Prólogo

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Estava escuro e a chuva caía desalmada. A terra estava em lama desfeita e as trovoadas faziam-se ouvir com uma força estrondosa, as luzes ofuscantes dos raios não estavam longe dali, via-se tudo apenas a alguns quilómetros dali. As árvores dançavam com o vento forte e a brisa fresca assobiavam aos ouvidos a pedir ajuda e conforto. O céu escondia o brilho do sol por trás das negras nuvens ameaçadoras. Estava um ambiente pesado, não se via sinais de vida, nem mada nem ninguém. Não era normal este tipo de comportamento da natureza naquele lugar, o vento nunca tivera tão forte e o som nunca fora tão ensurdecedor.

Uma menina de seis anos andava perdida no meio daquele bosque perigoso no meio de vários seres de olho numa presa com sangue quente a correr pelas veias, pura e forte. Rodeada de perigo e vulnerável a todo o tipo de animal, ela podia ser apanhada! Lobos, javalis, raposas. Andava assustada e desorientada, mas mesmo assim não chorava, porque sabia que mais tarde ou mais cedo iria encontrar a sua casa, uma simples menina corajosa e de alma firme e forte. Esperança, ela destilava esperança de encontrar algo para se salvar. Uma simples menina pequena e frágil tinha uma alma grande, uma alma corajosa e controlada. Nunca fora sua intenção estar ali naquele momento, estava preocupada com o que a sua mãe iria pensar quando descobrisse que ela tinha desaparecido. Não se tinha apercebido que se tinha perdido enquanto descobria mais um pouco do mundo há sua volta, não tinha culpa.

Ela possuía um vestido branco com uma fita azul que acabava com um laço atrás, não era rico nem fino, mas mesmo sem isso não deixava de ser bonito. O seu cabelo era ruivo fogo, despenteado e apanhado com uma trança que acabava a meio das costas. Pura.

Desistiu de correr com o cansaço que a invadiu, havia vagueado durante algumas horas, procurando abrigo, mas parecia que não tinha fim. Levantou a cabeça e viu no meio das folhas escuras e molhadas uma casa grande, monótona e arrepiante que a chamou atenção. Encheu o peito de ar e bravura e, com o fôlego que lhe restava, correu até ao encontro daquela grande mansão.

Afinal não tinha encontrado o seu lar como pensara. Era uma casa grande, assustadoramente grande que se encontrava à sua frente. Em comparação à sua casa podia ser um palácio, que era apenas uma simples casa de camponês partilhada por 7 pessoas. Sem se deixar desiludir passou entre as grades largas do portão que se encontrava à sua frente. Seguiu um caminho de pedras perfeitamente alinhadas por tamanhos e cores em vários tons de cinzentos, que guiava até ao alpendre seco com uma grande porta castanha escura. Dava pequenos passos cautelosos olhando sempre para todo o lado, tentando detetar algum perigo iminente.

A criança cansada de tanto correr deitou-se num tapete que havia à sua frente da grande entrada e agarrou-se bem ao coelho de peluche que havia trazido em suas mãos, esperando que alguém a viesse buscar depois da tempestade passar.

Adormeceu.

O dia amanheceu com os cumprimentos dos primeiros raios de sol e o cheiro a erva molhada. As cortinas vermelho morto foram abertas para deixar a luz beijar as janelas e invadir a casa como um mar de paz iluminado. Os mochos deram lugar aos cantos dos pássaros e o vento da noite anterior tinha cesado. A porta abriu-se e apareceu um jovem alto de cabelo preto e olho azul como o mar. Estava vestido para ir à praça comprar o seu pão matinal para o pequeno-almoço.

Reparou que havia algo a bloquear o seu caminho no tapete. Era uma pequena menina toda enroscada sobre si com um pequeno boneco de peluche gasto nos braços, tentado se proteger dos ventos frios da noite. Estava pálida, mas ele sabia que não era só por ser de etnia ruiva.

Baixou-se para comtemplar aquela criança magnífica e sincera. Pôs a mão no ombro do pequeno ser, estava fria e tremia levemente tal como ele suspeitara.

Abanou-a para acordá-la.

- Olá - A sua voz soou suave como o toque de um grão de pó - De onde vieste pequena flor?

A menina despertou e ainda com os olhos embaciados olhou para o rapaz que a tinha acordado. Quando a visão se tornou mais nítida assustou-se e afastou-se alguns passos.

- Ei, eu não te faço mal - Estendeu-lhe a mão - Anda, vem comigo à praça que eu compro-te qualquer coisa quentinha para comeres.

Estava esfomeada.

A menina cautelosamente aceitou a sua mão pelo desespero.

- Como te chamas?

Não obteve resposta.

- Então não me queres dizer é?

Voltou a ouvir o som do silêncio.

- Então serei eu que te darei um nome.

Laços perdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora