Carol despertou às 7 da manhã, como de costume. Esfregou os olhos verdes e pequenos com as palmas das mãos, deu um suspiro e levantou-se para tomar o café da manhã. Das refeições do dia, esta era a mais completa. Não porque ela se importasse com as instruções de nutricionistas e magos das dietas, mas porque era a mais fácil : cereal com leite, pão de forma com queijo e suco.
Levou o copo de suco até os seus lábios também pequenos e o sugou em pequenos goles. Sintonizou o rádio em sua estação predileta no volume mais alto que uma manhã de trabalho pudesse suportar, colocou a louça na máquina de lavar e foi tomar o seu banho.
Para ela, o banho era a parte favorita no processo entre acordar e estar a postos em sua mesa de trabalho. A água quente e forte massageando o seu corpo, os aromas dos sabonetes, shampoos e óleos de banho, tudo se misturando ao vapor da água que subia lentamente e escapava pela pequena janela do box que tinha uma das melhores vistas da cidade : o grande rio que a cortava como uma artéria furiosa irrigando seus habitantes. Estranhamente, era no banho que tinha várias de suas ideias para as campanhas de marketing que desenvolvia na agência de publicidade em que trabalhava.
Pegou o shampoo da sua marca favorita, a Sassy Cosmetics, para massagear os cabelos. A Sassy era seu cliente na agência. Uma empresa que tinha como filosofia a cosmética natural, artesanal e que não testava seus produtos em animais. Abriu a tampa do pote de shampoo pastoso, puxou um pouco do produto com os dois dedos e antes que pudesse colocar em seu cabelo, paralisou. Seus olhos fixaram-se em uma imagem: um pequeno selo colado na embalagem. Era uma figura humana. Logo abaixo do pescoço percebeu que havia uma frase escrita. Aproximou o pote para poder ler quais eram as palavras: "este produto foi feito por Arusi". Franziu o cenho, a água quente continuava a escorrer em suas costas. Voltou-se novamente para a imagem e observou um rapaz negro, sorrindo. Fitou-o por um tempo. O suficiente para perceber que aquele era um momento de epifania. Criativa que era, a partir dali uma série de ideias começaram a brotar em sua mente. Sentiu pequenos choques em seu cérebro como se fossem fogos de artifício explodindo. Reconhecia aquela sensação, já a tinha tido em outras ocasiões em que as ideias para as campanhas dos clientes tinham sido absoluto sucesso. E percebeu que mais uma vez a sorte estava ao seu lado e que ninguém melhor que ela para aproveitar aquele momento. Deu um sorriso triunfante. Deixou o pote inteiro de shampoo se espatifar no chão, saiu do banho mal tendo tempo de secar os cabelos e seguiu para o trabalho.
Carol finalmente tinha encontrado o mote da campanha para a Sassy, sua empresa de cosméticos favorita! Começou a imaginar como seria se entrevistassem as pessoas que trabalhavam naquele produto, suas vidas, sua cultura, suas ideias. Colocar um rosto por traz da companhia! Aquilo era genial! Humanizar, conscientizar o consumidor, aproximar as pessoas. Isso tinha tudo a ver com a Sassy e eles iriam adorar! Ela arrancou o selo com a sua unha esmaltada e guardou-o na bolsa para que pudesse pesquisar sobre a tal figura humana estampada no selo de suposto nome Arusi.
Começou a imaginar como seria a campanha. Para apresentar essa ideia que considerava tão brilhante, precisaria conhecer um pouco do mundo daquelas pessoas que preparavam um a um os produtos que seriam utilizados por milhões de pessoas no mundo inteiro. Será que elas tinham a consciência de que o consumidor final se atentava para aquele pequeno selo com um desenho pobre de seus rostos colado na embalagem? Apostou que não, e enxergou a beleza de apresentar ao seu consumidor quem era de fato o seu "artesão particular". Como seria a vida desse tal de Arusi que preparava o seu shampoo? Será que ele realmente existia? Aonde será que vivia? Será que ele estava ciente de que o seu rosto sorridente estava rodando o mundo inteiro e eventualmente ajudando profissionais de marketing a desenvolverem campanhas que trariam milhões para o seu cliente?
Carol era uma profissional de campo. Ela precisaria fazer uma pesquisa sobre isso para preparar um material consistente e seguir com a apresentação da ideia ao seu cliente.

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O Lago dos Elefantes
Ficção GeralCarol é deliciosamente impetuosa e tem uma carreira profissional brilhante na metrópole. Após uma epifania decide repentinamente viajar à Namíbia no intuito de investigar uma das fábricas de seu cliente, a Sassy Cosméticos, para desenvolver uma nova...