- Madame! Não aguentou ficar longe dos ares Namibianos? Bem-vinda de volta, vai morar aqui? – Angalia abriu um sorriso largo e também os braços ao buscá-la no aeroporto. O sorriso ela retribuiu, o abraço não, pois ficou encabulada. Tocou os ombros do motorista e entrou no carro. – Destino de sempre?
- Sim, vamos direto para a Sassy. Quero encontrar Arusi na saída de seu expediente.
- Não está usando óculos escuros, Madame?
- Acho que não preciso mais. Me acostumei com a claridade da vida – disse com um sorriso pensando em sua transformação interior.
A cena se repetiu com ela aguardando a sua saída. Mas desta vez era diferente. Ela não teria que se apresentar, nem inventar histórias malucas e muito menos ter a atitude bizarra de mostrar um papelzinho com a imagem dele retirada de um shampoo.
Na hora certa, lá estava ele. Destacava-se de todos os outros trabalhadores. Altivo, confiante.
- Arusi !
Ele olhou em direção a ela e num primeiro momento não a reconheceu. Deu alguns passos em direção à voz que lhe chamava e bum! Lá estava a maluca atrás dele novamente.
- Carol, o que você está fazendo aqui?
- Vim te fazer uma proposta. A campanha não deu certo. Acho que não era para ser. Vim direto de New York, dormi no avião. Vamos jantar? Te dou uma carona até Swakopmund e conto o que aconteceu.
Arusi sentiu uma certa pena pelo projeto não ter dado certo. Ele enfim simpatizou com aquela forasteira maluca e viu o seu empenho para que tudo funcionasse. Decidiu aceitar o convite e sentou-se ao lado de Angalia
- Não achava que fosse me ver tão cedo, né, Arusi? – disse o motorista.
No caminho, Carol contou tudo o que aconteceu na agência. Sua decepção, seu novo chefe, a reação do cliente e a intromissão de Raquel em seu projeto. Ele ficou surpreso com a saída dela da agência.
Já estavam acomodados no restaurante de sempre e Marie anotou os pedidos para o jantar.
- Você está diferente – ele comentou.
- Diferente como? – ficou curiosa.
- Não sei, alguma coisa, não sei explicar. Sua aura, seu semblante – ele percebeu que algo mudou. E complementou :
- Em uma semana, aconteceu na sua vida o que não acontece em um ano na minha vida.
Carol viu o gancho perfeito para a sua proposta e aproveitou:
- Quer mudar isso?
- Mudar o quê?
- Isso, a sua rotina.
- Não, obrigado, a minha rotina está ótima.
Carol pegou na mão de Arusi e olhou firme em seus olhos:
- Arusi, tenho uma proposta irrecusável para você. Vamos montar uma empresa de cosméticos com a sua irmã. Visitei a produção dela e achei sensacional! Acredito que podemos criar uma marca consistente com produtos cem por cento naturais, sem agressão ao meio ambiente, sem teste em animais.
- Mas a Sassy já faz isso – observou ele
- Mas a nossa será genuína! De coração! O mundo precisa disso, é uma pena a Meke esconder aquele tesouro em sua aldeia – demonstrou a sua emoção através da voz embargada, fato que Arusi notou.
Ele ficou um pouco confuso e apreensivo. Desvencilhou lentamente as suas mãos da dela. Não sabia muito bem o que dizer.
- Olhe, Carol, respeito muito a sua vinda até aqui. Acho você uma mulher muito corajosa, inteligente, teimosa – este último em tom paternal – e como não poderia deixar de dizer, criativa. Mas esse negócio que você está me falando está muito distante da nossa realidade. Exige dinheiro, pessoas, estrutura, aliás quem sou eu para falar de tudo isso, você sabe melhor que eu. Além disso, gosto da Sassy, não tenho porque sair. E quanto à Meke, ela decidiu voltar para a família, para as suas raízes e está muito bem lá.
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O Lago dos Elefantes
Fiksi UmumCarol é deliciosamente impetuosa e tem uma carreira profissional brilhante na metrópole. Após uma epifania decide repentinamente viajar à Namíbia no intuito de investigar uma das fábricas de seu cliente, a Sassy Cosméticos, para desenvolver uma nova...