção, ansiosos – quem você acha que é para entrar no meu Complexo e fazer uma algazarra dessas?

Toda sua imponência como Interhumano e como líder temporário de Nowordland estava presente na sua voz e no andar empertigado.

O homem se virou. Slector o reconheceu de imediato, era da Elite Interhumana. Mas não foi o Traje Elitista que o ajudou a reconhecer o homem, mas sim seu rosto quadrado e sério, com urgência no olhar. O Traje dele não estava no Modo Combate e seu rosto estava desprotegido. Na linguagem dos soldados aquele gesto significava paz.

Mas por que o motivo da algazarra?

O Elitista era Joss, um dos três integrantes do esquadrão principal da Elite. O S dourado na forma de um raio brilhava nas luzes artificiais do saguão, ficando momentaneamente branco como prata, branco como...

Platina, Slector se recordou, mas afastou aquele pensamento. Aquela cor não tinha mais lugar em nenhum lugar, não mais.

Joss se aproximou dele.

– O que você quer? – Slector perguntou, mais calmo agora, ao ver que o homem era da Elite. Estava sob seu comando, à essa altura o Pai já devia ter informado a Elite sobre a mudança temporária de líderes. Ainda assim o motivo de ele estar ali era tanto quanto misterioso, e deixava o Inventor apreensivo – O que o traz aqui?

Foi quando a confusão teve início.

As luzes de emergência começaram a piscar, transformando o saguão em uma boate vermelha, apesar da música ser apenas o estridente som do alarme. As pessoas se desesperaram, correndo de um lado para o outro, procurando um lugar para se esconder, mesmo sem saber qual era a verdadeira ameaça.

Noworldland, A Terra de Mundo NenhumOnde histórias criam vida. Descubra agora